Economia

ARX não crê que meta de superávit de 2% será cumprida

São Paulo - A economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, recebeu com descrença o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015, encaminhado nesta quinta-feira, 15, ao Congresso Nacional. O governo anunciou que o setor público fará um esforço fiscal mínimo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano. "Não se sabe nem se a meta de 2014 (de 1,9%) será cumprida, já que os números de primário que tivemos em janeiro e fevereiro surpreenderam negativamente", afirmou. "Como temos pouca confiança no superávit de 2014, fica difícil pensar que o número de 2015, ainda maior, será cumprido."

De acordo com o texto da LDO, o piso de 2% para a meta fiscal em 2015 leva em consideração o abatimento máximo de R$ 27,8 bilhões de despesas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e das desonerações tributárias, valor menor do que o abatido em anos anteriores e que representaria 0,50% do PIB. Solange, no entanto, questiona os números apresentados. "Já vimos no passado o governo mudar o abatimento possível ao longo do tempo para incluir desonerações e outras coisas que antes não estavam previstas, então não posso dizer que é crível uma previsão de abatimento menor", explicou. Segundo ela, se for confirmado um cenário econômico complicado no segundo semestre de 2014 e principalmente no início de 2015, a equipe econômica pode "sem pudor" aumentar o abatimento e mesmo diminuir a meta de superávit.

Estimativas irreais

A economista-chefe da ARX também chamou a atenção para as estimativas macroeconômicas apresentadas no projeto da LDO. De acordo com o documento, o governo estima que o crescimento da economia em 2015 será de 3%, com uma inflação de 5%. "A meta para o PIB de 2015 é muito maior que a do mercado, então na prática a previsão de arrecadação não deve se confirmar", disse. "Para fechar a conta do primário, teria que haver um corte de gastos. Agora não há ambiente para isso e no ano que vem não sei se haverá vontade política."

Para Solange, a previsão para a inflação de 2015 é "completamente irrealista", levando em conta que este ano o IPCA deve fechar acima de 6% - a expectativa da ARX é de 6,5%. "A inflação do ano que vem não pode ser de 5%, a não ser que o governo continue com a política de represamento de preços, e daí o primário seria pior, porque o governo teria que subsidiar setores como o de energia", afirmou. "Não dá para ter as duas coisas ao mesmo tempo, primário maior e inflação menor. O governo sinalizou isso, mas não é possível."

Segundo ela, o anúncio de hoje não deve fazer preço no mercado nem influenciar o possível rebaixamento da nota de crédito do Brasil por parte das agências de classificação de risco. "Tirando a Standard & Poor's, que já deu o rebaixamento, as outras agências estão esperando para ver qual vai ser o novo governo e qual vai ser a política econômica dele", disse. Solange acredita que a dúvida do mercado sobre 2015 continua. "Não se pode ter confiança na equipe econômica atual. Se o projeto de hoje foi uma tentativa de aumentar a confiança, não funcionou."

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