Economia

Indústria capixaba discute alternativas ao racionamento de energia no país

Durante seminário, serão apresentadas propostas para o setor industrial, com temas como eficiência energética, tarifação de energia, microgeração e autogeração

Racionamento de energia no país será debatido nesta terça Foto: Agência Brasil

O Sistema Findes, por meio do Conselho Temático de Energia (Conerg), promove nesta terça-feira (02) o seminário Redução do Custo de Energia – Soluções Práticas para a Indústria. O evento será realizado no pelnário do Edifício Findes, em Vitória, a partir de 17h30. 

O objetivo é apresentar o quadro atual da geração de energia elétrica no país, compartilhar informações sobre as modalidades de contratação de energia e o custo das tarifas elétricas, juntamente com algumas opções de geração de energia, visando a amenizar custos e alavancar a competitividade da indústria capixaba.

Durante o Seminário, serão apresentadas propostas para o setor industrial, com temas como eficiência energética, tarifação de energia, microgeração e autogeração. A entrada é franca.

"A situação crítica do setor elétrico brasileiro foi amplamente debatida no primeiro semestre de 2014, mas saiu de cena com a chegada do período eleitoral sem que soluções viáveis fossem apresentadas pelo Governo Federal. O longo período de estiagem tem aumentado o risco de déficit no Sudeste e no Centro-Oeste e a conta de energia deve subir novamente para cidadãos e setores produtivos no próximo ano, aumentando ainda mais o custo da energia no país. É preciso criar soluções de curto e médio prazo para preservarmos a competitividade das nossas indústrias. Um país com o potencial energético do Brasil não pode ficar refém das variações climáticas. É preciso investir em infraestrutura", argumenta o presidente Marcos Guerra sobre o propósito do seminário e as questões que o mesmo levanta em torno do assunto.

Nível atual dos reservatórios é menor do que no racionamento de 2001

Em complemento ao seminário, o Conselho Temático de Meio Ambiente da Findes (Conerg) elaborou um parecer técnico no qual aponta algumas situações de risco para as indústrias. 

"Nos últimos meses têm sido freqüentes as manifestações das autoridades do setor elétrico quanto à capacidade estrutural do sistema no atendimento ao mercado consumidor brasileiro, ratificando e reiterando serem desnecessárias ações de contingenciamento ou de racionalização do consumo de eletricidade por parte da população, à despeito da seca intensa e prolongada que se verifica ao longo dos últimos 24 meses nas regiões Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste", destaca o vice-presidente do Conerg, Carlos Jardim Sena. 

"Entretanto, a sucessão natural dos fatos tema em afrontar a versão oficial, trazendo luz sobre a escuridão na qual o problema vem sendo tratado", pondera o dirigente, que também é engenheiro eletricista.

"São, portanto, fatos conhecidos e reconhecidos que o nível de armazenamento atual dos reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por 70% da capacidade total do sistema, encontra-se em 17,3%, inferior àquele em que foi decretado o racionamento em 2001, tendo alcançado 15,5% ao final de novembro. Já os reservatórios da região Nordeste encontram-se em 14,2%, com previsão de alcançarem 11,5% ao final do mesmo período", alerta Sena.

O parecer técnico do Conerg questiona ainda as alegações do Governo Federal sobre a melhoria na capacidade das interligações de transmissão entre regiões, tornando possível trazer energia das regiões Sul e Norte para atendimento aos consumidores das regiões afetadas pela seca.

"Essas regiões respondem, somadas, por apenas 11,9% da capacidade de armazenamento do sistema, enquanto que as regiões afetadas acumulam 88,1% desta capacidade. Ou seja, novamente a versão oficial apóia-se no imponderável, acreditando que tais regiões apresentarão níveis de precipitação pluviométrica suficientes para atender aos seus próprios mercados consumidores e gerar excedentes para o atendimento às demais regiões", ressalta o vice-presidente do Conerg.

Baixo crescimento e risco de recessão

O desempenho da economia brasileira muito abaixo das expectativas também se configura em fator preocupante, de acordo com o Conerg. Projeções do mercado apontam para um crescimento em torno de 0,3% do PIB em 2014 – contra 0,5% do Governo Federal - e de 0,8% para 2015. 

"O segmento industrial vem intensificando um movimento de desaceleração de sua atividade mês após mês desde 2012. O consumo de energia elétrica pelo segmento industrial decresceu 0,5% em 2013 na comparação com 2012 e, para 2014, este percentual deve ser ainda maior. Enquanto isso, o consumo residencial e também o comercial vêm puxando a taxa de crescimento do consumo de eletricidade em índices elevados e totalmente descolados do crescimento do PIB", destaca Carlos Jardim Sena.

Segundo o parecer técnico do Conerg, com a seca prolongada as geradoras hidrelétricas - a maior parte propriedade de estatais - estão enfrentando graves penalizações financeiras em razão da necessidade de adquirir energia no mercado “spot” para honrarem seus contratos de suprimento, em um momento em que suas “holdings” se encontram descapitalizadas pelo processo de renovação das concessões nas regras da MP 579/12.

"Ao contrário do que se pensa, também as geradoras térmicas estão perdendo dinheiro, pois em sua maioria não foram projetadas e contratadas para operarem continuamente por período tão longo, enfrentando, com isso, maiores custos de manutenção e riscos operacionais que não haviam sido inicialmente por elas precificado", enfatiza o vice-presidente do Conerg.

"Novamente, os ‘especialistas do setor’ citam cifras em torno de R$ 105 bilhões para os prejuízos incorridos pelas empresas do setor elétrico desde setembro de 2012. Número este bastante superior aos R$ 21 bilhões que foram apurados no racionamento de 2001", completa Sena. 

Próximos meses serão 'críticos', diz Conerg

Os próximos meses são críticos para o sistema energético brasileiro. Esta é a conclusão do parecer técnico do Conselho Temático de Energia da Findes – Conerg. Com a elevação da temperatura nos meses de verão, o consumo de eletricidade tende a dar um salto em razão da maior utilização de equipamentos de refrigeração. 

"A consequência esperada, em um momento no qual a reserva técnica proporcionada pelas térmicas já foi exaurida, pois já operam à sua plena capacidade, e as hidrelétricas não dispõem de água para produzirem energia, é a sobrecarga das instalações com o consequente corte seletivo de cargas ou, até mesmo, grandes blecautes sistêmicos causados pela atuação dos sistemas de proteção em cascata”, prevê o vice-presidente do Conerg, Carlos Jardim Sena.

"O prognóstico é, portanto, bastante crítico. A menos que o próximo verão seja extremamente chuvoso e com temperaturas bastante amenas. Mas, sem um contingenciamento imediato do consumo pela sociedade em geral, apenas empurraremos o problema mais um ano para frente a um custo elevadíssimo para todos, adiando um desfecho que aparenta ser inevitável", conclui Sena.

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