Economia

Com inflação e alta no desemprego, volume de salário recua após 10 anos

Redação Folha Vitória

São Paulo - O valor total de salários pagos aos trabalhadores formais do País caiu 0,32% nos primeiros quatro meses deste ano em relação a igual período de 2014, totalizando R$ 375,7 bilhões. É a primeira redução após uma década de crescimento anual consecutivo. Para analistas, a queda é resultado do aumento do desemprego, da inflação alta e da substituição de salários maiores por menores.

De 2004 para cá, período que coincide com o boom da classe média - quando cerca de 35 milhões de brasileiros passaram a integrar a Classe C -, o aumento anual do total pago aos trabalhadores formais variou de 3,7% a 11,6%. A curva crescente se inverteu e, dos quatro primeiros meses deste ano, em três os resultados foram negativos na comparação anual.

O montante pago em todo o País tem como base dados da Caixa Econômica Federal para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que mensalmente recolhe 8% dos salários de quem tem registro em carteira de trabalho. Os valores foram corrigidos pela inflação do IPCA e dessazonalizados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

As primeiras quedas neste ano ocorrem após resultados positivos consecutivos durante 134 meses - desde novembro de 2003, quando foram desembolsados R$ 42,6 bilhões em folhas de pagamento, até dezembro do ano passado, quando o montante atingiu R$ 95,3 bilhões.

Em janeiro ocorreu a primeira reversão de 0,9% na variação de 12 meses. Em fevereiro o valor ficou 2,4% positivo, mas em março voltou a cair 1%. A queda se repetiu em abril, com saldo 1,6% menor que o de um ano atrás, de R$ 92,7 bilhões.

"Por dez anos seguidos a massa salarial cresceu em média 8% ao ano, mas o fôlego acabou e agora estamos em queda", diz o pesquisador da Fipe, Eduardo Zylberstajn. Ele ressalta que, dos 22 Estados brasileiros, apenas em quatro (Ceará, Pará, Paraíba e Paraná) houve aumento dos valores pagos em folha de pagamento em abril.

Segundo ele, a combinação de desemprego, inflação alta e substituição de salários maiores por menores têm levado a essa queda na massa salarial.

De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, o índice de desemprego em maio ficou em 8,1%, o maior da série iniciada em 2012. A amostra, que coleta dados em domicílios de trabalhadores formais e informais, mostra também que houve queda de 0,4% no rendimento médio real do trabalhador, que ficou em R$ 1.863 no período.

Já a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) apresentou recuo de 2,9% nos rendimentos de junho de trabalhadores com e sem carteira ante o mesmo mês de 2014. Também do IBGE, a PME é feita por amostragem em cerca de 38,5 mil domicílios de seis regiões metropolitanas (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo).

A tendência é de que a situação se aprofunde nos próximos meses, já que as previsões de analistas indicam aumento do desemprego.

Sem aumento real. Além disso, várias categorias de trabalhadores não estão conseguindo obter aumento real nas negociações salariais, em razão da crise, e indústrias estão recorrendo a acordos de redução de jornada e salários, além dos chamados lay-off (suspensão temporária dos contratos de trabalho).

Aumentos salariais das categorias com data-base no primeiro semestre também têm ficado abaixo da inflação. Em junho, por exemplo, a média de reajuste obtida foi de 7,7%, enquanto a inflação de 12 meses pelo INPC foi de 8,8%.

Significa que os trabalhadores não estão conseguindo repor a inflação passada, situação diferente da observada nos anos anteriores, quando acumularam aumentos reais, avalia a Fipe.

Dados preliminares do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam para um ano difícil nas negociações entre empresas e funcionários na obtenção de reajustes. "A piora no mercado de trabalho e a inflação em alta devem levar a um recuo no número de categorias que vão obter ganho real", afirma José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Dieese.

No ano passado, 93% das categorias conseguiram aumento real acima da inflação, em média de 1,4%. "Este ano, além do recuo na proporção de reajustes com ganho real, o tamanho desse ganho será menor, abaixo de 1%", prevê Silvestre. Ele lembra que, desde 2004, havia um quadro crescente de melhora nas negociações salariais, com exceção de 2009, em razão da crise internacional.

A consultoria GO Associados prevê para este ano um recuo de 2,3% no valor da massa real de rendimentos (para R$ 44,1 bilhões) nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, ante um aumento de 3,5% no ano passado. O rendimento real médio deve cair 1,4% (para R$ 1.926), depois de ter subido 3,6% em 2014.

Já o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) deve chegar ao fim do ano com saldo negativo de 900 mil postos, prevê o sócio-diretor da GO Associados, Fabio Silveira. "Há sinais de alarme por todos os lados. A deterioração antes verificada na indústria se espalhou pelas áreas de comércio, serviços e construção civil."

Segundo ele, "enquanto não houver melhora no nível de atividade - o que só deve ocorrer a partir de meados de 2016 -, a pressão é de baixa". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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