Economia

Responsável por alta do IGP-DI, feijão só deve estabilizar no fim do mês

Redação Folha Vitória

Rio de Janeiro - Já considerado um vilão no bolso do consumidor, o feijão voltou a registrar forte alta em junho, sendo um dos principais responsáveis por nova aceleração no Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI). O índice ficou em 1,63% em junho, ante 1,13% em maio. De acordo com o superintendente-adjunto para inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Salomão Quadros, uma estabilização dos preços do feijão só deve ocorrer ao final de julho.

Em junho, o feijão (em grão) variou 58,72%, o principal impacto no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) de junho. No mês anterior, a alta de preços havia sido de 7,34%. A razão é um choque de estoques em função dos baixos resultados da segunda safra do feijão, em maio, devido a fatores climáticos.

"O feijão foi uma novidade em relação ao mês passado. Se não atingiu o pico, está muito perto. Deve acontecer ao longo de julho uma taxa menor, mas não taxas negativas. Qualquer resultado mais favorável para o consumidor, em termos de queda, só vem com a confirmação da terceira safra, daqui a três meses", avalia o economista. "Só pode aos domingos e em dias de festa", ironizou.

De acordo com Salomão Quadros, o feijão tem reação rápida aos choques de safra. Com a alta dos preços nas últimas semanas, a expectativa é que os produtores se sintam estimulados a ampliar o cultivo para a terceira safra, permitindo uma melhora na oferta. Por isso, até o final do mês, com a confirmação da expectativa da colheita, pode haver uma estabilização de preços.

Em junho, os produtos agrícolas, no subgrupo alimentos in natura, registraram alta de 16,07%. Além do feijão, a soja foi outro fator que pesou sobre o IPA em junho, apesar de ter registrado desaceleração, saindo de 14,01% em maio para 11,90%. A continuada alta da soja e do farelo de soja deve-se a choques de safra no País e na Argentina, e a perspectivas ruins da colheita nos Estados Unidos, a partir de agosto.

A alta da soja também começa a repercutir nos preços de animais para o abate, por conta do efeito sazonal agravado pela alta da ração de farelo de soja. As principais altas vieram dos bovinos (-2,25%, em maio, para 1,22%, em junho), aves (-2,67% para 3,43%) e suínos (-0,64% para 18,20%). Outro grupo de alimentos que pesou no indicador de preços foi o de laticínios.

No acumulado do semestre, os preços do atacado (IPA) tem taxa acumulada de 6,89%, enquanto o índice de preços ao consumidor (IPC) registra 4,50%. Para o próximo mês, entretanto, a tendência é uma redução da diferença, com a passagem do impacto de preços aos produtos finais. Assim, o consumidor sentirá os alimentos ainda mais caros, em função do repasse da alta de preços da soja, no atacado, para carne e derivados.

"Tem mais de dois pontos de descolamento, isso tem a ver com os choques recentes de soja e do farelo. A expectativa é que pelo menos em julho a diferença entre os dois diminua. Para o consumidor, a taxa tende a subir, moderadamente, e no caso do atacado, os preços tendem a recuar bastante", avalia Salomão.

Em junho, para o consumidor final, no varejo, houve desaceleração nos índices de preços (IPC), com variação de 0,26% ante um resultado de 0,64% em maio. Seis das oito classes de despesa componentes do índice apresentaram decréscimo em suas taxas de variação, informou a FGV. A principal contribuição para a baixa foram os alimentos, especialmente frutas (-11,75%, em junho, ante 1,03% em maio) devido à sazonalidade.

"Pode parecer contraditório que, no atacado, os alimentos subiram, mas no varejo, caíram. Mas, alimentos in natura, frutas e legumes estão com quedas muito fortes. Essa época do ano é típica e tem acontecido com maior intensidade do que no último ano", analisa Quadros. Também contribuíram para a desaceleração a saída de fatores de impacto em maio, como medicamentos.

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