Economia

Na pobreza ou na riqueza? Infidelidade financeira causa crise entre casais

Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Logistas (CNDL), as mulheres fazem mais compras motivadas por impulso emocionais do que os homens

O cartão de crédito é o pivô da briga entre os casais. Foto: Divulgação/Ilustração

“Te prometo ser fiel na saúde e na doença, na alegria e na tristeza ou na pobreza e na riqueza...” As juras feitas no casamento podem estar ameaçadas por um tipo de traição que tem levado casamentos ao fim: a infidelidade financeira. O vilão, segundo especialistas é o cartão de crédito.

Apesar da crise econômica, comprar com cartão de crédito faz parte do cotidiano das pessoas e de muitos casais e não há nada de errado nisto. O problema é quando um dos parceiros esconde os gastos que costuma fazer. É o caso do autônomo Mike Santos, 39 anos, que é casado e afirma que é muito vaidoso e não esconde que, às vezes faz compras sem a parceira saber. Os gastos são feitos com o cartão de crédito.

“Geralmente compro coisas de homem, produtos de beleza, estética e perfumes sem ela precisar saber. Gasto de R$ 300 a R$ 500. Acho que ela só percebe os perfumes comprados porque não dá para esconder o cheiro. Quando chega a fatura sempre damos um jeitinho para pagar as contas, o meu jeito de gastar escondido nunca causou discussão”, afirmou.

Já o empresário Rafael Vals, casado há 19 anos também faz as suas comprinhas sem a esposa saber. Mas, diferente do autônomo Mike, a compra de veículo de luxo no valor de R$ 100 mil sem o conhecimento da mulher foi motivo de briga.

“Uma vez liguei para a minha mulher e disse que iria trocar de carro. Na época, tínhamos um Picasso ela achou que eu iria pegar um outro carro mais ou menos do mesmo porte, quando cheguei vim com uma Hilux. Eu tinha feito negócio numa segunda-feira e ela só soube na sexta-feira. Chegamos a discutir e ela apelidou a caminhonete de cretina”, relembrou.

Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Logistas (CNDL), as mulheres fazem mais compras motivadas por impulso emocionais do que os homens. Outro estudo, desta vez realizado nos Estados Unidos, revelou que 32% das mulheres e 24% dos homens mentem ou escondem informações sobre dinheiro e compras feitas do parceiro ou da parceira.

Uma professora de 39 anos, que preferiu não ser identificada, revela que ela e o marido tinham conta corrente e cartão de crédito onde ela era dependente. Mas, ela possuía outro cartão e era com ele que costumava fazer gastos sem o conhecimento do marido. As compras se tornaram um problema quando ela perdeu o controle e não conseguiu mais pagar as faturas.

“No começo fazia o pagamento total das faturas, mas não consegui mais e foi virando uma bola de neve. Fui ficando nervosa e estressada e comprometi contas de casa, foi quando eu abri o jogo com o meu marido. Foi difícil, teve briga e ele foi compreensivo. Primeiro quebrei o cartão, procurei o banco para negociar e mudei de hábito. Meu casamento quase acabou por causa de um cartão”, relembrou.


Segundo o advogado Alléx Bello Lino, são muitos os casos de divórcio por causa da infidelidade financeira e crescem ainda mais entre os casais mais novos. Para ele, com o maior ingresso das mulheres no mercado de trabalho, desmantelou o modelo de família patriarcal no qual o homem era o provedor financeiro e único a administrar as finanças.

“Hoje em dia entre os casais mais novos, constata-se que cada qual é responsável por administrar seus rendimentos, dividindo entre eles as despesas ordinárias. Na minha experiência como advogado, todas as pessoas que me procuraram para divorciar e tinham menos de 40 anos, tinham contas correntes separadas do cônjuge e adquiriram seus imóveis antes do casamento ou viviam de aluguel”, disse.

O economista Antônio Marcos Machado afirma que a infidelidade financeira é uma das questões mais frequentes no relacionamento de casais.

“Lido com isso há 15 anos e digo que um esconde do outro as compras feitas não por maldade e sim, por vergonha pelo valor gasto, pelo descontrole e até por não poder assumir o pagamento das dívidas sozinho”, afirmou.

Já o advogado Alléx orienta que a parte que se sente lesada com as compras pode se proteger judicialmente. “Se for o caso de contração de dividas por apenas um dos parceiros, o ideal é modificar o regime de casamento. Geralmente o regime mais comum é o de comunhão parcial de bens. Eu aconselharia a modifica-lo para o de separação total de bens”.

Para o economista Antônio Marcos, o maior vilão dos casamentos é o cartão de crédito que tem juros de quase 400% ao ano. A infidelidade financeira pode sim comprometer o orçamento familiar.

“O cartão é o vilão, principalmente quando é um cartão independente. As contas comprometem não só o orçamento da família, mas como o casamento. Quem costuma gastar escondido tem que ser transparente, se for preciso, que se venda um bem para saldar as dívidas e a pessoa tem que se comprometer em ter novos hábitos e quebrar todos os cartões de crédito”, orienta.

Antônio Marcos orienta ainda que homem e mulher devem ser transparentes um com o outro e pedir ajuda quando for preciso. Todas as compras, em comum ou não, devem ser de conhecimento do casal para evitar conflitos futuros e ter as contas pagas em dia.

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