Economia

Estrangeiro recebeu bem plano de concessões, diz presidente do Citi

Redação Folha Vitória

São Paulo - O investidor estrangeiro recebeu "muito bem" o plano de concessões do governo de Michel Temer, mas espera que o discurso se materialize na prática, de acordo com o presidente do Citi no Brasil, Hélio Magalhães. O banco americano realizou nesta terça-feira, 20, o primeiro encontro da comitiva brasileira em Nova York, que durou cerca de duas horas e teve a sala lotada. Foram convidados, conforme o presidente, 45 investidores que puderam tirar suas dúvidas a respeito do plano de concessões.

"Todas as perguntas dos investidores foram em relação ao programa. Ninguém perguntou sobre as condições do País. Temos escutado algo positivo em relação ao Brasil. É bem verdade que estão esperando que o discurso aconteça, mas o plano de concessões foi bem recebido. Muito bem recebido. Há muito tempo o Brasil não apresentava um plano com coerência e alinhamento", contou o presidente do Citi, que está em Nova York, em entrevista exclusiva ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

De acordo com ele, as dúvidas dos investidores foram em relação ao modelo de financiamento do projeto, prazos, condições e também o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A conversa, conforme Magalhães, foi iniciada pelo secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, que reforçou o momento enfrentado pelo Brasil que "vive talvez a pior crise econômica de sua história" com déficit fiscal e desemprego muito altos. Afirmou que o presidente Temer pediu para que fosse desenhado um plano que resolvesse o problema fiscal para pode reduzir a inflação, os juros e gerar emprego, mas também um plano de investimento em infraestrutura que também contribuísse para a criação de vagas para os trabalhadores.

O foco do encontro, segundo o presidente do Citi no Brasil, foi detalhar o plano de concessões e esclarecer as diferenças em relação à iniciativa capitaneada pela ex-presidente Dilma Rousseff e o governo atual. Os ministros de Minas e Energia, Fernando Bezerra Filho, e de Transportes, Maurício Quintella, também falaram dos projetos de suas respectivas pastas e destacaram que os lançamentos serão "muito técnicos" e não um "grande evento".

"Foi uma conversa bem simples, sem grandes shows. Moreira Franco e os ministros pediram sugestões e críticas no sentido de ajudar o governo atual a encontrar o melhor caminho possível para o Brasil. Fica claro que o governo quer sentar e conversar. Abrir a porta e mostrar que não existe ideologia, efetivamente, corrigir o que não funcionou", disse Magalhães.

Na visão do presidente do Citi, o momento é oportuno para falar sobre o Brasil. Isso porque embora os investidores estrangeiros tenham ciência de que o desafio do País é grande, com déficit fiscal e desemprego muito elevados, enxergam a economia brasileira de "forma positiva" uma vez que a página do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff já foi virada e o mercado "leu bem" o desfecho do processo.

"Não há uma ruptura no Brasil e é isso que assustaria o investidor. O mercado leu bem o processo de impeachment. Houve certa contestação, mas que não foi no mercado, setor empresarial, privado, mas de áreas que normalmente contestam essas coisas. Mercado internacional leu bem o que aconteceu no Brasil e o País está sendo visto de forma positiva pelos investidores estrangeiros que sabem que o desafio é grande", afirmou Magalhães.

O presidente do Citi elogiou o estímulo que o governo atual dará ao mercado de capitais à medida que sugeriu a utilização de debêntures de infraestrutura como parte do financiamento dos projetos. Segundo ele, é uma medida inteligente. Magalhães disse ainda que o programa de concessões deve trazer mais investimentos ao Brasil e ajudar o País a gerar empregos.

O executivo reforçou, contudo, a necessidade de o governo brasileiro "atacar a questão fiscal que é o cerne do problema" e o caminho para "reduzir os juros e a inflação no País". Apesar de notar certo "otimismo" do mercado em relação ao Brasil, o presidente do Citi destacou que é consenso de que a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Teto, que torna efetivo o limite de gastos do governo nos próximos anos, é o "ponto principal dos próximos passos" do País. Segundo ele, a vitória do governo neste tema vai mostrar "consistência e foco". Do contrário, explica, sinalizará que o "Brasil não entendeu ainda o tamanho do problema". Magalhães, porém, acredita na aprovação da PEC que limita os gastos públicos em meio ao trabalho feito junto à Câmara dos Deputados e ao Senado.

"Há exemplos contundentes de que se não resolver o problema fiscal no Brasil não teremos dinheiro para pagar as contas. Estive em Brasília e todo mundo fala a mesma coisa: da necessidade de aprovar a PEC e a reforma da Previdência. Aí sim o Brasil vai dormir tranquilo e virar a página. Enquanto esses dois temas não forem resolvidos, não conseguiremos resolver o problema fiscal do País", avaliou Magalhães.

Temer não participou da reunião, que aconteceu no hotel onde está hospedado, o Plaza Athénée. O encontro também não teve power points e apresentações. De acordo com Magalhães, o encontro foi "basicamente uma conversa" e no formato de reunião, com uma grande mesa e cadeiras ao redor e atrás. No cardápio, nada de pompa. Apenas lanches e no formato à americana, ou seja, em que os próprios convidados se servem. Tudo "muito simples" e organizado pelo próprio governo.

Os investidores receberam um documento com detalhes do programa e um mapa onde estão os projetos de infraestrutura. O Citi organizou o encontro com a comitiva brasileira a convite do governo por meio do instituto Brain - Brasil Investimentos & Negócios, organização multissetorial do setor privado.

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