Economia

Presidente da Acerva-ES fala sobre os desafios encontrados pelos produtores de cerveja artesanal no Estado

Sandro Rizzato

Foto: Reprodução/Facebook

A produção da cerveja artesanal é um mercado que vem crescendo cada no Espírito Santo. Estima-se atualmente que cerca de 600 produtores atuem no Estado. No entanto, o maior percentual é representado por produtores "hobbistas", que são aqueles que fabricam o produto em casa para o próprio consumo.

Para estimular estes produtores, a Associação dos Cervejeiros Artesanais do Espírito Santo (Acerva-ES) reúne os "hobbistas" e os produtores registrados no Ministério da Agricultura com o propósito de oferecer cursos e treinamentos, visando a melhoria do produto.

Após a aprovação da Lei que pode incentivar a produção da cerveja artesanal no Espírito Santo, o presidente da Acerva-ES, Sandro Rizzato, falou com o Folha Vitória sobre o funcionamento da associação, os desafios dos fabricantes de cerveja e os benefícios provenientes da nova lei estadual.

Folha Vitória: O que é e como funciona a Acerva-ES?
Sandro Rizzato: É a Associação dos Cervejeiros Artesanais do Espírito Santo. Uma associação de pessoas que fazem cerveja como hobbie. Nosso principal ideal é a junção de 'hobbistas'. Mas como o Espírito Santo é um estado pequeno, onde a produção ainda está nascendo, nós resolvemos convidar as cervejarias que temos aqui para se associar também e ter representatividade com relação à órgãos governamentais. Dessa forma, a Acerca-ES é uma associação de cervejeiros caseiros e artesanais e podem se associar todas as pessoas que fazem cerveja, que são entusiastas, que têm interesse nesse hobbie, e pessoas que fazem degustação, como um sommelier, por exemplo.

F.V: Atualmente, quantos são os produtores de cerveja artesanal no Estado e qual a média de produção?
S.R:Hoje temos, aproximadamente, 600 pessoas que fazem cerveja artesanal no Estado. Estes são mais conhecidos e chamados vulgarmente de paneleiros, porque são aqueles que fazem cerveja 'na panela'. A produção mensal gira em torno de 35 a 40 mil litros. É importante destacar que há uma grande diferença entre o que é cerveja artesanal e 'hobbista'. Para eu poder vender uma cerveja no supermercado, por exemplo, eu não posso. Eu sou hobbista e faço cerveja no fundo do meu escritório. Posso ter uma cerveja espetacular, mas não posso vender porque não tenho uma autorização legal, que é dada pelo Ministério da Agricultura para que o cervejeiro possa comercializar o produto. Na associação temos os 'hobbistas' e as pessoas com autorização para comercializar.

F.V: Onde estão estes cervejeiros no Espírito Santo?
S.R: Não temos um local de concentração. As cervejarias estão em vários lugares do Estado. Temos em Viana, Vila Velha, no Sul, em Linhares, Colatina, Venda Nova e Domingos Martins. Uma proposta que fizemos para a Assembléia Legislativa, e que será encaminhado para o Governo do Estado, é para que seja criado, futuramente, a Rota da Cerveja Artesanal no Espírito Santo, da mesma forma que já temos a Rota da Moqueca.

F.V: Atualmente, quais são as principais dificuldades encontradas pelos produtores?
S.R: Uma grande dificuldade é com relação em fazer algo que está sendo muito novo no Estado. Se eu quiser abrir uma cervejaria em Vitória, por exemplo, é um município que autoriza a criação de indústria em determinados locais. Nós temos que ajudar o poder público a fazer essa leitura. Neste caso, a gente estaria auxiliando o município de Vitória a poder, de repente, fazer outro tipo de proposta com relação à PDU (Unidade de Desenvolvimento Profissional - Professional Development Unit) para que possa, em algum bairro da cidade, existir essa indústria. A característica da cervejaria, mesmo que ela produza pouco, é ser uma indústria, só que o tratamento dela é igual às outras. O que é preciso saber é que a cervejaria artesanal, que produza até determinada quantidade de litros, é considerada artesanal e ela precisa ter uma facilitação para poder se instalar naquele determinado local.

F.V: O que muda com a aprovação da Lei que reduz o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da Cerveja Artesanal?
S.R: Atualmente as cervejarias de Minas Gerais e Rio de Janeiro tem um benefício fiscal com relação a ICMS, que é o maior imposto que incide sobre cervejaria. Para se ter uma ideia, além de pagar o ICMS do insumo que o produtor compra, ele paga do valor de venda do mercado, 27% de ICMS. A proposta da Lei é a redução desse imposto para 12% que foi autorizado pelo governo. O Projeto de Lei que é de iniciativa e continuidade do deputado Hércules da Silveira. Ele trouxe esse pedido do Executivo para ser validado como Lei na Assembléia Legislativa. Hoje, se o consumidor vai ao supermercado, a cerveja capixaba custa em torno de R$ 22 e a do RJ ou MG é R$ 18 ou R$ 17. Não que uma seja mais cara que a outra. O fato é que uma tem incidência de imposto maior. Não acho justo uma cerveja produzida em Vila Velha seja vendida neste local com um valor maior por causa do imposto.

F.V: Além do fator econômico, que outro fator pode ser favorecido com a nova lei estadual e a produção da cerveja artesanal?
S.R: A cerveja artesanal é uma questão muito mais cultural e conceitual do que uma bebida alcoólica pura e simples. Um exemplo é a Cervejaria Barba Ruiva, que fica em Domingos Martins, quando o Daniel, que é o proprietário e associado da Acerca-ES, faz um evento, ele lota a cidade e os hotéis de lá. Não é um evento ou um negócio de 'bebedeira', como alguns até pregam. É uma questão mais cultural e turística. Se dá certo por lá, porque a Grande Vitória não pode ter um grande evento ou pequenos eventos em vários lugares? Alguns shoppings já fazem eventos de cerveja artesanal em estacionamentos e todos são sucesso. Isso é uma atividade que tem que ser mais vista pelo poder público e tem que ser mais fomentado.

F.V: A Acerva-ES realiza algum tipo de estímulo para atrair novos produtores para a área de produção? Como?
S.R: O nosso objetivo maior é fomentar a cultura e a atividade cervejeira, com aprimoramento do cervejeiro, com o estudo e fazendo com que ele venha a produzir algo de qualidade. O maior problema é o seguinte: Se eu começo fazer a cerveja em casa e eu não estudo muito, não tenho conhecimento, faço uma cerveja de péssima qualidade e ruim. Se vou servir essa cerveja ruim para os meus amigos, a primeira experiência deles também vai ser ruim. Isso não vai fomentar a atividade. Vai fazer com que afaste as pessoas do consumo de cerveja artesanal.
Temos um concurso interno que é regimentado pelo PJCP (Beer Judge Certification Program - Programa de Certificação de Juíz de Cerveja, em tradução livre). Fizemos um workshop com 220 pessoas, junto com Estado, Secretaria de Agricultura, com Sebrae e Findes. Nossa proposta também tem vários cursos e palestras. Esses cursos provavelmente serão feitos em parceria com o Sindibebidas, utilizando a estrutura da Findes para fazer que a pessoa estude, aprenda com rótulos de qualidade para ter um parâmetro do que é qualidade e o que não é.
Na nossa agenda ainda temos o Curso de Sommelier. No ano passado, 28 capixabas fizeram este curso em Blumenau (SC). Trouxemos agora aqui para o Estado para fazer e fomentar a atividade aqui. O curso ainda é certificado por uma escola alemã. Quem fizer o curso aqui em Vitória pode ir para qualquer lugar do mundo e ter reconhecimento como sommelier. É bem diferente do cervejeiro caseiro, que estuda como fazer. Sommelier é mais sobre degustação e analise sensorial, de harmonização e combinação com pratos, mas que está ligado a atividade cervejeira.

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