Entretenimento e Cultura

Globo vai brincar com a própria imagem em "Tá no Ar"

São Paulo - Quem tem menos de 30 anos poderá ver, pela primeira vez na vida, um comercial sendo satirizado na tela da Globo. O feito é um dos ingredientes do novo humorístico da casa, Tá No Ar: A TV na TV, que estreia nesta quinta-feira, 10, às 23h30. Concebido a partir de uma ideia de Marcius Melhem e desenvolvido pelo próprio, em parceria com Marcelo Adnet e o diretor Maurício Farias, o programa promete derrubar tabus criados em boa parte pelo surgimento de tantas militâncias em torno do que é politicamente correto ou não e pelas amarras da classificação indicativa.

Mas o veto ao deboche a marcas que ajudam a pagar as contas da casa no intervalo, por exemplo, era pura obra de autocensura, o que parece estar em franca e bem-vinda decadência na emissora. Ponto alto no velho e bom TV Pirata, a sátira a filmes publicitários foi liberada novamente, enfim, a começar pela propaganda da carne 'Fribode'. No lugar de Tony Ramos, garoto-propaganda do comercial original, estará Toni Tornado, o 'seu Toni'.

"A gente criou o programa sem nenhum tipo de censura, da nossa cabeça. Às vezes a gente dizia: 'acho que estamos passando do limite', para depois concluir que não tem problema, 'vamos passar'. A gente pode até errar a mão aqui ou ali, mas, no todo, estamos numa missão importante, de expandir as fronteiras do humor, pra fazer coisas que não sejam todas iguais, que sejam mais empolgantes, mais vivas", diz Adnet ao jornal O Estado de S.Paulo.

Também era obra de autocensura outro tabu que cai no programa de hoje: lá estará uma imitação rápida de Silvio Santos, por Adnet, claro. Não quer dizer que todo e qualquer nome de outro canal venha a ser satirizado na Globo. "O Silvio Santos é quase uma licença poética", explica Melhem. "É uma piada, ele fala 'o que é que eu tô fazendo aqui?'." Adnet vai além: "É preciso abraçar o mundo como ele é. O Silvio Santos é o maior comunicador do País, talvez da América Latina. Temos que abraçar isso com leveza, com reconhecimento, isso não diminui ninguém".

Mais nove atores contracenarão com Adnet e Melhem. "A gente terá seriado policial, seriado médico (Dr. SUS, uma paródia de House em hospital público), e um talk show de PM chamado Tenente que Toma Entrevista, em que os convidados vão até lá à força", conta Melhem. Tem ainda programa policial em tom de educação infantil - são casos banais, como a discussão da redução da maioridade penal para um ano e meio a partir da destruição de castelinhos de areia. Ainda na edição desta quinta-feira, 10, o público verá a campanha Fiança Esperança, paralelo claro com o Criança Esperança, em que um partido político arrecada dinheiro para pagar a fiança dos corruptos que estão presos, conta Melhem.

Para coroar o deboche, um crítico aparecerá entre um zapping e outro fazendo críticas à programação da própria Globo, para quem nada nunca está de acordo com seu gosto.

"Trabalhamos para que os textos fossem críticos, atuais, mas não ofendessem. Nossa missão é divertir, não ofender, mas, ao mesmo tempo, não dá pra não falar do que está acontecendo", diz Melhem. "E tivemos o cuidado de fazer sempre a pergunta: 'em que a gente está batendo? Qual é a crítica?' Tivemos total liberdade. Se der errado, a culpa é nossa mesmo."

Para Adnet, críticas fazem parte do 'jogo democrático'

'Tá no Ar: a TV na TV' é o primeiro programa de Marcelo Adnet na Globo do qual ele participa integralmente, da concepção à edição, passando pela redação de textos, escalação de elenco e produção musical. A cada passo que dá na Globo, vêm as cobranças de órfãos da MTV Brasil por algo parecido com a comédia que fazia no canal segmentado.

"A gente está no meio do processo democrático, ou no início dele, ainda. Outro dia, me perguntaram como eu lido com as críticas nas redes sociais. Disse que as pessoas têm o direito de se expressar à vontade, é o jogo democrático, mas não sou obrigado a parar o meu trabalho por isso."

O humorista credita parte das cobranças a um certo preconceito com a comunicação de massa. "A partir do momento em que a MTV fechou as portas, não posso mais trabalhar lá, escolhi trabalhar na Globo por um desafio. Em vez de me esconder num canto, a ideia é tentar falar para o maior número de pessoas possível", diz. Para ele a "elite fica se masturbando no Facebook, escrevendo coisas para si mesma e desdenhando da massa, como se a massa fosse burra, fosse incapaz, o que é uma mentira." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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