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Masterização: Carlos Freitas prepara "Elis"

São Paulo - Carlos Freitas sente que tudo está redondo demais. "Está parecendo o disco Elis & Tom. O som original já está muito bom", diz sobre os primeiros áudios do disco Elis, a obra que a cantora lançou em 1972. Freitas é um engenheiro de masterização com mais de 30 anos de experiência, dando sentido acústico a gravações que datam desde 1983. Antes de Elis parar em suas mãos, pegou a era do vinil, todo o reinado do CD, sua derrocada no final dos anos 90 e o atual império dos compartilhamentos digitais. Fez discos de RPM a Titãs, trabalhou com João Gilberto e George Michael, com Legião Urbana e Tom Jobim. O que ele tem a dizer sobre qualidade de som é para se escutar de ouvidos bem abertos.

O trabalho de masterização, ao contrário das aparências, começa com sensibilidade. Freitas coloca uma das faixas do disco de Elis para soar na sala de isolamento acústico de seu estúdio e apenas ouve para sentir onde a emoção está "pegando". Só depois, toma as primeiras decisões. Quando abre Bala com Bala, uma quebradeira quente de João Bosco e Aldir Blanc, sente que a fagulha que desencadeia toda a vontade de sair pulando pela sala está na "cozinha" de Luizão Maia e Cesar Camargo. Decide trazê-la ainda mais para a frente, quase que igualando-a em volume com a voz de Elis. É assim que potencializa a emoção.

O contrário acontece com 20 Anos Blue, quando percebe um certo risco de fastio na linha do mesmo baixo. Decide contê-lo.

Freitas fala da mudança de comportamento do ouvinte, o que ele prefere chama de foco - uma evolução, ou involução, da relação das pessoas com a música que tem reflexo direto em seu trabalho.

Quando o LP vivia seus dias de glória, até o final dos anos 80, a atitude do ouvinte, em geral, era bem definida: ele limpava a agulha, colocava o vinil e se sentava diante das caixas de som com a capa do disco nas mãos. Degustava o som como se alimentasse a alma. Alguns chamavam até amigos para dividir o momento de prazer. "O foco era a música, só ela", diz Freitas.

Os anos 90 trouxeram o CD e, com ele, os aparelhos de CD dos carros. "A partir daí, o som começou a disputar espaço com outras sensações. As pessoas ouviam música enquanto dirigiam." Era a audição como mais uma atividade dentre todas as informações cerebrais de quem dirige um automóvel. Era a música perdendo o protagonismo para se tornar figurante.

A chegada do MP3 e dos aparelhos portáteis piorou as condições dos ouvintes saudosos das relações matrimoniais com seus artistas. As pessoas ouvem música nas mais variadas atividades. Para suprir a perda de espaço nas prioridades de um dia, que também ficou mais corrido, as masterizações passaram a compensar nos volumes, um ato perigoso. "Os médios agudos são reforçados para que entrem no cérebro em meio a tanta informação", diz Freitas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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