Entretenimento e Cultura

Yuri Firmeza expõe 'Nada É'

Redação Folha Vitória

São Paulo - Tudo ocorreu muito rapidamente. Curadores da Bienal de São Paulo foram a Fortaleza encontrar-se com artistas locais. Viram material - fotos - de uma mostra que Yuri Firmeza havia feito em Nova York e o comissionaram para um trabalho na Bienal. Yuri conseguiu copatrocínio do Banco do Nordeste e com uma equipe foi para Alcântara, no Maranhão. Durante 15 dias acompanhou a Festa do Divino, depois, mais um mês de edição e mixagem de som. Toda essa história começou em abril e o resultado está na Bienal.

Aqui, não deixa de ser uma videoinstalação. Foi construído um simulacro de cinema, num espaço de 8 por 9 metros, com som 5.1, em que o público pode ver em looping, continuamente, Nada É. No Rio, integrando a seleção da Semana dos Realizadores, Nada É teve sessão especial no fim de semana. Na vertente da Mostra Aurora, em Tiradentes, a Semana, idealizada por Lis Kogan - e com curadoria de Daniel Queiroz e dela -, abre uma janela para o cinema autoral, de invenção, que tende a ser marginalizado pelo ‘mercado’. Um dos diretores, apresentando seu filme, disse que tinha a sensação de estar num oásis, comparando o cinema brasileiro a um deserto. Na noite desse deserto, Nada É fulgurou como um cometa.

Talvez a experiência de ver o filme na imersão do cinema tenha ajudado no deslumbramento. Na Bienal, embora impecável como som e imagem, Nada É passa sem créditos - iniciais nem finais - e espectadores já disseram ao diretor que viram um pouco do filme, saíram para ver outros trabalhos do evento e voltaram para mais um pedaço. "Agindo assim, eles fazem outro filme que não o meu em seu imaginário", avalia Yuri Firmeza, e ele não se queixa. Acha o procedimento

Intrigante.

Nada É tira seu título do que disse ao diretor uma habitante de Alcântara. Na cidade maranhense, nada é - tudo foi ou será. No século 19, a elite local construiu palacetes à espera do imperador d. Pedro II, que prometeu, mas nunca foi à cidade. Beckett, Esperando Godot. Os palácios viraram ruínas, que Firmeza fotografou (e mostrou nos EUA). O passado, o que foi. O que será é o futuro e Alcântara abriga uma base de lançamento de satélites. Yuri Firmeza mistura tudo. As ruínas, os foguetes e a Festa do Divino, durante a qual é coroado o imperador-menino, evocando d. Pedro e sua corte. Como artista visual acurado, o diretor cria imagens belíssimas e trabalha o tempo (da ciência e da religião) como eternidade e transcendência. Alcântara abrigou quilombos. Possui muitos descendentes de quilombolas. Firmeza os filma - cantando, dançando e em estática solenidade, no culto e na corte simulada. Como Arthur Omar, ele propõe sua antropologia da face gloriosa. Se estreasse nos cinemas, Nada É, apesar dos reduzidos 32 min, seria um dos maiores filmes do ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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