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Salgueiro e Grande Rio se destacam em noite de chuva na Sapucaí

Grandes escolas desfilaram no último domingo e na madrugada desta segunda-feira na Sapucaí, Muitos famosos estiveram na avenida para abrilhantar ainda mais a noite

Juliana Paes na comissão de frente Foto: R7

Rio - A chuva forte e o sistema de som vacilante atrapalharam as duas escolas que abriram os desfiles do Grupo Especial do Rio, no último domingo (15). A Viradouro sofreu com pelo menos sete paradas do sistema de som e desfilou sob muita água. Já a Mangueira entrou com chuva um pouco menos forte, mas persistente, e também foi afetada pelo som do sambódromo - que já havia se mostrado problemático durante os desfiles da segunda divisão, na sexta e no sábado.

Em uma época onde o que mais as pessoas querem é chuva, foi justamente ela que castigou o retorno da Unidos de Viradouro ao Grupo Especial carioca. A escola enfrentou um temporal muito forte, que, inclusive, atrasou o início dos desfiles.

Diversas alas tiveram as fantasias prejudicadas, com plumas murchas. Nos carros, alguns destaques desfilaram sentados por causa da chuva, e uma escultura da última alegoria entrou na avenida quebrada. Os ritmistas também tiveram de se virar e proteger alguns instrumentos da bateria.

A agremiação levou para a Sapucaí o enredo "Nas Veias do Brasil, é a Viradouro em Um Dia de Graça". O hino da escola, uma junção de outros dois sambas de Luiz Carlos da Vila, foi o maior trunfo da agremiação para abrir os desfiles na noite deste domingo (15). Foi ele quem segurou a animação da maior parte dos componentes e do público das arquibancadas.

Outro destaque positivo da escola foi a comissão de frente, representando a chegada dos negros no Brasil. Um elemento alegórico representou o baobá, árvore considerada sagrada para os africanos. A atriz Juliana Paes foi a grande surpresa da coreografia, com uma apresentação cheio de beleza e sensualidade.

Nas alas, a escola mostrou a influência dos negros na cultura brasileira, sejam nas festas e danças até no próprio samba. Algumas escolas foram homenageadas, como a Portela, a Estácio de Sá e a Vila Isabel. Foi uma apresentação marcante, mas, infelizmente, a escola deve sofrer as consequências do temporal. 

A Viradouro cantou a trajetória do negro no Brasil. O refrão "o samba corre/ nas veias dessa pátria-mãe gentil/ é preciso atitude/ de assumir a negritude/ pra ser muito mais Brasil" pegou. A bateria tocou em ritmo mais cadenciado, em vez do andamento acelerado que se vê nos sambas de hoje. "É um samba à moda antiga, pra acompanhar o ritmo de Luiz Carlos da Vila", disse Mestre Magrão. As paradinhas foram mantidas, mas ganharam ritmo afro.

A escola de Niterói, que voltou ao Grupo Especial depois de três anos na Série A, teve na comissão de frente a atriz Juliana Paes, que estava afastada da agremiação por causa da maternidade. Ela desfilou como símbolo do fruto da árvore do baobá. "Já fui rainha, já fui destaque. Experimentei todas as cores e sabores da escola. Agora sou destaque da comissão de frente", afirmou Juliana, que disse representar a miscigenação do povo brasileiro.

Na concentração, a madrinha de bateria Raissa Machado teve de dividir atenções. Primeiro, com Juliana Paes, que foi imediatamente cercada por fotógrafos e repórteres. Depois, com os tenistas Gustavo Scherer, Roger Federer e Rafael Nadal, que desfilaram com roupa da diretoria à frente da escola, cercados por seguranças.

Alcione se protegeu da chuva enquanto pôde, mas ao subir no carro precisou retirar um plástico que cobria a cabeça Foto: R7

Mangueira

Mais tradicional e mais rica, a Mangueira conseguiu contornar os problemas apostando na emoção extraída de seu enredo autorreferente, e das alusões aos seus símbolos, evocados no samba-enredo: as matriarcas Dona Zica (mulher de Cartola) e Dona Neuma (filha de um dos fundadores), ambas já falecidas, o jequitibá que lhe serve de apelido ("jequitibá do samba"), os trechos de composições de Cartola ("divina dama", "alvorada").

Com o samba-enredo "Agora chegou a vez, vou cantar: mulher de Mangueira, mulher brasileira em primeiro lugar", a Estação Primeira de Mangueira desfilou na madrugada desta segunda-feira (16) na Marquês de Sapucaí. A escola é a segunda da noite a entrar na avenida. Antes, foi a vez da Viradouro. A escola faz uma homenagem às mulheres brasileiras, em particular aos ícones femininos que fizeram sua história. Na linha de frente da bateria da Mangueira, há apenas mulheres.

A escola vai em busca do título na Marquês de Sapucaí com 3.900 componentes, divididos em 35 alas. Antes do início do desfile, o presidente da escola verde e rosa, Chiquinho da Mangueira, afirmou que não temia a chuva forte na Sapucaí. Ele lembrou que, em 1968, a Mangueira foi bicampeã do carnaval carioca depois de desfilar na Avenida Presidente Vargas debaixo de um temporal.

Os componentes driblaram as falhas do som cantando bem alto o samba, em especial o refrão simples e cheio de brios: "Eu vou cantar a vida inteira/ pra sempre Mangueira/ tem que respeitar". A escola foi enxugada esse ano, para que o desfile saísse mais barato. Saiu com cerca de quatro mil componentes - já chegou a ter mil a mais -, o que rendeu leveza às alas.

"A Mangueira é mais Mangueira quando fala de si mesma" - foi o lema traçado para o desfile desse ano. O carnavalesco Cid Carvalho o seguiu à risca "vestindo" a escola de verde e rosa, em variados tons, e distribuindo ícones da Mangueira pelos setores.

O carro que representava as cantoras Alcione, Beth Carvalho, Rosemary e Leci Brandão foi bastante saudado pelo público. Alcione, que demonstrou tensão por conta da chuva ao chegar ao carro, acabou machucando o pé e foi retirada da avenida de cadeira de rodas.

A comissão de frente, a cargo do coreógrafo Carlinhos de Jesus, alusiva à Vó Luciola, parteira lendária do Morro da Mangueira, já prenunciava o desfile emotivo e afetivo, mas de carros pouco luxuosos e sem os efeitos especiais das escolas milionárias.

Na concentração, o presidente, Chiquinho da Mangueira, tentava não demonstrar apreensão quanto à chuva, ainda que a água chegasse ao tornozelo dos componentes. "Deus dá o que a gente pede. Não pedimos tanto a chuva? Não posso reclamar, com tanta gente por aí passando sede. Até porque em 1968 a Mangueira foi bicampeã na Avenida Presidente Vargas debaixo de um temporal", disse, referindo-se à estiagem na Região Sudeste.

Antes da Mangueira, a Viradouro entrou na Marquês de Sapucaí com quase 30 minutos de atraso, por causa do temporal. Embora tenha feito um desfile bonito, acabou prejudicada: a comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira fizeram apresentação comedida, ainda que correta, diante dos jurados, para evitar escorregões na pista.

As cuícas tiveram de ser cobertas com sacos plásticos, para que a água não estragasse o couro dos instrumentos. Ao longo dos primeiros 32 minutos da apresentação, o som falhou sete vezes. Mas os componentes e as arquibancadas cantaram à capela o samba-enredo, resultante da fusão de duas composições do sambista Luiz Carlos da Vila (morto em 2008) e adaptado por Gustavo Clarão, presidente da escola e também compositor.

 Mocidade Independente canta o Fim do Mundo na estreia de Paulo Barros como carnavalesco Foto: R7

Mocidade Independente

Conhecido por comissões de frente inovadoras, o carnavalesco Paulo Barros estreou na Mocidade Independente de Padre Miguel apostando em efeitos especiais. Com uma roupa que "pega fogo", a comissão representou um meteoro que cai na terra e dá início ao fim do mundo. Foram 30 bailarinos da Companhia Brasileira de balé que se revezam em três grupos na apresentação.

Além disso, o carnavalesco programou legendas na frente das alas para contar o enredo "Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia", inspirado na música "Último Dia", de Paulo Moska e Billy Brandão.

O cantor Moska ficou emocionado com a montagem da apresentação da Mocidade Independente de Padre Miguel, que transformou sua música "Último Dia" em enredo. "É muito ineditismo. É a primeira vez que uma canção é homenageada. Não é uma personalidade, um enredo. Mas uma canção. É grande privilégio", disse Moska." Último dia completa 20 anos em 2015.

O compositor Dudu Nobre, que integra a comissão de bateria, disse que o samba vem sendo ensaiado desde abril. Teve  paradinhas e um efeito com o chapéu dos músicos. O adereço traz um relógio com a contagem do tempo do desfile.

Numa noite marcada por uma forte chuva e problemas no sistema de som da Marquês de Sapucaí, Mocidade Independente e Salgueiro conquistaram o público na primeira parte dos desfiles do Grupo Especial do carnaval carioca. Pela Mocidade, o carnavalesco Paulo Barros estreou com alegorias criativas e efeitos especiais para narrar as 24 horas derradeiras da humanidade. Já o Salgueiro trouxe um samba de empolgação e fantasias suntuosas a fim de contar segredos da culinária de Minas Gerais.

A alegoria que mais despertou atenção foi a de homens e mulheres que se despiam na avenida para satisfazer o desejo de ficar nu no que seria a véspera do fim do mundo. Somente as partes íntimas ficaram cobertas. O Salgueiro inovou na comissão de frente com uma manta de LED que representava uma pepita de ouro e projetava imagens em 3D.

Última a desfilar, já na manhã desta segunda-feira, a Grande Rio se exibiu com graça e irreverência. A escola optou por brincar com as cartas do baralho, num enredo apresentado com muita leveza. O ponto alto ficou por conta da comissão de frente, com várias coreografias que retratavam o embaralhar das cartas e no qual algumas bailarinas "perdiam" a cabeça e só deixavam à mostra as pernas. A escola de Caxias, na Baixada Fluminense, já foi vice-campeã três vezes e busca seu primeiro campeonato. É a agremiação que mais reúne artistas de TV e desta vez não foi diferente, a começar pela rainha de bateria, Suzana Vieira.

Viradouro, Mangueira e Vila Isabel decepcionaram e estão distantes da disputa do título. As duas primeiras sofreram com os efeitos do temporal. Fantasias da Mangueira foram danificadas e a escola não conseguiu fazer um desfile à altura do enredo, que homenageava as mulheres brasileiras e, notadamente, mangueirenses históricas, como Dona Zica (que foi casada com Cartola) e Dona Neuma (filha do primeiro presidente da escola).

Em seu retorno ao Grupo Especial, a Viradouro narrou modestamente a trajetória do negro no Brasil e vai torcer para não cair novamente. Já a Vila, 10ª colocada em 2014, também deixou a desejar com fantasias acanhadas e erros de acabamento nos carros alegóricos. A escola homenageava os maestros, a partir de uma deferência a Isaac Karabtchevsky.

Com asas de cisne negro, Sabrina Sato atrai todos os olhares na Sapucaí Foto: R7

Vila Isabel

Dois anos após um título (em 2013, com um enredo sobre agricultura) e um ano após um fiasco que quase rendeu o rebaixamento da escola (em 2014, com o enredo "Retratos de um Brasil Plural"), a Unidos de Vila Isabel apresentou-se na primeira noite de desfiles das escolas de samba do Rio mais perto de reviver 2014 do que 2013.

Com um enredo em homenagem ao maestro brasileiro Isaac Karabtchevsky, que completou 80 anos em dezembro, a escola fez dezenas de referências à música clássica - seis dos sete carros alegóricos retratavam óperas como "O Guarani", de Carlos Gomes, "Trenzinho do Caipira", de Villa-Lobos, e "O Quebra-Nozes", de Tchaikowsky. O sétimo carro era uma referência ao samba e a Martinho da Vila, homenageado secundariamente pelo enredo. O maestro desfilou no carro abre-alas, enquanto Martinho esteve no último carro.

A escola não tinha integrantes com fantasias incompletas, como ocorreu no ano passado, mas os carros alegóricos apresentaram diversos problemas - o segundo, referência a "O Guarani", bateu na grade lateral direita logo que entrou no sambódromo, sendo que em seguida o rumo do veículo foi corrigido. O carro também emitia tanto gelo seco que escondia a ala logo à frente. Já a terceira alegoria trazia uma escultura do maestro Villa-Lobos com partes que se desfizeram aparentemente em função da chuva.

Outro exemplo de desorganização e atraso foi protagonizado pela apresentadora Sabrina Sato, rainha da bateria da escola. Como já havia ocorrido no ano passado, partes da fantasia dela, que representava o Cisne Negro, referência ao balé clássico "Lago dos Cisnes", chegou apenas quando o desfile já havia começado. Apesar do susto, ela não se abalou: ao longo do desfile, permaneceu sorridente e dividiu com Martinho da Vila o título de integrante mais fotografada da escola.

Por ter desfilado sem chuva - embora a pista ainda estivesse molhada, o que causou pelo menos um escorregão e queda de integrante da comissão de frente -, a Vila Isabel tem vantagem sobre a Viradouro entre as escolas que correm o risco de serem rebaixadas. Mas ainda falta muito para reviver a glória de 2013.

Casal da novela "Império" desfila pelo Salgueiro Foto: R7

Salgueiro

O Salgueiro fez um desfile de alegorias impecáveis ao falar de Minas Gerais e sua culinária. Após ter perdido o título para a Unidos da Tijuca no último carnaval por um décimo, a escola gastou R$ 10 milhões em carros alegóricos gigantes, de bom gosto e com efeitos especiais, e mostrou fantasias ricamente ornamentadas pela dupla de carnavalescos Marcia e Renato Lage, em seu 13º carnaval na agremiação da Tijuca.

Já na comissão de frente a escola arrebatou a Sapucaí. A princípio parecia uma apresentação muito comum entre as escolas: um grupo de índios para falar dos primeiros habitantes do Brasil, evoluindo numa coreografia pouco inventiva. Mas repentinamente eles sacavam do carro de apoio uma manta com um painel de LED que ora projetava imagens em 3D, ora formava a bandeira do Salgueiro. O público vibrou.

O abre-alas, que simbolizava a influência indígena na culinária mineira, impressionava pelas esculturas de lagartos, que tinham movimentos sincronizados e feições assustadoras.

No segundo carro, os atores Alexandre Nero, Leandra Leal e Lilia Cabral, protagonistas da novela das 21 horas da TV Globo, "Império", em torno de um império empresarial surgido de joias de pedras preciosas, representavam o diamante, a riqueza da terra do ouro. Mais um momento de arrebatamento das arquibancadas.

O vermelho do Salgueiro e o dourado da riqueza dominaram, assim como as referências às culturas negra e europeia, outras influências nos pratos da cozinha mineira.

A rainha da bateria Viviane Araújo encerrou seu desfile comemorando uma exibição classificada como "maravilhosa e perfeita". A escola chegou à dispersão levantando a arquibancada e arrancando gritos de "é campeã".

O ator Ailton Graça ficou empolgado com a exibição da escola, a quinta a desfilar nesta madrugada na Sapucaí. "Eu não tenho parâmetros para avaliar, meu coração está batendo a mil por hora. Eu vim desfilar como grande folião, sendo recebido de braços abertos nessa passarela", disse o ator, que completou: "que vença a melhor." (Idiana Tomazelli e Roberta Pennafort).

Joana Machado era um dos destaques da escola Foto: R7

Grande Rio

A primeira noite de desfiles do grupo de elite do carnaval carioca foi encerrada às 6h33, quando a Acadêmicos do Grande Rio, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, terminou seu desfile sobre o baralho. A escola fez um desfile correto, mas sem o luxo que anos atrás caracterizava a agremiação, que tem como patrono o empresário Jayder Soares, acusado de contravenção.

Se o luxo não é o mesmo, a presença de atores da TV Globo continua - há muitos anos a escola conta com a participação do elenco. A rainha da bateria foi a atriz Suzana Vieira, que fez par com o promoter David Brazil, rei da bateria. Entre os destaques figuraram Paloma Bernardi, Tayla Ayala, Antonia Fontenelle e Rayane Moraes, entre outros.

O desfile não chegou a empolgar a plateia, mas cada ator era ovacionado assim que identificado pelo público. Paloma causou frisson quando viu o namorado, Thiago Martins, numa frisa, correu em direção a ele e deu um beijo na boca, tão longo que um coordenador da escola chamou a atenção da atriz e pediu que ela voltasse à pista.

A apresentadora Sabrina Sato, rainha de bateria da Unidos de Vila Isabel, acompanhou o desfile da Grande Rio em um camarote e também recebeu cumprimentos de celebridades.

A Grande Rio pode até credenciar-se a voltar às seis que se apresentam no desfile das campeãs, mas não deve disputar o título.

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