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Ator de Cidade de Deus que vive na Cracolândia conta que papel lhe rendeu R$ 4.500

Rubens Sabino Silva foi encontrado na Cracolândia, em São Paulo, durante uma operação policial. A notícia tomou as manchetes dos principais portais de notícia do Brasil

O vicio no crack arruinou a vida do ator Foto: R7

O Gugu desta quinta-feira (30) contou a história de Rubens Sabino, o intérprete de Neguinho do filme Cidade de Deus. Em uma entrevista exclusiva, ele detalhou o sofrimento de viver na Cracolândia e a luta para abandonar o vício das drogas.

Rubens Sabino Silva foi encontrado na Cracolândia, em São Paulo, durante uma operação policial. A notícia tomou as manchetes dos principais portais de notícia do Brasil.

O vicio no crack arruinou a vida do ator. Porém, 13 anos depois do lançamento do filme Cidade de Deus, ele ainda é reconhecido nas ruas de São Paulo. 24 horas depois de ser expulso da Cracolândia, Rubens veio ao palco do Gugu para uma entrevista reveladora.

Leia entrevista

Gugu: O que aconteceu com a sua vida? Morava no Rio de Janeiro ou em São Paulo? 

Rubens:  Morava no Rio de Janeiro. Eu nasci em Santa Cruz, zona oeste do Rio, e tinha uma vida tranquila, como todo jovem negro que nasce na periferia. De repente, virei artista. Era um carinha que tinha uma mãe trabalhadeira e três irmãs ficando famoso 

Gugu: Ficou famoso por causa do filme? 

Rubens: Sim, mas, antes fiz um clipe do Rappa, o Minha Alma, e participei de alguns longas da Kátia Nunes. Na verdade, eu sempre fui sozinho. Nunca tive família. Só tenho três amigos que me acompanham até hoje.

Gugu: Só para entender a sua história: você morava na comunidade? 

Rubens: Eu morava em Santa Cruz, mas fugi de casa aos sete anos 

Gugu: Fugiu pra onde? 

Rubens: Eu fugi para Niterói. Tinha família, mais fugi de casa. Minha mãe batia muito na gente. Ela não bebia, não usava drogas, até porque era caretona, mas a pressão que uma mulher negra tinha para criar quatro filhos a deixou sensível. Então, ela meio de direcionava toda sua revolta na gente. Eu decidi sair fora! 

Gugu: E suas irmãs ficaram? 

Rubens: Minha irmã Patrícia fugiu primeiro. Foi de pequeno que percebi que a solução para sair daquele universo era repetir o mesmo comportamento da minha irmã. Aos 10 anos, eu já morava na Lapa [bairro do Rio de Janeiro], bebia umas cervejinhas e fumava um cigarro 

Gugu: Você já praticava algum tipo de delito? 

Rubens: Quando morava na Lapa, não. Aos sete anos, as pessoas me levavam para fazer parte da vida delas. Eu era um jovem que morava na rua, mas não usava drogas. Isso é difícil de se ver!   

Gugu: Como você vivia? 

Rubens: Naquela época em que eu era uma criança e tinha um rostinho bonito, não precisava de nada. Tinha comida. “Oi, Rubinho, que bonitinho, vem comer aqui em casa”. "Oi, Rubinho, tenho um tênis bonitinho pra você” [ele narra o tratamento que recebia das pessoas nas ruas]. Então, eu não precisava trabalhar. Depois de um tempo, eu fui me aproximando da malandragem e conhecendo os irmãos que vendiam as drogas.

Gugu: Não tinha nada escrito? Era tudo improvisado? 

Rubens: Não. A gente só errava quando eu falava uma gíria dos anos 2000, que era “Tú, tá ligado?". A gíria da década de 70 era “eu não quero a negação contigo, rapaz”, mas não sabia falar a palavra negação. Então, quando eu falava a gíria que estava acostumado, o diretor parava a cena e dava bronca

Gugu: Me conta uma coisa, você fez esse filme importantíssimo para o cinema nacional. Mas o que aconteceu depois? 

Rubens: Então, depois eu vim morar em São Paulo. Fui fazer estágio na produtora do Fernando Meirelles e eles alugaram um quartinho bem pequeno pra mim, em Pinheiros. Na época, eu ganhava R$ 250, o valor do salário mínimo 

Gugu: Você usava drogas nessa época? 

Rubens: Usava. Pra ser malandro e marginal, tem que estar sob o efeito de alguma substância. Não tem como você roubar ou traficar sem a substância. Essa é a verdade! 

Gugu: Quem ataca geralmente é o pessoal do tráfico? 

Rubens: Sim. O usuário de São Paulo tem o comportamento diferente do Rio. O viciado do Rio sobe a favela do Comando Vermelho e o cara que está vendendo as drogas é o mesmo que troca tiros com a polícia. Lá, o bandido não usa crack. Já em São Paulo é diferente. O cara que usa crack se comporta como um traficante e o próprio traficante gosta disso. Quando a polícia vai até ele, os viciados o protegem. São Paulo é sinistro!

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