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'Bodas no Monastério' ganha sua 1ª produção sul-americana, no Teatro São Pedro

Redação Folha Vitória

São Paulo - De um lado, a difícil relação com o governo soviético; de outro, a movimentação das tropas durante a 2ª Guerra Mundial. Acrescente à mistura o fato de que ele passava pelo fim de seu casamento e não é difícil imaginar o estado de espírito do compositor Sergei Prokofiev na Moscou do início de 1940. Desse contexto, no entanto, nasceria uma comédia: a ópera As Bodas no Monastério, que ganha a partir desta quarta, 26, sua primeira montagem sul-americana no Teatro São Pedro.

"É possível entender as Bodas como um exercício de escapismo, um sonho que permitiu a Prokofiev fugir, se distanciar de uma realidade temível. Mas nisso há também algum tipo de afirmação política", diz o diretor alemão Bruno Berger Gorski. Este é seu terceiro trabalho no Brasil - no Festival Amazonas de Ópera, ele já dirigiu Norma, de Bellini, e Condor, de Carlos Gomes, montagem que também fez temporada no Municipal de São Paulo. "É muito especial poder dirigir uma ópera como essa. Moro há 26 anos em Viena e nunca vi uma produção em cartaz. Perguntei a um amigo de Berlim e ele tem registro de apenas uma montagem. Ou seja, é muito raro ver este Prokofiev no palco. Apenas na Rússia ela parece gozar de bastante popularidade."

Bodas no Monastério é baseada em um libreto escrito no século 18 para uma ópera do inglês Thomas Linley, La Duenna, e narra uma série de encontros e desencontros amorosos na Sevilha da época. Mas é o dramaturgo francês Pierre-Auguste Beaumarchais que Berger Gorski evoca ao tratar da história. "Quando Mozart adaptou a peça As Bodas de Fígaro, uma ideia clara era o retrato do servo como mais inteligente que o nobre, que o senhor, o que em si já é algo revolucionário. A música de Mozart ressalta isso e de certa forma a ópera de Prokofiev está falando da mesma questão."

Em Prokofiev, Dom Jerome (o tenor Giovanni Tristacci) quer casar sua filha Louisa (a soprano Laura Duarte) com o ricaço Mendoza (o baixo Sávio Sperandio). Mas ela ama Antonio (o tenor Anibal Mancini). Por sua vez, Don Ferdinando (o barítono Johnny França), filho de Jerome, quer se casar com Clara d'Almanza (a soprano Marly Montoni), que vive reclusa e, para fugir das garras da mãe, resolve ir para um mosteiro. "Será a Duenna, a governanta (vivida por Lidia Schaffer), a responsável pela criação de um plano que garanta a união dos jovens casais e a dela própria com Mendoza, uma vez que ela também quer se dar bem de alguma forma", diz o diretor. "É, em certo sentido, a revolução dos empregados e isso me parece bastante interessante", completa.

Mas o contexto biográfico de Prokofiev no momento da composição também estará sobre o palco. "Ele estava se separando para poder se casar com a amante, Mira Mendelsson, que por sinal assina o texto da ópera. Então, para mim, há um paralelo possível: Don Antonio é como um jovem compositor apaixonado, que está o tempo todo sobre o palco, sonhando com um mundo diferente, assim como Prokofiev quando escrevia a obra", afirma Berger Gorski, que se diz particularmente contente de poder trabalhar, na montagem, com jovens cantores brasileiros, alguns deles integrantes da Academia do Teatro São Pedro.

A direção musical e regência do espetáculo ficará a cargo do maestro André dos Santos, que substitui Luiz Fernando Malheiro, anunciado previamente. "É uma música fascinante, que exige do ouvinte", diz Berger Gorski. "Há passagens líricas, românticas, mas elas contrastam com outras repletas de ironia, bastante modernas, que lembram Richard Strauss." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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