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Recordista de público filma em SP 'Um Namorado para Minha Mulher'

Redação Folha Vitória

São Paulo - Quinta-feira, 15. Um sol de rachar cozinha os miolos dos raros transeuntes que passam rapidamente pela Praça Benedito Calixto. Nem se dão conta de que está havendo uma filmagem, e que as duas mulheres na barraca que simula uma feira orgânica são rainhas da bilheteria no cinema brasileiro. Ingrid Guimarães é imbatível - a número 1. No caso de Meu Passado Me Condena, o 1, o sucesso podia ser creditado a Fábio Porchat, mas no 2 não havia mais como minimizar a contribuição de Miá Mello. O 1 fez 3,14 milhões de espectadores. Meu Passado 2 fez 2,57milhões, e num ano que está sendo difícil para o cinema brasileira.

A diretora de Um Namorado para Minha Mulher, o longa que está sendo filmado, é Júlia Rezende, que também dirigiu os dois Meu Passado. Quase 6 milhões de espectadores representam muita gente. Foi o público que a jovem diretora obteve com os dois filmes. Um Namorado surgiu como obra de encomenda. A distribuidora Paris, que criou uma divisão de produção, adquiriu os direitos da produção argentina Un Namorado para Ni Novia. Chamou Júlia para dirigir.

Quando isso ocorreu, Júlia ainda estava indo para Portugal para filmar Meu Passado 2. Todo o processo, do roteiro à filmagem, está somando um ano. Mais uns nove meses para estrear - a previsão é junho do ano que vem. Júlia não trabalha sobre um roteiro que lhe tenha sido imposto. Ao longo desse ano, ela mexeu muito no roteiro, a ponto de dividir o crédito com Lusa Silvestre. Não só ela. "Eu sempre participo muito na elaboração dos filmes que faço, mas essa é a primeira vez que vou ter um crédito", diz a entusiasmada Ingrid. E ela acrescenta: "Você escolheu um dia chave para visitar o set. É minha cena dramática".

Como todo filme de Júlia Rezende, Um Namorado trata de relacionamentos. Mas há diferenças. Aliás, o filme representa mudanças substanciais para muita gente. É o primeiro filme de Júlia que não é produzido por sua mãe (Mariza Leão) nem montado pela irmã (Maria). "Estou adorando. A equipe de produção reunida pela Paris é muito competente e já estou montando (com Letícia Giffoni)." Mesmo assim, ela trouxe seu diretor de fotografia (Dante Belluti) e o técnico de som (Felipe Machado) do Rio. "São meus anjos da guarda", justifica-se. A produtora Diane Maia, ex-O2 Filmes, que estreou na produtora da Paris com Carrossel - O Filme, está achando muito interessante essa mescla de artistas e técnicos de Rio e São Paulo. "É uma troca bem proveitosa para todo o mundo."

Na cena que está sendo filmada, Caco Ciocler entra correndo no set para tentar falar com Ingrid, acompanhada da amiga Miá. Na trama, eles formam um casal junto há 15 anos - outra novidade para a diretora. Meu Passado 1 é sobre um casal em lua de mel. Em Meu Passado 2, esse mesmo casal enfrenta uma crise aos três anos de casamento. "Estou gostando de abordar esse casal que tem mais tempo junto e cuja relação está desgastada", diz Júlia. Tão cansados estão um do outro que Caco, sem coragem de dizer que quer se separar, contrata um sujeito (Domingos Montagner) para seduzir sua mulher e forçar Ingrid a pedir o divórcio. Ela descobre e agora trocam acusações - ele tenta consertar a porcaria que fez.

Ela questiona: "Por que você simplesmente não falou?" Ele retruca: "Eu tentei, mas, cada vez que abro a boca, você acha que o assunto é sem importância". Ela se sente agredida com a acusação de mandona. Chama-o de bobão, covarde. A cena é repetida várias vezes. Caco Ciocler cumpre uma rotina entre uma tomada e outra. Movimenta-se, como se estivesse correndo, para entrar esbaforido na barraca de Ingrid. Ela diz escrupulosamente seu diálogo. Faz pequeníssimas mudanças. Numa delas, 'covarde' sai antes de 'bobão'. "O bom desse filme é que a gente teve uma fase de preparação, ensaiou. A Júlia dava a situação, mas não o diálogo pronto. A gente improvisava. Essa nossa embocadura foi para o diálogo definitivo."

Assim como o filme representa novidades, no plural, para a diretora, também representa para a estrela. Ingrid está sendo dirigida por uma mulher, e isso, ela garante, faz uma diferença enorme. "Colocamos muita coisa de nossos casamentos nas cenas e nos personagens." E Ingrid está morena. "Tenho alma de loira, não adianta, mas, para sublinhar o que esse filme tem de diferente, achamos (Júlia e ela) que teria de mudar. Acho que, no Telecine, o publico nem sabe mais em que filme estou. É sempre a mesma loira." Miá surpreende-se com a tranquilidade de filmar na rua. "Achei que ia ver algum agito no set, mas também, com esse calorão, só louco como você (ela brinca com o repórter) para visitar a gente debaixo desse sol."

O desafio da diretora, Júlia Rezende admite, é reinventar o humor sutil do filme argentino. "Não é um remake, é uma adaptação. Inclusive, mudamos bastante." O filme vai aumentar os milhões de espectadores dos filmes de Júlia? "Ah, é um filme de mercado e a gente se esforça para isso, mas confesso que sou desencanada." O repórter a entende - o melhor filme de Júlia, o mais maduro, é Ponte Aérea, que fez míseros 40 mil espectadores, cerca de 1% do primeiro Meu Passado Me Condena. Júlia não condena o público. Sabe que o blockbuster é necessário para a robustez do mercado, mas, em cada um de seus filmes, o que lhe interessa é falar de amor, e relações, com honestidade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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