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Stênio Garcia celebra 60 anos de carreira com peça 'O Último Lutador'

Redação Folha Vitória

Rio de Janeiro - Stênio Garcia não aparenta, mas tem 83 anos de vida e 60 de carreira. O estilo de vida simples, que lhe garante o vigor físico, inclui caminhadas extensas pelo Parque Estadual da Pedra Branca, na zona oeste do Rio, do qual é vizinho, prática de pilates, exercícios aeróbicos e ioga, alimentação natural, com inspiração na nutrição ayurvédica (indiana), e o plantio de árvores - gosta de homenagear os amigos que morreram, dando seus nomes às espécies frutíferas, que já somam 40.

"Comi a primeira maçã do Chico Anysio ano passado. A Marília Pêra é uma bergamota-do-céu", contava o ator na tarde de sexta-feira, 8, antes de entrar em cena para ensaiar no Teatro dos Quatro.

Mais identificado pelo público por seus personagens televisivos, Stênio decidiu celebrar os 60 anos de ofício no palco, onde tudo começou. Escrito para ele, O Último Lutador, texto de Marcos Nauer e Teresa Frota, que o coloca num ringue, patriarca de uma família de lutadores, acaba com 18 anos de afastamento, motivado pelos compromissos na TV Globo - ele encadeia trabalhos desde a década de 1960.

"Sou muito requisitado e as novelas e séries quase impedem de fazer teatro. A não ser que você seja o (Antônio) Fagundes, que conquistou o direito de só gravar três vezes por semana", brinca Stênio, lembrando o amigo feito em Carga Pesada, a série que protagonizou com ele por seis anos, nas décadas de 1970/1980 e 2000.

O sensato e leal Bino é o tipo preferido dos cerca de 200 que encarnou desde que estreou, numa montagem de festival no mais prestigioso palco carioca, o do Teatro Municipal. A peça inaugural se chamava O Anjo, e também tinha no elenco uma iniciante Tereza Rachel.

Foi nessa montagem que o jovem de 23 anos, capixaba da pequena Mimoso do Sul e radicado no Rio de Janeiro desde os 12, entendeu que seu caminho seria o teatro. Seguiu com Cacilda Becker, Walmor Chagas e Ziembinski, em sua recém-criada companhia, com a qual viajaria o Brasil em seguidas encenações.

Até então não despontara o desejo de ser ator. A semente foi plantada quando Stênio, perto dos 20 anos, começou a namorar uma menina que fazia curso de teatro à noite. "Eu ficava esperando que ela saísse para levá-la em casa e ganhar uns beijinhos. Assistia aos ensaios, arremedava as falas. Um dia, o ator faltou e me chamaram. Eu falei: ‘Eu não sou artista! Sou homem!’"

Graduou-se no Conservatório Nacional de Teatro dois anos depois. Na sequência, solidificaria a formação trabalhando com diretores robustos, como o próprio Ziembinski, Flávio Rangel, Antunes Filho, Antônio Abujamra.

"Stênio tem todos os predicados de um ator de verdade. Na TV, poderia ter ficado rotulado muito facilmente, mas fez todos os tipos de papel: o caminhoneiro, o popular, o executivo, o bobo da corte", define Sérgio Módena, que o dirige em O Último Lutador.

Marcada para a sexta-feira dia 8, a estreia foi adiada para a próxima sexta, 15, por causa de um atraso na instalação do cenário. Nada relacionado ao fato de Stênio e sua mulher, Mari Saade, também no elenco, terem pego caxumba perto do Natal. A doença deixou o ator com a audição do ouvido esquerdo prejudicada (a princípio, temporariamente).

Stênio não está acostumado às limitações que a idade traz. Cuida-se bem: não bebe, não fuma, trabalha o corpo prazerosa e intensamente - o resultado se viu quando surgiram na internet fotos suas nu com a mulher (a polícia investiga o caso). "Eu não liguei muito: estava com a minha mulher, não invadi o espaço de ninguém. Pelo contrário, invadiram o meu. Não tinha sacanagem, mas poderia ter, porque a gente faz", debocha Stênio, que no passado declarou praticar sexo tântrico, mais um ingrediente de sua boa forma. "Denunciamos porque é algo grave, tem meninas de 12, 13 anos que se matam por causa disso, é algo muito violento."

Na preparação de Que Rei Sou Eu?, novela de 1989 em que interpretou o bobo da corte Corcoran, treinou acrobacia. "Dei meu primeiro salto mortal aos 57 anos", orgulha-se. Para ser um indígena em Brincando nos Campos do Senhor (1991), filme norte-americano de Hector Babenco, passou cinco meses em tribos, correndo descalço por áreas de mata, em busca do antigesto, a libertação de sua atitude de homem branco.

Nos últimos dois meses, descontando o repouso por causa da caxumba, fez aulas de jiu-jítsu para O Último Lutador. No fim da vida, Caleb, seu personagem, decide restaurar laços familiares abalados pelo tempo e pelo acúmulo de mágoas. Ele convoca o filho para ir atrás de um neto perdido (papel de Marcos Nauer), que sonha ver um lutador de luta livre de sucesso, o que ele próprio não conseguiu ser - tampouco seus filhos. Resolve criar um campeonato e levar a família para o ringue. A luta é usada como metáfora dos embates entre os parentes, conta Nauer, que escreveu a peça pensando somente em Stênio para o papel central, mesmo não o conhecendo pessoalmente e sem saber se ele toparia encená-la.

Ele já praticou caratê e é admirador de outras artes marciais. Acompanha a trajetória de clãs de lutadores, como os Gracies e os Nogueiras (Minotauro e Minotouro) e chegou a comentar na Globo o combate entre o brasileiro José Aldo e o irlandês Conor McGregor, há um mês.

"O uso da arte marcial na linguagem teatral é uma grande novidade. Achei que valia comemorar assim", diz ainda Stênio, que também completa, em 2016, 50 anos de TV. "Tenho 50 prêmios, que deixei no teatro que tem meu nome, em Mimoso do Sul. Na semana do meu aniversário (em 28 de abril), a prefeitura promove uma série de eventos, festival de sanfona e viola, apresentação de grupos de teatro amadores... Acho que fiz história", acrescenta o ator.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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