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Wilco e Libertines, como yin-yang

Redação Folha Vitória

São Paulo - Nem tudo é luz, nem escuridão. Nem tudo é delicadeza pura ou selvageria desvairada. Diametralmente opostas no circuito da música independente, Wilco e The Libertines, as duas principais atrações da quarta edição do antenado Popload Festival, realizada na tarde e noite deste sábado, 8, se mostraram complementares - e necessárias. No lado mais claro, a norte-americana Wilco veio a São Paulo pela primeira vez liderada por um sorridente Jeff Tweedy. O sexteto tem na candura agridoce cantada pelo seu vocalista a força motriz para arrastar um séquito fiel de fãs para onde forem. No corner sombrio estava a problemática The Libertines, criada a partir da combustão do encontro entre Pete Doherty e Carl Barât, um quarteto lo-fi no estado mais puro que o início dos anos 2000 foi capaz de criar.

Pelo lado do Wilco, é escancarada a virtuose dos seis integrantes cada vez melhores em suas funções. No palco, eles são capazes de criar e recriar as próprias canções, inverter tempos, acrescentar camadas e ampliar passagens e solos. Doherty e Barât, por sua vez, são suor, acordes por vezes tortos e muito bromance entre eles.

O Popload Festival deste ano, contudo, mostrou que não existe maniqueísmo musical quando se trata dessas bandas. Há, sim, escuridão no Wilco. E ruído é o que não falta para Tweedy e sua trupe. Barulhento como uma banda de garagem recém-formada - e se divertindo com isso -, o grupo usa o tempo de estrada (20 anos) a seu favor no palco. Com algumas mudanças com relação ao repertório escolhido para o show no Rio de Janeiro, na quinta, o Wilco favoreceu a arena na qual se apresentava. Houve, por exemplo, mais espaço para o disco sem firulas Sky Blue Sky, com as lindas Either Way, Impossible Germany e Side With the Seeds.

A melancolia inerente na voz e nas composições de Jeff Tweedy, no palco, ganham outra dimensão. Nos álbuns de estúdio, os versos ardidos escorrem vagarosos até encontrarem as feridas nos corações dos ouvintes. Ao vivo, não há espaço para isso. Por mais que Tweedy cante o desamor, a desilusão, a saudade e a ausência, o restante do Wilco preenche e potencializa os dizeres do vocalista. Nada de sutileza ou delicadeza. No palco, a banda distribui bordoadas sem dó.

O Libertines também debutava em solo paulistano com sua formação original. Sem a carga sonora da atração anterior, o grupo suou para se fazer ouvir. O Wilco representa a maturidade em sua totalidade, sonora e nas suas temáticas reflexivas, enquanto os libertinos de Londres são o expoente da juventude sem limites. Drogas e álcool foram a ruína da banda.

Há, nos acordes tortos e vocais desleixados, a beleza da petulância jovem. Doherty e Barât, embora próximos dos 40 anos de idade, ainda são garotos no palco. Dividem infinitas vezes o mesmo microfone e fazem suas guitarras conversarem fervorosamente como dois amigos bêbados em um bar - um por vezes interrompendo o outro, sem discutir. Reunidos na frente do palco, os quatro integrantes do grupo se abraçaram e agradeceram aos fãs que se mantiveram ali. Com um passado não tão distante bastante conturbado, cada performance é uma vitória.

Embora díspares, as bandas foram complementares como um yin-yang indie, na qual duas forças opostas coexistem e ainda apresentam características do outro - o Wilco pode ser tão selvagem quanto o Libertines, assim como a banda britânica pode ser delicada tal qual a atração vinda de Chicago.

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