Personagens Olímpicos: aos 43 anos, Robert Scheidt sonha com o tricampeonato olímpico

Robert Scheidt sentiu o coração disparar, como se fosse saltar pela boca. Tudo havia acontecido rápido demais e quando ele se refez do susto uma dúvida angustiante lhe atravessa o espírito.

Ele ainda era um jovem de 23 anos e a bordo de seu barco da classe Laser vivia, naquele 17 de julho de 1996, a expectativa da contagem regressiva para o início das competições de vela dos Jogos de Atlanta. Tudo corria bem no litoral da cidade de Savannah, na costa do estado norte-americano da Geórgia – um local distante 400 quilômetros de Atlanta e onde as competições da vela olímpica seriam disputadas – quando Robert Scheidt se viu diante de uma situação apavorante para ele.

Ao realizar um movimento em seu barco, a corrente de prata que ele trazia pendurada no pescoço enroscou em alguma parte da pequena embarcação e partiu-se. O reflexo aguçado do velejador impediu que a correntinha escapulisse para as águas do Atlântico Norte e se perdesse para sempre naquela imensidão azul. A primeira sensação foi de alívio. Mas rapidamente uma agonia tomou conta de Robert Scheidt. Ele estava prestes a disputar sua primeira Olimpíada. Mas como poderia encarar o maior desafio de sua vida sem levar no peito aquela corrente, que para ele tinha um significado muito além de um simples adorno?

“Eu tenho uma correntinha, que é essa correntinha de prata aqui (passados 20 anos do episódio, Scheidt ainda a traz no pescoço e a tira de baixo da camisa para mostrá-la ao entrevistador), que a minha mãe me deu há muitos anos. Ela sempre foi um amuleto para mim. Por algum motivo, eu a enrosquei no barco e ela quebrou. Por sorte, consegui salvar e ela não caiu na água e afundou. Mas eu fiquei com a corrente quebrada. Ia começar a Olimpíada em dois dias e eu não tinha quem consertasse aquilo. E o meu técnico, o Cláudio, pegou um fio dental e conseguiu unir os elos da corrente e amarrar. Eu corri com essa corrente com o fio dental nos Jogos de Atlanta e isso meu deu a energia que eu precisava, porque eu sabia que sem ela eu não ia seguro para a regata”, recorda Scheidt.

A ideia engenhosa de Cláudio Biekarck – um experiente velejador que foi campeão mundial na classe Pinguim em 1970 e que tem no currículo várias medalhas em Jogos Pan-Americanos, entre elas o ouro na edição de Caracas 1983, na classe Lightining –, que treinou Scheidt entre 1996 e 2004, tranqüilizou Robert e deu ao jovem a paz de espírito para que ele pudesse se concentrar apenas na missão que ele teria pela frente. Ao final daquela aventura, a vela do Brasil celebraria sua quarta medalha de ouro olímpica.

A disputa com Peter Tanscheit

Quando desembarcou nos Estados Unidos naquele verão de 1996 para disputar os Jogos Olímpicos de Atlanta, Robert Scheidt, apesar de ainda muito novo, estava longe de ser apenas um atleta promissor na classe Laser. Pelo contrário. Ali, o paulista já era um dos melhores do planeta e havia acumulado diversas conquistas internacionais, entre elas dois títulos mundiais, conquistados em 1995, na Espanha, e naquele ano olímpico, na África do Sul.

Além do bom desempenho nas competições, Scheidt sentia-se fortalecido emocionalmente. A disputa interna pela vaga olímpica na classe Laser no Brasil tinha sido apertada e superar o rival Peter Tanscheit só reforçou no paulista a ideia de que ele poderia, de fato, almejar algo grandioso em Atlanta.

“Uma coisa muito importante para mim, ainda prévia para minha primeira Olimpíada, foi a rivalidade que eu tive, tão intensa, com um velejador aqui do Rio de Janeiro, o Peter Tanscheit. Ele já era campeão mundial de Laser, era campeão pan-americano de Laser, e quando eu comecei ele era uma espécie de atleta imbatível. Então foi um grande exemplo para mim”, lembra Scheidt, que fala de Peter como uma grande influência.

“Eu comecei a viajar para fora do Brasil para competir com ele, me espelhei muito na seriedade e na disciplina que ele tinha. Ele foi o primeiro a começar a se dedicar muito para a parte física do esporte, a praticar esportes paralelos à vela, como corrida, natação, bicicleta, e eu fui na trilha dele. Até o momento em que eu comecei a velejar próximo do nível dele e a gente teve a seletiva para 1996, que foi duríssima. Naquele momento, nós estávamos entre os melhores velejadores de Laser do mundo, mas só um poderia ir para os Jogos. Foi aqui no Rio aquela seletiva, em março de 1996. Foi muito dura, mas eu acabei conseguindo vencer e me classifiquei para a Olimpíada”, detalha Robert.

“Então, o fato de eu já ter superado um obstáculo tão difícil quanto esse já me preparou muito para o desafio mental dos Jogos de Atlanta. Apesar de serem meus primeiros Jogos, eu já cheguei maduro. Já cheguei com dois títulos mundiais e com uma disputa duríssima com o Tanscheit”, reforça.

Favorito aos 23 anos

Disputar as Olimpíadas pela primeira vez é sempre uma experiência inesquecível. Para a maioria dos novatos, trata-se de uma oportunidade de pavimentar o caminho rumo a pretensões de um dia chegar ao pódio nos Jogos. No caso Robert Scheidt, contudo, ele partiu para sua estreia olímpica carregando o peso do favoritismo.

“Eu já cheguei como o favorito porque já tinha dois títulos mundiais e já tinha vencido a Pré-Olímpica em Atlanta, no mesmo local dos Jogos um ano antes, quando eu fui primeiro e o Tanscheit foi segundo. Então eu já cheguei como favorito”, reconhece.

E não tardou para que ele percebesse que, em se tratando de Jogos Olímpicos, tudo ali era completamente diferente do que ele havia vivido até então em qualquer outra competição.

“Foi uma ansiedade grande antes dos Jogos, principalmente uma semana antes das Olimpíadas. Eu não estava acostumado a falar tanto com a imprensa e a imprensa começou a me assediar mais, porque já estavam me cotando como medalhista olímpico. Então houve um maior assédio e a gente teve que conviver com isso naquela semana antes da Olimpíada. Mas no momento em que começou a Olimpíada eu me concentrei bem, fiquei focado na regatas”, conta Scheidt.

Lembranças do desfile de abertura

De sua primeira participação olímpica, Robert Scheidt traz viva na memória a lembrança de praticamente tudo o que experimentou naqueles Jogos. “A gente partiu de São Paulo com a equipe de vela. Primeiro fomos para Atlanta. A gente chegou umas duas semanas antes dos Jogos e de Atlanta a gente teve que se deslocar para Savannah, onde a parte da vela foi organizada, que era mais ou menos 400 quilômetros de Atlanta. Então foi uma viagem grande de ônibus até Savannah, onde a gente se preparou”, lembra.

“Depois, teve a cerimônia de abertura e a gente fez essa viagem de ônibus de novo. Hoje em dia, o pessoal fala que ir para cerimônia desgasta muito. Mas daquela vez a gente teve que sair de manhã, porque a cerimônia foi à noite, e retornamos para nossa base em Savannah na madrugada com praticamente o sol nascendo no dia seguinte. Então foi bem desgastante. Mas foi uma emoção enorme estar naquele estádio, entrar com a delegação brasileira e ver aquela apresentação maravilhosa, com o Muhammad Ali acendendo a Pira Olímpica e estando em companhia de grandes atletas. Foi ali que eu conheci o Fernando Meligeni, que ficou meu grande amigo depois, mais pra frente. E ali eu senti realmente que estavam começando os Jogos. Mas, ao mesmo tempo, eu sentia que não podia ficar inebriado com o clima dos Jogos, que aquilo não bastava. Eu tinha que ir para a água e executar aquilo que eu sabia”, prossegue.

Nasce a rivalidade com Ben Ainslie

Passadas as emoções do desfile de abertura, era hora de entrar em ação. E as regatas da classe Laser em Savannah nos Jogos de 1996 marcaram o início da carreira olímpica de duas lendas da vela: Robert Scheidt e Ben Ainslie, que se transformaria no velejador olímpico mais bem-sucedido da história, com quatro medalhas de ouro seguidas (2000, 2004, 2008 e 2012).

O britânico, então com apenas 19 anos, também estreava em Olimpíadas e não tardou para que ele e Scheidt monopolizassem a batalha pelo ouro. No total, foram disputadas 11 regatas na classe Laser em 1996. Na estreia, Scheidt começou bem, com um segundo lugar, enquanto Ainslie patinou e cruzou a linha de chegada na modesta 28ª colocação entre os 56 barcos concorrentes.

Mas a partir daí, Robert Scheidt e Ben Ainslie trataram de dar as cartas. Nas nove regatas seguintes, Scheidt venceu três (a quinta, a nona e a décima) e Ainslie faturou duas (a sexta e a oitava). O brasileiro ainda terminaria entre os três primeiros em três ocasiões (um segundo lugar na oitava regata e duas vezes em terceiro, na terceira e na sexta provas), enquanto o britânico fez isso mais quatro vezes (foram quatro segundo lugares, nas quarta, quinta, sétima e décima regatas).

“Nós éramos bem superiores ao resto. Pelo fato de a gente ter essa rivalidade, um puxou o outro tanto que a gente chegou em um nível que fez de nós dois individualmente muito melhores do que a gente poderia ser”

Com isso, os dois brigavam pelo ouro quando a 11ª e decisiva regata foi disputada no dia 30 de julho. Na noite anterior, Robert Scheidt viveu outra experiência diferente. Em Savannah, ele descobriu, pela primeira vez, como a véspera da disputa de um título olímpico é desconfortável.

“No dia do aniversário do meu pai, que é 29 de julho, eu já garanti uma medalha olímpica. Eu garanti no mínimo a prata. E para o dia seguinte ficou a disputa pelo ouro”, conta Scheidt. “Eu acho que qualquer atleta que fala que dorme perfeitamente bem (antes de uma final olímpica) está mentindo. É uma noite de muita ansiedade. É um resultado importantíssimo para a sua vida no dia seguinte. Mas eu acho que eu já estava bem maduro para aquele momento. Eu já tinha consciência de que se eu velejasse o que eu sabia eu tinha condições de ganhar. Havia uma certa ansiedade até o momento da regata, mas no momento em que começasse o procedimento da largada eu ia focar nas coisa que funcionam ali na hora. Foi uma noite difícil, eu pensei muito, mas não afetou a maneira que eu velejei no dia seguinte e isso é o que é importante. Ansiedade todos os atletas vão enfrentar. Como você lida com ela é o que faz a diferença”, ensina.

Declassificação dourada

Em 30 de julho de 1996, Robert Scheidt acordou com tudo o que ele tinha que fazer muito bem mapeado na cabeça. Os outros 54 rivais não existiam para o brasileiro. Naquele dia, ele entraria em seu barco para travar uma batalha particular com Ben Ainslie. Ao final, o brasileiro sabia que um dos dois voltaria para terra consagrado e levaria para casa a medalha de ouro. O desfecho, entretanto, se desenhou de uma maneira completamente inesperada.

“A nossa estratégia naquele último dia era ficar próximo ao inglês. Porque a única chance de eu não ganhar a medalha de ouro era se o inglês colocasse cinco posições entre ele e eu”, recorda Scheidt.

“Então era uma situação bem difícil para ele. Ele ia ter que fazer uma coisa muito especial para ganhar a regata e me colocar em sexto lugar. A nossa estratégia era colar no inglês. No momento da largada, a gente teve uma chamada geral, porque muitos atletas estavam escapando na largada”, prossegue o brasileiro. Na verdade, depois de quatro saídas invalidadas pelo fato de muitos barcos terem queimado, a organização determinou que quem voltasse a queimar seria desclassificado.

“Na largada final, eu estava próximo a ele (Ben Ainslie ) e nós dois queimamos, porque ele não queria que eu largasse na frente. Ele sabia que eu largasse na frente eu iria tirar o vento dele e ele provavelmente não iria conseguir chegar na frente da regata”, continua Scheidt.

“Ele não queria deixar isso acontecer e foi chegando mais próximo da linha. Eu puxei mais um pouco, ele puxou mais um pouco e os dois acabaram cruzando a linha de largada antes do tempo e fomos os dois desclassificados”, prossegue o paulista.

E esse foi o final da história. Com Ben Ainslie fora da parada, Robert Scheidt, mesmo também tendo sido desclassificado da regata final, se tornou, naquela sexta-feira, o novo campeão olímpico do Brasil. Scheidt reconhece que não foi o final que ele esperava. Mas o objetivo maior havia sido alcançado.

“Foi uma situação um pouco de anticlímax ganhar uma Olimpíada assim, sendo desclassificado da última prova. Mas é o tal negócio: você é o medalhista de ouro e aquilo é o mais importante. Não é muito como você ganhou, mas o fato de você ter ganho”, ressalta o paulista.

“Eu esperava correr a regata e no final acabou acontecendo de um jeito que eu não estava esperando. Então demorou um pouco para cair a ficha de que eu tinha ganho. Um velejador amigo meu, que compete pelo Chile (Luis Echenique), passou por mim e falou: ‘Olha Robert, você e o inglês largaram escapados e você ganhou a medalha de ouro’. Eu falei: ‘É? Deixa eu lá ver na losa, na comissão de regata’. E realmente estava lá: GRB (Great Britain), Brasil e mais alguns outros e com isso a gente nem teve que correr a regata final”, detalha.

“O que é importante é a regularidade na vela. Não adianta você ir muito bem em uma prova e mal na outra. Então eu consegui manter uma média e a disputa com o inglês foi até o final. Ele era ainda mais jovem do que eu e vinha em uma ascensão muito grande nos últimos meses antes das Olimpíadas. Mas felizmente eu cheguei com um descarte melhor. Eu podia descartar duas regatas e os meus descartes eram melhores do que os dele”, encerra Scheidt.

Emoção indescritível

Não importa o quão articulado um atleta seja. Traduzir em palavras o sentimento de subir ao pódio para receber uma medalha de ouro olímpica é um exercício que exige um esforço considerável de muitos campeões. Com Robert Scheidt não é diferente. Passados 20 anos de seu primeiro triunfo nos Jogos, ele ainda encontra dificuldades para explicar o que sentiu naquele 30 de julho quando recebeu a medalha dourada.

“Você se sente no topo do mundo. É uma sensação difícil de descrever. Naquele momento ainda demorou um pouco para cair a ficha porque eu não tive que correr a regata. Então não foi aquela adrenalina da regata, do tempo de uma hora da regata toda. De repente, naquela situação, tudo foi definido ali em um tempo muito menor do que eu esperava. Então demorou para cair a ficha. Mas quando eu voltei pra terra e o pessoal começou a me abraçar e me jogaram na água, me enrolaram na bandeira do Brasil, e depois já teve uma cerimônia de pódio logo em seguida, ali eu comecei a sentir uma emoção muito forte mesmo. Passei pelo barco onde minha mãe e meu pai estavam assistindo a regata, eles estavam lá, de espectadores, e foi incrível, porque eu devo tudo a eles. Eles foram a minha base e me fizeram chegar lá”, agradece.

“Eu acho que eu comecei a valorizar mais essa sensação quando eu era mais maduro na vida, quando eu tinha mais pra perto de 30 anos. Ali eu comecei a descobrir como era único aquele momento. Como em 1996 era a minha primeira Olimpíada e eu já vinha ganhando muitos torneios antes da Olimpíada, naquele momento eu me senti muito bem, muito feliz, mas era uma vitória a mais. Naquele momento eu ainda não conseguia sentir como era importante. Depois que eu perdi a regata final em Sydney (nos Jogos Olímpicos de 2000) para reconquistar depois em Atenas (em 2004) foi que eu fiquei muito mais emocionado e entendi mais o significado e a importância do que era uma medalha de ouro olímpica”.

Retorno e mudança de planos

Robert Scheidt era um jovem campeão olímpico quando retornou ao Brasil. E o impacto da mudança ele sentiu logo que desceu do avião.

“Quando eu cheguei ao Brasil, a quantidade de pessoas que recebeu a gente no aeroporto era impressionante. Amigos do clube, amigos da escola, da faculdade, pessoas que você não via havia muito tempo, a imprensa toda esperando a gente… Depois, a gente fez um giro por São Paulo em carro aberto. E aquilo era início de agosto, tinha uma frente fria, estava bem frio, e eu só com uma camisetinha”, lembra Scheidt, que se recorda com carinho de uma companhia inesquecível que ele teve naquele dia.

“Passamos um frio danado no carro aberto, mas foi uma emoção. A gente passou pela Avenida Paulista, pela Faria Lima, por toda a cidade, e onde a gente estava tinha gente na rua acenando. E foi muito especial porque eu sobrinho Nicholas esteve comigo lá no carro. Era o sonho dele andar em um carro de bombeiro. Ele estava com cinco, seis anos, e andar em um carro de bombeiro foi o máximo e também por estar ali com o tio dele. A parada final foi no Yacht Club Santo Amaro, que é onde eu iniciei na vela. Os sócios do clube estavam lá e tinha muita gente esperando. Ai eu falei algumas palavras para o pessoal e a gente teve uma comemoração, uma festa, uma homenagem e foi noite adentro”.

O bi que quase veio em Sydney

Se houve uma consequência determinante da medalha de ouro em Atlanta na vida de Robert Scheidt foi que aquele resultado nas Olimpíadas mudou completamente todo o seu futuro como atleta. Afinal, os planos profissionais já estavam traçados quando ele embarcou para os Jogos Olímpicos de 1996.

“Antes da Olimpíada, a minha carreira profissional estava mais ou menos assim: Eu vou para a Olimpíada em 1996 e depois eu vou trabalhar. Eu me formei em administração de empresas um pouco antes de ir para a Olimpíada e a minha ideia era trabalhar. Mas depois que eu voltei com a medalha de ouro eu pensei: ‘Agora eu vou largar tudo isso e vou trabalhar? Não sei se eu vou ser feliz. Eu gosto de velejar'”, narra Scheidt.

Decidido a seguir por mais quatro anos até os Jogos de Sydney 2000 e com os ânimos reforçados pela conquista de mais um título mundial na Laser em 1997, no Chile, Robert Scheidt manteve-se entre os melhores do mundo naquele ciclo. E quando chegou à Austrália para as Olimpíadas de Sydney, ele estava voando baixo e com a confiança em patamares elevadíssimos devido à recente conquista do quarto título mundial na Laser naquele ano, no México.

Na Oceania, Robert Scheidt esteve muito perto de repetir o triunfo de quatro anos antes em Atlanta. Novamente seu principal rival, Ben Ainslie, estava lá para travar com o brasileiro uma luta pelo ouro. Nas 10 primeiras regatas, Scheidt mostrou-se superior ao rival. À vitória na primeira prova seguiram-se outras quatro, na quarta, sexta, nova e décima disputas.

Do outro lado, Ben Ainslie alternava bons resultados, como os primeiros lugares na segunda e terceira regatas, com colocações irregulares para um atleta de seu padrão, já que, à exceção de um terceiro lugar na quarta prova, ele não ficou mais entre os três primeiros em nenhuma das outras sete regatas.

Isso tudo somado fez com que Robert Scheidt partisse para a 11ª e última regata na Oceania com enormes chances de chegar à segunda medalha de ouro olímpica. Mas como bem se lembram os que acompanharam aqueles Jogos, as Olimpíadas de Sydney foram cruéis com os brasileiros, que retornariam para casa sem nenhuma medalha dourada pela primeira vez desde a edição de Montreal 1976.

“Se eu chegasse entre os 20 primeiros, ele precisava chegar seis posições na minha frente. Se eu chegasse atrás do 20º lugar, o resultado dele não importava. Ele já ganhava (o ouro)”, lembra Scheidt, referindo-se à matemática antes da largada para a última regata. “Então, para ele, era muito mais fácil tentar me atrapalhar para eu chegar atrás do 20º lugar do que velejar livre e contar com seis velejadores entre eu e ele. Ele sabia que com a velocidade que eu tinha isso era muito difícil”, continua.

“No final, ele optou por fazer uma regata muito agressiva para tentar me jogar para trás. A gente, a 10 segundos da largada, teve uma colisão e esse foi o meu grande erro: eu acreditei que naquela regra eu tinha sido o culpado pela colisão e eu fiz uma penalidade. Com isso, eu fiquei para trás na regata. Ele começou a me marcar e ali eu perdi a chance de chegar entre os 20 primeiros. O meu grande erro foi ter feito aquela penalidade no início. Eu deveria ter feito a regata e depois ido para o protesto e para o júri decidir. Ia ser muito mais difícil você mudar o resultado de uma Olimpíada no júri do que você correr a regata inteira já largando atrás. Eu aprendi muito com aquilo”, explica o velejador.

“A grande realidade é que eu não estava pronto para uma estratégia tão agressiva dele. Depois daquilo eu comecei a estudar muitos livros sobre aquele tipo de estratégia, melhorei muito como velejador, mas doeu muito aquele momento. Foi muito frustrante saber que a medalha de ouro estava tão próxima e ela escapou. Aquela Olimpíada para mim foi onde eu mais amadureci pela derrota. Foi onde eu mais sofri por aquilo que aconteceu. Eu fiquei, em um primeiro momento, muito triste até aquela noite da final. Eu saí andando pelas ruas de Sydney assim, meio sem rumo. Tudo é muito relativo na questão do resultado. Quando você sente que está muito próximo do ouro, a prata tem um sabor diferente. Já em Beijing (Jogos Olímpicos de Pequim 2008, quando Scheidt competiu pela primeira vez na classe Star ao lado de Bruno Prada) foi uma sensação de superação. Eu vinha em oitavo lugar, muito longe da medalha, e acabar com a prata foi uma vitória. Então é muito relativa essa sensação”, desabafa o velejador.

A coroação em Atenas

Com um ouro e uma prata olímpica na conta, quatro títulos mundiais na Laser no currículo e as lições das Olimpíadas de Sydney ainda latentes, Robert Scheidt voltou para casa determinado a se preparar para tentar alcançar, quatro anos depois, em Atenas 2004, a medalha dourada que escapou na Austrália.

Em seu terceiro ciclo olímpico, Robert Scheidt engatou as marchas e tornou-se ainda mais veloz e produtivo. Vieram os títulos mundiais em 2001, na Irlanda; outros dois em 2002, (naquele ano foram realizados, separadamente, o Mundial de Vela da ISAF, a Federação Internacional de Vela, e o Mundial de Laser, ambos vencidos por Robert Scheidt) e, finalmente, o oitavo título mundial em 2004, na Turquia. No geral, o enredo era bem parecido com o de quatro anos antes, na preparação para Sydney. Só que, desta vez, as Olimpíadas de Atenas reservavam um final espetacular para Robert Scheidt.

Sem o rival na cola

Nos Jogos de Atenas 2004, Scheidt experimentou, pela primeira vez, a sensação de disputar uma Olimpíada sem ter que se preocupar com o arquirrival Ben Ainslie. O britânico tinha migrado para a classe Finn e, sem ele na parada, o brasileiro cumpriu muito bem a estratégia de manter uma regularidade durante todas as 11 regatas que teria pela frente.

“Atenas eu acho que foi meu auge físico, de experiência mental, de agüentar pressão. Eu estava com 31 anos, já vinha para minha terceira Olimpíada, já tinha chegado a duas Olimpíadas como favorito, já tinha ganho o ouro, já tinha ganho a prata, já tinha ganho oito Mundiais quando cheguei lá e, no ano de 2004, eu não perdi nenhuma competição que eu participei. Eu disputei seis competições antes dos Jogos e ganhei todas”, recorda Robert, que foi obrigado a fechar a boca na reta final da preparação.

“Eu cheguei como o grande favorito na Olimpíada. Mas a Olimpíada foi disputada em uma condição que eu não gostava, que era com vento fraco. Então eu tive que fazer um grande sacrifício. Eu fiz um regime enorme. Baixei para 77, 78 quilos e o meu peso normalmente é 81, 80. Eu já sou um cara magro e então é difícil perder mais peso ainda. Foi duro. Eu comia muito pouco, fazia muito esporte aeróbico, mas valeu a pena porque eu comecei a velejar muito rápido também no vento fraco. Eu supri essa deficiência que eu tinha e fiz uma Olimpíada muito regular. Não fiz uma Olimpíada excepcional em termos de resultado. Só ganhei uma regata (na terceira prova), mas eu estava ali sempre entre os 10 primeiros. Eu fiz uma regata muito estratégia, muito pensando na média”, detalha.

No rastro de Adhemar

Para Scheidt, a 11ª e decisiva regata foi tão marcante que ele ainda hoje é capaz de narrá-la com incrível precisão de detalhes. “Alguns velejadores, como o austríaco que foi medalhista de prata (Andreas Geritzer), ganharam várias regatas, mas foram mal em outras. Então eu cheguei à última regata em uma posição não tão extremamente confortável, mas com uma certa distância para o austríaco. Bastava eu chegar até seis posições atrás dele”, relembra.

“Foi uma regata final muito tensa, porque no último dia não tinha vento. Então a gente foi para a água meio-dia e ficamos esperando até quatro horas da tarde sob um sol escaldante em Atenas, 40 graus em agosto. Eu me lembro ficando no bote de borracha esperando embaixo de uma sombrinha com o meu técnico. E às 16h30 era o limite para largar a regata. Se desse quatro e meia da tarde não ia mais ter a regata e eu era campeão olímpico. Então aquela espera, das quatro horas finais, fazia você pensar: ‘Vai ter regata, não vai ter regata…'”, continua.

“Eu comecei a me forçar a pensar: ‘Vai ter a regata, porque se eu ficar torcendo para não ter a regata, se ela chegar a acontecer eu já vou entrar derrotado’. Então eu fiquei me forçando e o Cláudio tentou me tirar daquela situação, passou a contar a história dele, falar histórias de outras coisas que estavam acontecendo, falar sobre futebol, falar sobre outros esportes dos Jogos Olímpicos, tudo para fazer o tempo passar mais rápido para mim”, prossegue.

Como se não bastasse a angustiante espera, a prova, depois de iniciada, teve de ser interrompida em uma situação que beneficiou Scheidt. “Teve uma primeira largada, quando tinha vento, mas o vento logo depois acabou. Eu não estava indo bem na regata e ela foi anulada, por sorte. Nós voltamos, fizemos um novo procedimento, e aí largamos para a regata. Eu tive que tomar uma decisão que foi crucial naquele momento. O austríaco estava indo para o lado esquerdo da raia e o inglês que estava em terceiro lugar (Paul Goodison, que terminou os Jogos em quarto) foi para o lado direito. Aí eu tive que dar aquela olhadinha e disse: ‘Acho que tem mais vento na esquerda, vamos pra lá’. E meu instinto acertou. Eu fui para o lado esquerdo. Foi uma regata muito curta, porque não tinha vento. Eu já montei em décimo lugar, mas na frente do austríaco e na frente do inglês. Recuperei até sexto, sempre olhando o inglês e o austríaco, e ali foi só cruzar a linha de chegada”.

No dia 22 de agosto de 2004, um domingo, Robert Scheidt chegou ao bicampeonato olímpico, enchendo o Brasil de orgulho. Mais do que isso, fez história por ter ido além do ouro em Atenas, o primeiro dos cinco que o país conquistaria na Grécia.

Ao cruzar a linha de chegada em sexto, Scheidt encerrou uma espera que se arrastava por 48 anos. Naquela data, o paulista igualou o feito do lendário Adhemar Ferreira da Silva, ouro no salto triplo em Helsinque 1952 e Melbourne 1956 e, até então, o único atleta do Brasil a ter conquistado duas medalhas douradas em Jogos Olímpicos.

Ao contrário dos Jogos de Sydney 2000, as Olimpíadas de Atenas se mostrariam generosas para os brasileiros. E ao fim daquela edição, além de Scheidt o país celebraria a glória de outros quatro bicampeões olímpicos: Torben Grael e Marcelo Ferreira, na vela; e Maurício e Giovane, no vôlei.

“Eu me lembro que quando eu cheguei à Vila a gente tinha as casas, que eram bem grandes, de vários andares. E a casa em que a gente ficou hospedado ficou também o Bernardinho (técnico da Seleção Brasileira masculina de vôlei), o Ricardo com o Emanuel (do vôlei de praia), o Torben e o Marcelo, e eu. Todo mundo ganhou medalha de ouro. Acho que nenhuma casa tem 100% de acerto”, diz.

Atenas ficará marcada como uma das passagens mais especiais de sua vida. “Talvez esse tenha sido o auge da minha carreira. Eu tinha sempre aquela coisa engasgada na garganta de ter perdido em Sydney quatro anos antes. Então, ter esperado quatro anos, trabalhado tudo de novo para tentar conseguir chegar ao meu auge e conseguir essa medalha foi o momento máximo da minha carreira. Foi o momento em que eu me senti mais completo e mais satisfeito com a minha performance e onde eu consegui colher todos os frutos de todo o trabalho que eu fiz desde que eu tinha começado a velejar com 9 anos. Foi aquele momento único, especial, que nunca mais vai acontecer”.

Coroação no pódio

“O pódio foi muito especial porque em Atenas a gente teve um local próprio para o pódio, no estilo bem grego mesmo. Então foi como uma coroação de um atleta grego de 100 anos antes. A gente recebeu aquela coroa de louros na cabeça e foi uma cerimônia onde estavam todos os brasileiros da vela. Eles não estavam tendo regata naquela hora, foi um final de tarde maravilhoso, com um pôr do sol ali naquela marina olímpica, com todo mundo ali, minha família, meus pais… Eu fechei os olhos rapidinho e falei: ‘Nossa! Esse momento tem que durar pra sempre…’ Mas passa. E depois a gente já pensa em outro objetivo”.

O reconhecimento no Brasil

 O paulista subiu ao pódio em todos os cinco Jogos que disputou. Aqui, ele dá uma pausa na preparação para o Rio 2016 e recorda os dois momentos mais marcantes da carreira: os ouros em Atlanta 1996 e em Atenas 2004. (Foto: Divulgação)

O paulista subiu ao pódio em todos os cinco Jogos que disputou. Aqui, ele dá uma pausa na preparação para o Rio 2016 e recorda os dois momentos mais marcantes da carreira: os ouros em Atlanta 1996 e em Atenas 2004. (Foto: Hoffmann)

Ao retornar para casa após o triunfo em Atenas, Robert Scheidt, mais do que em nenhum outro momento em sua carreira, recebeu o carinho dos brasileiros, que passaram a reconhecer o bicampeão onde quer que ele fosse.

“Aquela medalha me colocou em outro patamar. Eu comecei a ter muito mais reconhecimento nas ruas. Foi a primeira vez que eu comecei a sair em São Paulo e o pessoal me reconhecer. Logo depois que eu voltei da Olimpíada, tinha um show (Charlie Brown e Linkin Park) que eu tinha prometido levar minha sobrinha lá no Morumbi. Ela tinha comprado os ingressos, porque eu tinha chegado um dia depois da Olimpíada para ir ao show, e então a gente estava com ingresso para a arquibancada. Aí o segurança me viu e já falou: ‘Não, você vem por aqui!’. E já levou a gente para o camarote e a gente ficou na frente ali do palco”, conta, divertindo-se com a história.

“Depois eu peguei meu carro e fui para Ilha Bela, que é um lugar que eu vou no fim de semana normalmente. O pessoal do pedágio me reconhecia, do posto de gasolina, o cara que operava a balsa… Todo mundo me parava, queria uma foto, queria um autógrafo”, segue Scheidt.

Para ele, alguns fatores colaboraram para toda aquela popularidade, além do feito da medalha em si. Entre eles está um telefone especial que ele recebeu após a conquista do ouro na Grécia. “Acho que foi pelo fato de a regata ser transmitida na televisão em um domingo. E ainda teve uma ligação do Lula ao vivo ali naquele momento. Isso contribuiu. Eu não estava nem entendendo que eu estava falando com o presidente da República. Eu não sabia nem o que falar. Eu estava tão emocionado que você não sabe nem o que falar. São momentos únicos e a gente tenta guardar lá no fundo essas sensações para o resto da vida”.

O retorno à Laser

Após a conquista do ouro em Atenas, Robert Scheidt passou a se dedicar a uma nova fase da carreira, agora na Star. Nessa classe, ele disputou, ao lado do parceiro Bruno Prada, dois Jogos Olímpicos e voltou a subir ao pódio com a prata em Pequim 2008 e o bronze em Londres 2012. O plano era seguir nesse caminho, mas como a classe Star deixou de fazer parte do programa olímpico, Robert Scheidt, para poder competir em casa, encarou o retorno à Laser.

“Sem dúvida, continuar na Star teria sido o caminho ideal para nós. Eu e o Bruno Prada já tínhamos uma dupla bem consagrada, com três títulos mundiais, duas medalhas olímpicas, e o caminho já estava marcado para mais uma Olimpíada. Então foi um baque muito grande essa notícia do Star fora dos Jogos. Principalmente porque a gente recebeu essa notícia antes dos Jogos (de Londres 2012). Então a gente já competiu sabendo que seria a nossa última Olimpíada. Depois, politicamente ainda tentaram reverter essa situação, mas não conseguiram”, conta.

A decisão de voltar para os barcos da Laser não foi fácil. “Em setembro de 2012, eu estava de novo naquela situação: ‘E agora? A Star está fora e o que eu vou fazer?’. Eu fiquei oito anos na Star. Eu velejei algumas vezes de Laser, mas se foram dez vezes por ano era muito. Eu velejava ocasionalmente quando alguém me chamava para fazer um treino. Aí, quando acabou a Olimpíada de Londres, eu estava ali meio sem saber o que fazer e um atleta da Itália falou: ‘Olha, vai ter um campeonato italiano de Laser, por que você não vem correr?’ E eu falei: ‘Não… Você está maluco…’ E ele disse: ‘Não, vem correr. É aqui perto, na Toscana, é um lugar bonito. Traz a sua família…’ Aí eu peguei, botei o Laser em cima do carro e fui lá para esse campeonato italiano. Cheguei praticamente com pouco treino, velejei só uns cinco dias antes e ganhei todas as regatas desse campeonato italiano. E tinha um atleta que estava entre os 15 primeiros do ranking mundial. Quer dizer: não foi um campeonato de nível baixo. Ali eu falei: ‘Poxa, será que dá para fazer isso ainda?’ E aí começou aquela minhoca na cabeça: ‘Será que dá? Eu já estou com 39 anos… Mais uma Olimpíada de Laser? Será que dá para fazer essa loucura?’ Aí eu falei: ‘Bom, em 2013 eu vou me dedicar e aí eu vou ver até onde eu chego. 2013 vai ser um ano termômetro para ver se eu tenho alguma chance de ser competitivo em 2016’, conta o bicampeão.

“Em 2013, eu fui vice-campeão na Semana de Kiel (Alemanha), na Semana de Hyères (França), e em quase todos os campeonatos que eu competi eu fui medalhista. E eu ganhei o Campeonato Mundial em Omã (na cidade de Mussanah), com 40 anos, o que era um recorde na Laser. Nunca ninguém tinha ganho um Mundial acima de 35 anos. Aí foi o início, foi onde eu falei: ‘Vou encarar para o Rio 2016′”.

“Eu vou estar competindo aqui embaixo do Cristo. E embaixo do Pão de Açúcar. Me sinto um privilegiado de poder chegar a competir na idade que eu estou e ser competitivo ainda. Tudo isso faz essa Olimpíada ser, talvez, a mais especial da minha vida”

ontagem regressiva

Falta pouco para Robert Scheidt chegar ao final de sua trajetória olímpica. Em poucas semanas, ele velejará na Baía de Guanabara e perseguirá o sonho de fazer história mais uma vez e tornar-se um tricampeão olímpico. Mas ele sabe que as dificuldades serão imensas.

“Para essa Olimpíada eu tenho uma situação um pouco diferente. Não que eu seja um atleta pior do que eu era antes. O nível todo aumentou. Hoje você está lutando muito mais por cada ponto, por cada metro e por cada situação da regata. E tem que ter a consciência disso. Eu sei que essa Olimpíada vai ser muito mais difícil porque eu não tenho aquela vantagem toda que eu tinha em 1996 e 2004. Mas isso também deixa essa Olimpíada mais especial. Porque se eu chegar ao resultado isso vai mostrar que eu superei uma coisa maior do que eu tinha superado antes, quando estava no meu auge”, ressalta.

“E é isso que estimula: Eu sei que o jogo vai ser mais duro do que antes, eu sei que vou ter que lutar e cada detalhe vai ser importante em cada regata. Mas eu vou estar competindo aqui embaixo do Cristo, né? E embaixo do Pão de Açúcar. E nessa cidade. Esse foi o fator que foi diferencial de encarar esse ciclo: o fato de ser no Brasil. Provavelmente se essa Olimpíada fosse na China ou em Londres eu não estaria encarando de Laser e estaria fazendo outra coisa. Mas o fato de ser aqui no Rio me motivou a seguir no Laser e tentar mais uma vez. Eu me sinto um privilegiado de poder chegar a competir na idade que eu estou, na minha sexta Olimpíada, no Rio de Janeiro, e ser competitivo ainda. Tudo isso faz essa Olimpíada ser, talvez, a mais especial da minha vida”, encerra o bicampeão.

Fonte: Ministério dos Esportes


 

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