Esportes

Andrés: "Esporte precisa de leis específicas, não de CLT"

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Andrés afirmou que, a partir de 2015, não vai levantar bandeiras "nem contra, nem a favor" da CBF - e não ficará associado à "bancada da bola"

Redação Folha Vitória
Andrés Sanchez Foto: Estadão Conteúdo

São Paulo - Ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanchez foi eleito deputado federal pelo PT de São Paulo. Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta terça-feira, ele afirmou que, a partir de 2015, em Brasília, não vai levantar bandeiras "nem contra, nem a favor" da CBF - e não ficará associado à "bancada da bola". Uma de suas propostas é criar uma legislação específica para atletas de alto rendimento. "Atleta profissional não pode ser regido pela CLT", afirmou. Na entrevista, Andrés fala também da crise financeira dos clubes e de como o Corinthians vai pagar seu estádio em Itaquera.

Estadão - Você foi eleito deputado federal. No Congresso, já existe a chamada "bancada da bola". Qual será a sua postura em relação a essa bancada? Tomará alguma posição em relação à CBF?

Andrés - Com raras exceções, poucos da "bancada da bola" trabalharam no futebol. Poucos. Eu não tenho nada a ver com essa "bancada". Quando tiver alguma pauta de esporte, de futebol, de CBF, vou dar minha opinião pela experiência que tive como presidente do Corinthians. Não vou levantar bandeiras, nem contra nem a favor da CBF.

Estadão - Acredita que Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte vai ser aprovada?

Andrés - Nesse País se faz Refis para tudo, qualquer segmento da sociedade, faz para banco, para empresa, por que não para o futebol? É uma hipocrisia. O Corinthians entrou no Refis, mas iria ter um Refis específico para o futebol. Que é o que: se não cumprir as regras, o clube cai de divisão, perde pontos. Esse é um Refis mais forte. O Corinthians entrou (no Refis), não precisa mais da Lei de Responsabilidade Fiscal (do Esporte). O Flamengo, o Atlético Mineiro, um monte de time entrou no Refis. Acho que a Lei de Responsabilidade (do Esporte) não vai passar, tem que ser uma medida provisória da presidente.

Estadão - Você terá alguma proposta focada no futebol?

Andrés - O deputado tem muito mais o que fazer além do futebol. Mas vou propor acabar com a CLT no futebol, não só para futebol. Tem de ter uma lei trabalhista específica de direitos, e deveres, para atletas de alto rendimento no esporte em geral, que disputem campeonato nacional. Jogador de futebol e atleta não trabalham mais do que 15, 20 anos. O Esporte tem de ter lei específica. Atleta profissional não pode ser regido pela CLT. O cara trabalha uma hora e meia por dia, joga quarta ou quinta, e trabalha o final de semana. E quando para de jogar, entra com processo. O clube não pode ter CLT, todo mundo entra com processo. Jogador trabalha oito horas? Jogador tem fim de semana de folga? Aí os caras entram com processo (contra o clube).

Estadão - Por que os clubes brasileiros estão quebrados?

Andrés - Chegou a esse ponto porque existem dirigentes de clubes mal-intencionados e outros que não aguentam a pressão. Tem time pagando quatro, cinco treinadores. Eu não mandei o Tite embora (em 2011) por que? Por que ele era um herói? Porque eu tinha de gastar uma fortuna e ele não tinha culpa do negócio. Aí eu mando o Tite embora, vem outro, manda embora. É isso. O jogador fez uma c..., encosta, manda embora. Tirando imposto, a maior dívida do clube é não pagar jogador e atleta que mandam embora. O Corinthians também tem problemas financeiros...

Estadão - Qual problema tem o Corinthians?

Andrés - Financeiro. O último balanço aponta déficit de mais de R$ 40 milhões no ano. Está com déficit. Qual o problema? Quinhentos milhões de empresas nesse País têm déficit. A dívida do clube, que era de R$ 100 milhões, quase bateu em R$ 300 milhões... Aí tem que falar com o presidente. Não é comigo. Eu arrecadava R$ 350 milhões e a dívida era de R$ 170 milhões.

Estadão - Como um clube como o Corinthians, que fatura R$ 100 milhões apenas com televisão, tem dificuldade de pagar R$ 1 milhão, R$ 2 milhões, para comprar um jogador e tem de "fatiar" sua base?

Andrés - Porque exagerou na folha de pagamento. Foi campeão de tudo, os atletas querem aumento, querem renovar contrato com salário muito mais alto, e você tem de ver despesa e receita. O clube se perdeu um pouco na despesa, a realidade é essa. É gestão.

Estadão - A gestão do Mário Gobbi faz parte do seu grupo que o elegeu.

Andrés - Faz parte, mas é ele que administra, não sou eu.

Estadão - Então, como você avalia a gestão de Mário Gobbi?

Andrés - O que o torcedor quer? Título. Ele ganhou Libertadores, Mundial, Paulista e Recopa. É uma boa administração. Errou aqui, acertou ali. Todo mundo erra e acerta. Foi uma boa administração. Como ganhou tudo, teve de exagerar nos salários. É que ele não quis desmanchar o time depois que ganhou tudo. O que ele fez esse ano deveria ter feito em 2013, esse foi o erro.

Estadão - Acredita que o favorito a vencer as eleições é o Roberto de Andrade? É ele quem você apoia?

Andrés - Eu que lancei o Roberto. É ele quem eu o apoio. Tem chance, todo mundo tem, mas eleição é eleição. Agora, pelo trabalho que foi feito nesses oito anos, acho que torcedor e o sócio entendem que, com erros e acertos, foram as melhores administrações do clube.

Estadão - Sobre o estádio, por que atrasou a venda dos naming rights do estádio? O problema é o valor do negócio, cerca de R$ 400 milhões?

Andrés - Não é o valor, é o tipo de negócio, é o problema econômico que está no mundo, é o Estadão escrevendo Itaquerão... O cara que está fora do País vê jornal, vê internet e lê Itaquerão. Mas esse não é o único motivo. É um modelo de negócio novo. Não se tem esse costume, é caro, e só falam Itaquerão.

Estadão - O que você achou sobre o acordo do Palmeiras com a WTorre?

Andrés - É outro acordo. O estádio do Palmeiras é excelente para o Palmeiras. O estádio do Corinthians é excelente para o Corinthians.

Estadão - No estádio do Palmeiras, o naming rights foi vendido por R$ 300 milhões. É um bom acordo?

Andrés - É um excelente acordo.

Estadão - Por que o Corinthians não fechou um acordo por esse valor?

Andrés - Porque ninguém ofereceu ainda isso. Ninguém ofereceu. Talvez aceite, talvez não aceite. Com todas as empresas que falamos, o problema não foi grana.

Estadão - Quando, de fato, o estádio ficará pronto?

Andrés - Espero que fevereiro, março, esteja pronto com os restaurantes, centro de convenções. Tem de chegar o vidro que foi importado, os telões. São essas coisas. Acabar com os camarotes da Fifa, que eram grandes. Espero que até março esteja 100%.

Estadão - Na Alemanha, o Bayern de Munique pagou seu estádio antes do previsto. Acha que é possível isso acontecer com o Corinthians?

Andrés - Lógico que é. Esperamos pagar em seis, sete, anos.

Estadão - Mesmo sem fazer shows?

Andrés - Mas quem disse que não vai fazer shows? O Corinthians vai fazer shows na Arena, só não vai usar o gramado. Fazem show no Sambódromo, por que não pode fazer no Corinthians? Fizemos show da Ivete Sangalo para 6 mil pessoas.

Estadão - Quanto o estádio já faturou?

Andrés - Cerca de R$ 33 milhões. De bilheteria e eventos.

Estadão - Em junho, é preciso pagar de R$ 100 milhões de empréstimo do BNDES. Acredita que vai dar para pagar?

Andrés - Acredito que sim. O Corinthians vai pagar o estádio de um jeito ou de outro.

Estadão - Como assim?

Andrés - Se não conseguir pagar, renegocia a dívida. É a primeira vez que vai acontecer isso no Brasil ou no mundo? Paga juros e renegocia. Mas, se Deus quiser, vamos pagar o estádio.

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