Esportes

Na 5ª Olimpíada, Fernanda Oliveira iguala recorde e não liga para subvalorização

Redação Folha Vitória

São Paulo - Ainda longe de se aposentar, Fernanda Oliveira vai alcançar uma marca importante nos Jogos do Rio, em 2016. Convocada oficialmente na última quarta-feira para representar o Brasil na classe 470 de vela ao lado da jovem Ana Luiza Barbachan, a gaúcha vai para sua quinta Olimpíada, igualando-se à ex-levantadora Fofão e à jogadora de futebol Formiga. Entre os homens, Rodrigo Pessoa, Hugo Hoyama e Torben Grael têm seis participações. Robert Scheidt e Emanuel Rêgo caminham para a sexta. "Cinco Olimpíadas não é pouco. É uma vida dedicada ao esporte", admite.

Medalhista de bronze em Pequim-2008, única conquista olímpica da vela feminina brasileira, Fernanda não é tão conhecida do grande público quanto os demais recordistas. Mas a veterana garante não ter tal vaidade. "Eu não sou muito grilada com esse tipo de coisa. Eu gostaria que a vela fosse um esporte que tivesse mais visibilidade, investimento da iniciativa privada. O destaque para a Fernanda não é algo que eu tenha necessidade. Gostaria que a minha modalidade tivesse mais visibilidade, as pessoas quisessem conhecer mais, as empresas quisessem investir mais."

A vela, entretanto, sabe reconhecer a importância de Fernanda. Não à toa, ela e Robert Scheidt são os representantes dos atletas no Conselho Técnico que define, entre outras coisas, os convocados para a Olimpíada. O que significa que Fernanda, como ouvinte, esteve presente à reunião que definiu sua própria convocação.

"A gente já sabia que isso ia acontecer", admite. O Conselho havia apontado uma série de eventos, nacionais e internacionais, que valeriam como seletiva. Durante o ciclo olímpico, Fernanda e Ana participaram de 17 competições em que Renata Decnop e Isabel Swam estavam inscritas. Ganharam 16 vezes e empataram uma, no Mundial do ano passado.

"A gente está bem feliz. Nosso desempenho dizia bastante. É importante ter a confirmação com antecedência para que a gente consiga focar na preparação da melhor forma. A gente agora vai ter tempo para se preparar, desenvolver material específico. É bem diferente de ficar envolvido com eliminatória, ficar correndo campeonatos fora, num foco que não é o nosso. Nosso foco é um campeonato no Rio."

CARREIRA - Campeã da etapa de Hyères (França) da Copa do Mundo de Vela, em abril, competindo contra todas as melhores do mundo, Fernanda Oliveira vive o melhor momento de uma carreira cheia de percalços. "Comecei como qualquer um começa. Minha família não tinha tradição na vela, não nasci dentro de um barco. Remei bastante pra chegar até onde cheguei", conta.

Aos 19 anos, com Maria Krahe, foi 19.ª e última colocada da 470 em Sydney-2000. Quatro anos depois, conseguiu um 17.º lugar com Adriana Kostiw. "Já fiz participações muito complicadas tecnicamente. Corri duas Olimpíadas de forma muito amadora", analisa.

A roda começou a girar, como diz Fernanda, quando acabou o amadorismo. Graduada na universidade às vésperas dos Jogos de Atenas, decidiu que precisava de uma profissão, fosse a vela ou a administração. Os patrocinadores vieram, o maior apoio do poder público também, e os resultados apareceram. "O ciclo para Pequim foi um divisor de águas", relembra a velejadora, medalhista de bronze em 2008 ao lado de Isabel Swam.

Carioca, Bel voltou para o Rio após Pequim-2008 e a dupla foi desfeita. Começava um trabalho a longo prazo com Ana Luiza, então com 19 anos, também do Clube dos Jangadeiros, de Porto Alegre, e treinada por Paulo Roberto Ribeiro, o Paulinho. "Ela era supernova, mas já tinha uma carreira promissora." Isabel uniu-se a Martine Grael e a disputa pela vaga em Londres só foi decidida na última seletiva. Na Olimpíada, Fernanda e Ana brigaram pela medalha até o último dia, mas ficaram em sexto.

"Corri quatro Olimpíadas com quatro proeiras. As pessoas têm fases de vida diferentes, objetivos diferentes. É difícil casar essa disponibilidade full time pra isso. As duplas normalmente não duram tantos anos. Estamos colhendo os frutos de manter a dupla por dois ciclos, que era o nosso objetivo. A gente deve chegar (ao Rio) num patamar diferente, depois de oito anos correndo juntas", avalia Fernanda, que terá 35 anos na Olimpíada. Ana vai festejar os 27 no meio da competição.

ROBERTA - No Rio, Fernanda terá uma torcedora a mais: a pequena Roberta, atualmente com um ano e meio de vida. "Ela vê um barco, uma bandeira do Brasil, ela acha sempre que é a 'mamãe'", conta Fernanda, orgulhosa da filha que nasceu em meio ao ciclo olímpico.

A dupla havia conquistado seis títulos seguidos, incluindo três etapas da Copa do Mundo, quando Fernanda precisou se afastar do barco. "No Mundial de 2013, eu estava de cinco meses. Só parei de treinar no oitavo mês de gestação. Quando ela tinha 40 dias, eu voltei a treinar. Com 45 dias, estava competindo. Com dois meses e meio ela já viajava para a Europa comigo."

Desde então, mãe e filha não se desgrudam. "Quem sofre é o pai, que fica longe dela". Fernanda e Ana se revezam entre os treinamentos em Porto Alegre e no Rio, mas os períodos na Baía de Guanabara devem se intensificar à medida que os Jogos se aproximam.

Apesar da pouca idade, Roberta já ajuda. "Ela fica com a gente no hotel colando adesivo, ajuda descarregar a mala, está acostumadíssima. É um anjo, é um astral incrível para fazer esse tipo de coisa comigo." Diferentemente da mãe, a filha vai crescer dentro do barco. Até porque Fernanda ainda não se vê aposentando. "Tenho pelo menos mais duas Olimpíadas pela frente", avisa.

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