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Em Morumbi lotado e com grande festa, Rogério Ceni dá adeus de forma apoteótica

Redação Folha Vitória

São Paulo - Um Morumbi lotado por mais de 60 mil torcedores reverenciou, nesta sexta-feira à noite, Rogério Ceni, um dos maiores ídolos da história do São Paulo. Reverenciado, o craque tricolor colocou um ponto final em sua vitoriosa carreira com um clima de euforia e comunhão entre torcida e jogadores. O adeus do goleiro foi apoteótico, à altura da história construída pelo jogador.

Dos 25 anos vividos no São Paulo, o goleiro foi o remanescente de duas eras vitoriosas. E essas gerações se encontraram em campo nesta sexta no amistoso de despedida do goleiro. A equipe formada por campeões mundiais em 1992 e 1993 enfrentou o time de 2005, que teve Ceni. O agora aposentado jogador se revezou entre o gol e a linha.

Do começo ao fim a programação da festa seguiu à risca os detalhes de que Ceni tanto gosta. Antes do jogo, um show de rock. No intervalo, outra apresentação. Dessa vez o ídolo são-paulino subiu ao palco para cantar e tocar guitarra em trechos de uma música do Ira!, uma de suas bandas preferidas. O grupo levou ao palco uma faixa com a frase "Fora, Cunha", em referência ao presidente da Câmara dos Deputados.

O Morumbi foi ao delírio com a entrada dos jogadores em campo. As luzes apagadas e a apresentação um a um de cada participante causou uma euforia coletiva. Com bandeiras e sinalizadores liberados nas arquibancadas, o ambiente ganhou aspecto "retrô" e ares de jogo decisivo de Copa Libertadores.

"As pernas tremeram quando entrei em campo. A festa e a torcida estavam maravilhosas", comentou Fabão, zagueiro do time campeão mundial em 2005.

Torcedores mais jovens viram pela primeira vez em ação nomes do passado como Zetti, Muller, Cafu e Raí. O mais festejado da noite foi um ídolo mais recente, o uruguaio Lugano. A torcida fez coro pela sua volta.

"Só o Rogério é capaz de juntar todo mundo. Ele merece a homenagem. O jogador se vai, mas a pessoa, a história e o respeito ficam", disse o zagueiro.

DE TELÊ A MURICY - O tom de saudosismo se estendeu ao banco e até à arbitragem. O filho de Telê Santana, Renê, formou par com o antigo auxiliar técnico Muricy, que comandou a equipe da década de 1990. Milton Cruz e Paulo Autuori chefiaram o time de 2005.

O apito ficou a cargo do mexicano Benito Archundia, que foi o árbitro da final entre São Paulo e Liverpool, há dez anos. Archundia anulou corretamente na ocasião três gols por impedimento e foi convidado por iniciativa do próprio Rogério.

Conhecido pelo jeito determinado, Ceni estava sorridente e descontraído. Brincou com Cafu quando levou um gol entre as pernas, correu no intervalo e acenou para os torcedores que viram o jogo de um setor especial. O clube posicionou à beira do gramado 131 assentos, o mesmo número de gols marcados pelo goleiro - até então.

Aos 29 da segunda etapa, Rogério marcou seu 132.º gol pelo São Paulo. De pênalti, bateu rasteiro, no canto esquerdo, sem chances para o goleiro Bosco.

O placar final pouco importou na noite. A euforia pela despedida de um goleiro símbolo de uma era no São Paulo fez a noite ser o momento mais feliz do clube em 2015.

O reencontro com o passado glorioso fica como incentivo para o São Paulo buscar uma correção em sua rota após um ano marcado por seguidos escândalos na política do clube e goleadas sofridas em clássicos.

JUVENAL É HOMENAGEADO - Apesar do dono da festa ser Rogério Ceni, outro grande homenageado da noite foi o ex-presidente Juvenal Juvêncio, falecido na última quarta-feira, aos 81 anos, vítima de um câncer de próstata.

Juvêncio, que comandou o clube por quatro gestões e é o segundo mandatário com mais títulos na história, foi agraciado com um minuto de silêncio. A cerimônia, porém, não aconteceu de maneira tradicional, antes do apito inicial. Quando a bola já tinha rolado e o time de 2005 já tinha feito dois gols, o jogo foi paralisado na marca de três minutos para realizar a homenagem. O que se viu no Morumbi foi um silêncio absoluto. Os torcedores mostraram muito respeito à memória do ex-dirigente.

O ex-presidente, aliás, era muito próximo de Rogério Ceni, que, em muitas oportunidades, utilizou uniformes na cor amarela, a mesma da chapa eleitoral de Juvêncio nas eleições do clube.

O agora ex-atleta também foi um dos que mais se emocionou no velório do ex-presidente, ao desmarcar, inclusive, uma confraternização de despedida com os funcionários do clube para se despedir do amigo.

Juvêncio foi lembrado também com citações nas placas de publicidade do estádio, que destacavam a trajetória do dirigente dentro do São Paulo. Antes do início da partida, Angelina Juvêncio, viúva do ex-presidente, foi a responsável por entregar a taça de tricampeão mundial para Rogério Ceni erguer.

No último mês, ela foi nomeada pelo presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, aliado de Juvêncio, como diretora de assistência social do clube.

Outros ex-dirigentes do São Paulo também foram lembrados na noite de festa. Rochelle Siqueira Portugal Gouvêa, viúva de Marcelo Portugal Gouvêa, presidente do clube no título mundial de 2005, entregou a taça do Mundial de 1993 para Ronaldão, capitão do time na decisão contra o Milan.

José Eduardo Mesquita Pimenta, presidente mais vencedor da história do São Paulo, teve a honra de dar a taça do Mundial de 1992 para Raí, capitão e grande responsável pelo primeiro título mundial do clube, conquistado sobre o Barcelona.

Marco Aurélio Cunha, que já foi médico e diretor de futebol do São Paulo entre 2002 e 2010, entrou em campo junto com os vencedores do Mundial de Clubes em 2005.

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