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Dia do goleiro: profissionais da 'posição ingrata' contam suas histórias no futebol capixaba

O dia 26 de abril é uma homenagem ao nascimento de Aílton Corrêa Arruda, mais conhecido como Manga, que foi um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro

Neste dia tão especial para os 'vilões' do futebol - que a todo momento buscam evitar gols -, não poderíamos deixar de homenagear os excelentes profissionais que atuam no Espírito Santo Foto: Montagem/Folha Vitória ​

Nesta terça-feira, dia 26 de abril, comemora-se o Dia do Goleiro. A data é uma homenagem a Aílton Corrêa Arruda, mais conhecido como Manga. Pernambucano de Recife, Manga foi um dos maiores goleiros do futebol brasileiro. Neste dia tão especial para os 'vilões' do futebol - que a todo momento buscam evitar gols -, não poderíamos deixar de homenagear os excelentes profissionais que atuam no Espírito Santo.

"Tenha persistência no objetivo, foco, dedicação, repetição e invista no sonho... Para aprender é preciso ter humildade", Mão Fotos: Arquivo Pessoal

Goleiro consagrado e considerado um dos melhores do futebol de areia, Jenílson Brito Rodrigues, o Mão, tem uma fantástica história com as quadras. Além de campeão da Copa do Mundo de Futebol de Areia, ele coleciona vários títulos individuais como melhor goleiro de campeonatos mundiais. Mas nem tudo foram flores na trajetória do grande goleiro. "Já passei muitas dificuldades no início da minha carreira. Não tinha dinheiro para pagar passagens e nem para bancar alimentação após os treinos", conta.

Mão revela que tudo valeu a pena. Orgulhoso de sua história de baixo das traves, ele lembra com carinho do início na profissão. "Tudo começou no bairro Santo Antônio, em Vitória. Lá tinha um grande campo de areia, e eu ficava observando os mais velhos jogarem. Certo dia, faltou um goleiro e me chamaram para jogar. Entrei no campo e percebi, junto com os demais, que levava jeito na posição".

“Goleiro é uma posição que tem suas dificuldades. Não pode ter preguiça. Tem que ter vontade, coragem e personalidade. Caiu ou falhou? Levante e continue. Busque reverter isso dentro de campo”, Walter

Herói e vilão. Sobre a sensação de sair de partidas com uma dessas duas nomeações Walter Neto, goleiro do Rio Branco, entende muito bem. Um dos motivos? Walter defendeu duas - de várias - equipes tradicionais do Espírito Santo, arquirrivais, e de cada uma guarda uma enorme bagagem. O momento mais marcante em sua carreira, foi o título do Campeonato Capixaba de 2010. Este foi o ano, segundo o goleiro, mais difícil da carreira. 

Lesionado, o atleta precisava seguir até o fim da competição e, como recompensa, saiu com 36º título capixaba do Rio Branco.“O momento mais marcante da minha vida foi o título do campeonato capixaba em 2010, onde vencemos o Vitória. Foi o ano mais difícil pra mim. Eu estava com uma lesão grave, mas insisti até o final. E saímos com o título”.

Walter teve como primeiro treinador ninguém menos que Erasmo Serafim, que atualmente comanda os goleiros do Espírito Santo FC, e não poupa elogios ao profissional que tanto o ensinou. “Um amigo me convidou para fazer o teste em um clube, e lá quem treinava os goleiros era o Erasmo. Deu certo. Erasmo foi meu primeiro treinador, e também o mais paciente. Ele é um dos principais responsáveis pelo que sou hoje. Sou muito agradecido a ele”, disse Walter.

"Ame o que faz e faça o que ame. Para estar de baixo das traves, tem que amar. Se é um sonho, não se pode desistir em qualquer adversidade", Erasmo

Erasmo Serafim é um dos melhores preparadores de goleiros do Espírito Santo. Ele faz questão de lembrar das principais conquistas com o goleiro Walter. "Ele foi meu goleiro desde menino. Fomos campeões 3 vezes, em 2005 pelo Serra; 2008 pela Desportiva e em 2010 pelo Rio Branco", comenta Erasmo, campeão da Copa Espírito Santo 2015 pelo ESFC.

Há 16 anos como preparador de goleiros, Serafim analisa que a posição desses profissionais é ingrata e cita várias motivos."O goleiro é vilão no futebol. Isso porque as pessoas vão ao estádio para ver gols, eles estão ali para impedir isso. Um ditado diz que os goleiros são tão 'ruins', que onde jogam é difícil até nascer grama [risos]. Somos apontados como loucos, por ficarmos de baixo da trave tomando bolada. Isso não tem outra explicação a não ser amor pelo ao que se faz", afirma.

Pode-se dizer que Erasmo é o grande responsável pelos ótimos goleiros em atuação no Estado. Atualmente treina o goleiro do Espírito Santo, Alan Faria, mas todos os goleiros citados até aqui, passaram pelo preparador. Além de Walter e Mão, Serafim também foi preparador do atual goleiro da Desportiva Ferroviária Felipe Guedes.

"Ser goleiro não é fácil. Se for embarcar na profissão prepare-se para treinar mais do que os demais atletas, mas é prazeroso. Com muito trabalho, esforço e Deus na frente, as coisas dão certo", Felipe

Felipe Guedes entende que o goleiro vive no 'fio da navalha'. "Quando falhamos, na maioria das vezes, o gol é inevitável. Podemos atuar bem durante 89 minutos de jogo, mas se em 1 minuto houver um vacilo, a sanção é pesada" diz.

Meio sem jeito com a bola nos pés e com um porte físico sempre superior aos demais amigos, encontrou o seu lugar no gol em 'peladas' na rua. Após definir a posição dentro de campo, Felipe se dedicou e, com muito esforço, conquistou grandes vitórias na carreira.

Atualmente goleiro titular e capitão da Desportiva, Guedes se sente realizado e grato ao clube que defende. "Me lembro de todos os momentos bons desde que cheguei na Tiva. Encontrei no clube a minha melhor parte física e técnica. O clube me abraçou de uma forma incrível, mantive uma boa regularidade e espero continuar dessa forma", explica.

"Amo ser goleira, nossa função é evitar gols. Me inspiro nisso e não me vejo em outra posição", Letícia

E quem pensou que dentre tantas histórias não teríamos a de uma goleira está enganado. Letícia Lopes, 25 anos, atualmente no Geração Beach Soccer, teve um início tão inusitado quanto outros goleiros capixabas. Sendo a mais nova de quatro primos, a moça sempre esteve no mundo da bola e, como caçula, se quisesse brincar precisava ir para o gol. Não gostava, mas não relutava. O importante era jogar, e foi ali que começou a perceber que, além dos pés, se destacava com as mãos.

Letícia chegou no Geração Beach Soccer há 11 anos, para jogar na linha. A equipe não contava com uma goleira fixa. Sendo assim, faziam revezamentos com as atletas no gol. E foi em um desses revezamentos que veio a proposta definitiva para ser a camisa 1. E a resposta? Sim!

“Sempre estive no mundo da bola, desde pequena. E como caçula, a condição inicial para brincar era ir para o gol. Quando cheguei ao Geração Beach Soccer, a equipe não tinha goleira, fazíamos revezamento. Quando chegou minha vez o treinador gostou bastante, e aí veio a proposta para ficar de vez. O professor disse 'você vai evitar o que todos aqui querem fazer: gol'. E é nisso que me inspiro e não me vejo em outra posição”, declarou a goleira.

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