Esportes

Caos e violência no Rio assustam imprensa mundial às vésperas dos Jogos Olímpicos

Um corpo encontrado esquartejado, estado de calamidade e greves causam repercussão negativa. A cada dia, na cidade que virou um turbilhão, absorvendo o clima de tensão

As Olimíadas serão no Rio de Janeiro Foto: Reprodução

A apenas um mês do início dos Jogos Olímpicos de 2016, o mundo assiste com apreensão os preparativos para o evento, cujo roteiro tem sido marcado por confusões, crise política, acidentes, violência e epidemias de zika, dengue e chikungunya.

A cada dia, na cidade que virou um turbilhão, absorvendo o clima de tensão que assolou o país, uma novidade surge para dar um toque a mais nesse enredo, a ponto de jornais do mundo inteiro demonstrarem sua incredulidade em relação às autoridades e à estrutura da competição, que reunirá mais de 10 mil atletas, entre 5 e 21 de agosto próximo. Em seguida haverá os Jogos Paralímpicos, entre 7 e 18 de setembro.

Veículos como CNN, The New York Times, Independent estão assustados com a turbulência na cidade e no País. Publicam diariamente textos que demonstram o estado de desânimo e de estupefação com o atual estágio em que se encontra o que outrora foi conhecida pelo mundo como "Cidade Maravilhosa".

Mais um chocante fato serviu para dar um tempero mórbido ao que deveria ser o encanto que prenuncia um grande acontecimento. Na tarde do dia 29 de junho um corpo foi encontrado esquartejado em plena praia de Copacabana, maculando com sangue e horror a "Princesinha do Mar", em local próximo das obras da arena de vôlei de praia.

Com destaque, a rede CNN, por exemplo, trouxe em seu site a seguinte manchete a respeito do trágico ocorrido: "Semana de horror no Rio: Partes de corpo são encontradas perto da arena de vôlei de praia".

O episódio ocorreu em meio ao decreto de calamidade pública instaurado pelo governador em exercício, Francisco Dornelles, no dia 17 de junho, pelo fato de o Estado não estar conseguindo arcar com custos e com pagamento de servidores. A saúde, por exemplo, vive verdadeiro caos, com um deficit de pelo menos R$ 1,4 bilhão.

AnteriorEm matéria do The New York Times, de autoria da jornalista Vanessa Barbara, a situação é vista como extremamente preocupante. O artigo tinha a seguinte manchete: 'A catástrofe olímpica do Brasil', acompanhada de uma ilustração, em movimento, que trazia uma fumaça escura encobrindo símbolos da cidade.

Em matéria do The New York Times, de autoria da jornalista Vanessa Barbara, a situação é vista como extremamente preocupante. O artigo tinha a seguinte manchete: "A catástrofe olímpica do Brasil", acompanhada de uma ilustração, em movimento, que trazia uma fumaça escura encobrindo símbolos da cidade.

A verba adicional vinda do governo federal, em função do decreto, possibilitará o término de obras no metrô, por exemplo, que corre o risco de não ter concluída a construção do trecho olímpico da Linha 4 a tempo para o evento.

Quando a cidade foi escolhida, há sete anos, um clima de entusiasmo se espalhou pelo país. Em conversa com o R7, o ex-levantador Maurício Lima, bicampeão olímpico de vôlei pelo Brasil (1992 e 2004), se lembra bem deste estado e vê a atual situação com um tom de lamentação.

— É triste ver tudo isso que está acontecendo. Quando fomos escolhidos passávamos por um momento muito bom da economia, crescendo como a China. Não poderíamos declinar, mas nunca imaginávamos que iríamos passar por tantas dificuldades como as que estão ocorrendo.

O IML (Instituto Médico Legal), também está sem condições de funcionamento. A instituição parou de receber corpos no dia 7 de junho, devido à condição insalubre que impossibilitava o trabalho dos funcionários.

Em abril último, a ciclovia Tim Maia, inaugurada apenas três meses antes desabou e deixou dois mortos. A perícia posteriormente informou que a causa da queda foi uma falha no projeto. Para Maurício, o panorama mudou desde então.

— Depois o País caiu nessa crise que todo mundo conhece. Em termos internacionais o Brasil já está muito manchado em relação a isso. Temos zika, chikungunya, qualquer coisa que vem para cá está dando problema. Há preocupação muito grande da imprensa internacional e dos atletas, que estão receosos quanto a isso.

Assaltos, tiroteios nos morros, ameaça de terrorismo também fazem parte do cenário que antecede o maior espetáculo esportivo do mundo. Em outras ocasiões, cidades como Sydney (2000), Pequim (2008) e Londres já estavam em clima de comemoração a essa altura.

No dia 30 de junho, novo episódio arranhou ainda mais a imagem da cidade. Equipamentos de duas emissoras alemãs, que serão usados na cobertura dos Jogos foram roubados na avenida Brasil, zona norte, e depois encontrados em galpão na Baixada Fluminense.

Em abril policiais civis entraram em greve, por falta de pagamento. Professores da rede estadual também iniciaram paralisação, em março, com duração de mais de três meses. Maurício participou de cinco Olimpíadas e conhece bem como deve ser a infraestrutura do evento.

— Acho que vai dar certo porque o clima de não tanto calor vai ajudar em relação à zika e chikungunya. Em termos de violência é um pouco mais complicado. O País todo está preocupado com o Rio, com todas essas notícias assustadoras, mas vão colocar o Exército nas ruas como aconteceu em grandes eventos.

As 33 instalações olímpicas, em quatro regiões (Barra, Deodoro, Copacabana e Maracanã) será de responsabilidade do governo federal, que enviará cerca de 10 mil homens da Força Nacional para comandarem a segurança dos Jogos, que terão participantes de 206 países.

As 33 instalações olímpicas, em quatro regiões (Barra, Deodoro, Copacabana e Maracanã) será de responsabilidade do governo federal, que enviará cerca de 10 mil homens da Força Nacional para comandarem a segurança dos Jogos, que terão participantes de 206 países.

— Infelizmente será algo paliativo, acabou a Olimpíada o problema vai voltar. Em relação a legado, é complicado. Já deveria estar se formando e existindo agora. A única coisa que poderá existir será a utilização de complexos esportivos. Mas legado vai além disso, é algo cultural em relação ao esporte, e também social. Esses, eu acho difícil existirem.

As epidemias de zika, dengue e chikungunya, entre outros, também têm assustado turistas e atletas. Em março, o Estado contabilizava 5,2 mil casos notificados de grávidas com sintoma de zika, aumentando, segundo especialistas, o risco de os bebês nascerem com microcefalia. O golfista Jason Day, número 1 do mundo, desistiu do evento em função da ameaça de contrair a doença no Brasil.

E a expectativa de que a Baía da Guanabara tivesse um sistema adequado de tratamento e descontaminação, foram "por água abaixo". As águas nas profundezas desta paisagem aparentemente paradisíaca continuavam, segundo especialistas, com impurezas como bactérias, coliformes fecais e metais pesados, trazendo risco para os participantes.

Para agravar ainda mais os problemas, a Agência Mundial Antidoping descredenciou o  LBCD (Laboratório de Controle de Dopagem Brasileiro) por seis meses, apontando erros em exames, de acordo com Reuters. O fato ocorreu no último dia 24 e a entidade punida tinha até 21 dias para recorrer da decisão.

Enquanto os problemas se acumulam, as autoridades buscam um discurso otimista. Após uma atleta paralímpica australiana ser assaltada, no dia 21 de junho, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que a cidade será segura durante o evento, por causa dos reforços que envolvem cerca de 85 mil policiais e soldados.

Tantas adversidades motivaram até mesmo atletas famosos, como o ex-jogador Rivaldo, a aconselharem os turistas a não virem ao Rio de Janeiro. Ele ficou abalado com a morte da jovem Ana Beatriz, de 17 anos,  assassinada, após um arrastão, no dia 7 de maio último no acesso 4 da Linha Amarela.
Na ocasião, Rivaldo, morando na Flórida (EUA), resumiu o sentimento de muita gente:

— A coisa está cada vez mais feia no Brasil. Aconselho a todos que têm intenção de visitar o Brasil ou vir para as Olimpíadas no Rio é para que fiquem no seu país de origem. Aqui você estará correndo risco de vida.

E completou:

— Isto sem falar nos hospitais públicos que estão sem condições e toda esta bagunça na política brasileira. Só Deus para mudar a situação do nosso Brasil.

Os gastos de R$ 2,34 bilhões no Parque Olímpico, R$ 2,9 bilhões na Vila dos Atletas e de R$ 835,8 no Complexo Deodoro, entre recursos federais, municipais e parcerias com a iniciativa privada, por outro lado, deixarão uma boa infraestrutura esportiva.

Agora, mais do que a preparação, a torcida para que tudo dê certo é que vai prevalecer. As belezas e atrações da cidade contribuem para que essa expectativa se mantenha até o fim dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Com informações do Portal R7

Pontos moeda