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Atleta iraniana encanta a todos e revela o espírito olímpico no tiro com arco

Redação Folha Vitória

Rio -

A ansiedade em torno da participação de Zahra Nemati na eliminatória do tiro com arco dos Jogos Olímpicos do Rio começou antes da prova, nesta terça-feira. “Ela está vindo”, anunciou uma voluntária, esticando o pescoço no Sambódromo. Quando a iraniana entrou de cadeira de rodas para competir com a russa Inna Stepanova, atleta sem deficiência, a ansiedade virou admiração. Zahra foi acolhida pelo templo do samba.

Porta-bandeira do Irã, ela é uma das poucas atletas classificadas para a Olimpíada e a Paralimpíada. Cadeirante desde 2003 quando um acidente de carro causou uma lesão na medula espinhal que tirou os movimentos das pernas, a iraniana ficou nervosa com o tamanho da competição. Um dos seus tiros alcançou apenas três pontos - o máximo é 10. “Fiz o meu melhor, mas minha adversária era muito boa”, reconheceu.

No final da disputa, Zahra chorou. Não pela derrota. “Quero deixar uma mensagem de superação. Tudo é possível”, balbuciou antes de nova crise de choro. A admiração virou comoção. Uma pequena fila de fãs se formou para tirar uma selfie. O publicitário Renato Bandeira estava lá. “Ela é o símbolo do espírito olímpico”, disse Bandeira, que pede para ser identificado também como torcedor do Fluminense.

O carinho olímpico também comete gafes. Instintivamente, o torcedor tricolor estendeu a mão para parabenizá-la. Zahra arregalou os olhos e se encolheu. As mulheres iranianas não podem ser tocadas por um homem. Passado o climão, ela voltou a sorrir, toda meiga.

A voluntária Clara Reis conta que está aprendendo muito com Zahra. Indicada inicialmente para dar apoio para toda a equipe iraniana na Vila Olímpica, ela passou a cuidar exclusivamente da atleta. “Ela é humilde e faz questão que eu coma junto com ela”, disse a voluntária, que também se surpreendeu com a independência da iraniana. “Ela não pede ajuda para fazer as coisas. Está sempre pronta”.

O acidente aconteceu em 2004, quando ela tinha 19 anos e era faixa preta de tae kwon do. Só conseguiu retomar a vida dois anos depois e usou o esporte como antídoto para a depressão. Precisou de seis anos para representar o Irã na Paralimpíada de Londres, em 2012, e conquistou o ouro no individual e o bronze por equipes. Foi a primeira iraniana a vencer uma competição olímpica ou paralímpica. No ano passado, ficou em segundo no torneio asiático, o que lhe deu índice para vir ao Rio.

Ela tem um jeito delicado, quase angelical e parece mais jovem dos que os 31 anos apontados em sua biografia olímpica. Assustada com o batalhão de repórteres, ela só se abriu depois, em um cantinho do Sambódromo, para o jornal O Estado de S.Paulo e dois repórteres japoneses. “Achei a torcida brasileira fantástica. Eles foram muito amáveis”.

Pelo contexto, ficou claro que Zahra perdeu. Mas o placar do jogo vai aqui, só no pé, para sublinhar que ninguém no Sambódromo se importou com os 6 a 2 para a russa - com parciais de 28/21, 27/28, 28/26 e 27/26 (cada vitória nas parciais vale dois pontos no placar final).

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