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Especialistas apontam “amadorismo” e “imprudência” em acidente com avião da Chapecoense

O professor de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS Paulo Villas-Bôas afirma que ainda é preciso que as investigações avancem para saber o que realmente causou a queda

A aeronave Avro RJ-85, da empresa boliviana Lamia, fabricada pela empresa inglesa British Aerospace, caiu na localidade de La Unión Foto: Divulgação

A principal causa da tragédia com a delegação da Chapecoense na ultima terça-feira (29) na Colômbia, pode ter sido a falta de combustível na aeronave. De acordo com especialistas ouvidos pelo R7, o piloto Miguel Quironga não cumpriu os regulamentos internacionais de planejamento de voo e observou corretamente a quantidade de combustível necessária para completar a viagem. 

O professor de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) Paulo Villas-Bôas afirma que ainda é preciso que as investigações avancem para saber o que realmente causou a queda, mas diz que “o piloto não cumpriu os regulamentos internacionais” em relação ao voo e que ele “não cumpriu os protocolos em relação à aviação”.

Villas-Bôas explica que não é possível saber os motivos que fizeram com que Quiroga não cumprisse esse procedimento, mas diz que foi “uma coisa, assim, muito amadora”. O especialista, que tem mais de 35 anos de aviação, afirma com convicção que foi uma “pane seca” que causou o acidente.

— [A aeronave] teria que fazer um pouso intermediário para fazer o abastecimento. A legislação exige um combustível adicional.

Villas-Bôas diz que, “a grosso modo”, um avião tem que ter combustível para uma hora e trinta minutos ou uma hora e quarenta minutos a mais de voo. Segundo ele, o piloto fez um planejamento quase “zero a zero” para cumprir o trajeto.

Do aeroporto de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, até o aeroporto de Medellín, na Colômbia, são 2.975 Km. O modelo original da aeronave Avro RJ-85 tem condição de percorrer, com o tanque cheio, 2.965 Km, 10 Km a menos. Algumas aeronaves tiveram o tanque de combustível expandido pela fabricante, mas não é possível afirmar que o modelo que caiu passou pelo reparo.

De qualquer maneira, afirmam especialistas, a autonomia da aeronave era limitada. Para complicar, segundo informações da torre de controle do aeroporto de Medellín, foi necessário aguardar outro avião pousar antes.

— Ele [piloto] quis evitar esse tipo de operação [parada para abastecer]. Teria que pagar taxas aeroportuárias, seria mais um pouso. Ele quis arriscar. Foi uma ousadia.

O especialista em segurança de voo Deusdedit Carlos Reis, da Universidade Fumec (Fundação Mineira de Educação e Cultura), de Belo Horizonte (MG), concorda com a teoria do professor, tendo em vista o que se foi apurado até o momento sobre as causas da tragédia.

Reis diz que é preciso acompanhar as investigações até o final para poder ter certeza do que motivou a queda. Mas explicou que a conversa entre a tripulação e a torre de controle divulgada pela imprensa ontem é “esclarecedora”.

— Estava sem combustível. A pane, na verdade, não era uma pane elétrica. De fato, o controle de tráfego aéreo declarou que estava acabando o combustível.

Reis diz que já se sabe que, na aviação, os acidentes nunca são causados por um único fator, mas que “sem combustível é ruim em qualquer situação” e que a autonomia do avião ficaria “no limite da distância”. O “planejamento inadequado do piloto”, segundo ele, parece ser um fator contribuinte para o acidente.

— Se confirmada [a falta de combustível como a causa da queda], ele foi imprudente. Não parece ter sido em decorrência de pane. Tem que ter combustível e com certeza não tinha essa autonomia toda. Ele arriscou. O certo seria ele fazer um pouso e reabastecer para prosseguir viagem. Mas a investigação é o que vai realmente mostrar a sequência de fatos que decorreu no acidente.

O especialista em segurança de voo da Fumec afirma também que o piloto poderia estar querendo “ganhar tempo”, mas que isso não faria sentido visto que dava tempo para fazer todo o procedimento antes do compromisso dos jogadores — o jogo seria na quarta-feira (30), à noite. Outra hipótese seria a diferença de valores de abastecimento de um país para outro e até de uma cidade para outra.

— Ele deve ter feito as contas e ele arriscou. Se você parar para pensar é um absurdo, mas [o piloto] vai tomando um costume e já não consegue avaliar um risco. A confirmar essa versão, foi uma temeridade. Foi uma imprudência. Ele jogou com a sorte e aviação não se joga com a sorte.

Reis conta que ter aceitado fazer duas voltas antes de aterrissar foi “fatal” para as pessoas que embarcaram no avião e que todos precisam tirar “lições” da tragédia. Para ele, é importante “reforçar a necessidade de que os pilotos sejam mais cuidadosos no planejamento de seu voo”.

Segundo Villas-Bôas, da PUC-RS, o fato de a cabine ter ficado escura e de as luzes terem apagado momento antes da queda mostra que a pane elétrica “foi uma consequência da falta de combustível”.

— Ele alegou a pane elétrica, mas aconteceu a pane quando acabou o combustível.

Na última terça-feira (29), a aeronave Avro RJ-85, da empresa boliviana Lamia, fabricada pela empresa inglesa British Aerospace, caiu na localidade de La Unión, a cerca de 30km do aeroporto de Medellín, na Colômbia. Ao todo, 71 pessoas morreram e seis foram resgatadas com vida.

Com informações do Portal R7. 

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