Investindo no povo para o desenvolvimento nacional

Circula pela internet um dito popular, de gosto duvidoso, dizendo que o brasileiro joga bem futebol porque este jogo não se aprende na escola. Apesar de irônica, tal linha de argumentação deveria ao menos provocar alguma reflexão entre nós. Resultados recentemente divulgados sobre o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb, revelam um quadro preocupante, algo que inclui até o desinteresse de estudantes como um elemento bloqueador de avanços nesse campo.

Comparações internacionais tampouco são favoráveis à educação básica brasileira. O Brasil ocupa a incômoda 53ª posição geral de um ranking de 65 listados pelo Pisa-2009 (programa internacional de avaliação de estudantes). Afinal, se a educação é de fato tão importante para o desenvolvimento de um país, por que não se investe mais e melhor no Brasil?

 

Publicado em 1981, ‘Investing in people’, de Theodore Schultz, é um livro muito conhecido pelos estudiosos de economia social. Vejamos um trecho dessa obra. Segundo o autor, “aumentos nas aptidões adquiridas pelas pessoas no mundo inteiro e avanços em conhecimentos úteis detêm a chave da futura produtividade econômica e de suas contribuições ao bem-estar humano”. Reconheço que as dificuldades brasileiras em executar investimentos não ocorrem apenas no campo da educação, conforme se pode notar na comparação em percentual do PIB exposta no gráfico que segue logo abaixo.

 
Dificuldades institucionais explicam parte desse imbróglio nacional, porém a inserção externa da economia brasileira também integra esse quadro. Brasil e Rússia assemelham-se na dependência de exportações de produtos básicos (commodities), enquanto China e Índia buscam uma inserção econômica global de maior intensidade tecnológica. Os países são diferentes em suas histórias, instituições e potencialidades, porém deve-se destacar ser o desenvolvimento econômico um processo de acumulação de capital e evolução sócio-cultural de um povo. Caso a demografia não seja baixa e a inserção externa se processar pela dependência dos preços internacionais dos produtos básicos então se pode muito bem esperar por concentração de renda e subdesenvolvimento.

O fato de a China ter se constituído em uma das oficinas do mundo, o que demandou recursos naturais em larga escala e propiciou ganhos sociais para alguns, criou a ilusão de que um país urbano possa se desenvolver de maneira sustentada e sem grandes complicações nas suas contas externas. A crise na eurozona, os problemas nos EUA e a redução das perspectivas de crescimento chinês já apontam para o caráter ilusório dessa crença.

Nesse sentido, são atuais as palavras de Theodore Schultz: “recursos naturais, capital físico e mão de obra bruta não são suficientes para o desenvolvimento de uma economia altamente produtiva. Uma série de aptidões humanas é essencial para a alimentação da dinâmica do desenvolvimento. Sem elas, as perspectivas econômicas são desanimadoras”. Aptidões humanas são institucionalmente construídas a partir de investimentos estruturantes na educação pública de qualidade universal. A qualidade do desenvolvimento econômico brasileiro depende desses investimentos.

O Brasil possui um peso tributário proporcionalmente mais elevado do que a carga apresentada por alguns países de mais alto índice de desenvolvimento humano (IDH) e menor concentração da renda (Índice Gini) – Coreia do Sul, Suíça, EUA e Nova Zelândia, por exemplo. Recursos públicos, creio, podem muito bem ser eficientemente realocados e redistribuídos no Brasil. A discussão política, para tanto, passa pelo estabelecimento de prioridades nacionais e pela renovação do pacto federativo.

Rodrigo L. Medeiros (D.Sc.) é membro da World Economics Association (WEA)

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