Cidades inteligentes

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A discussão municipal esquentará, provavelmente, nos próximos tempos. Nesse sentido, um debate público qualificado precisará olhar bem para o que vem sendo objeto de reflexões no mundo. Os especialistas nos dizem que estamos vivendo o “século das cidades”. Afinal, os mais diversos progressos no campo das tecnologias de informação e comunicação geraram reais oportunidades capazes de garantir a competitividade e a sustentabilidade das cidades.

Joan Ricart e Pascual Berrone, professores de gestão estratégica do IESE Business School, afirmam que “a inovação é essencial para o desenvolvimento de cidades competitivas e sustentáveis. Precisamos fazer coisas de formas diferentes se quisermos resultados distintos, e o desenvolvimento das cidades por meio de gestão inteligente é o caminho” (As cidades do futuro. Em: “Valor Econômico”, 12/07/2016). O Cities in Motion Index (Índice Cidades em Movimento), do IESE, aponta para dez dimensões da vida urbana (governança, planejamento urbano, gestão pública, tecnologia, meio ambiente, internacionalização, coesão social, transportes, capital humano, economia). Esse Index mostrou que as cidades brasileiras têm um desempenho relativo insatisfatório.

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Mesmo na América Latina, nenhuma cidade brasileira ficou entre as cinco primeiras posições do ranking elaborado pelo IESE. Os desafios são muitos para as cidades brasileiras e os bons exemplos internacionais podem nos ajudar, ainda que esses casos de sucesso não possam ser transpostos para outros contextos de forma simplória e automática. Segundo Ricart e Berrone, “cada cidade precisa desenvolver sua própria visão ou modelo mediante diálogo com todas as partes interessadas, o que pode ser problemático, tendo em vista as mudanças de pontos de vista geradas por eleições periódicas. Essas cidades precisam desenvolver uma governança inteligente com integração, aproveitando interdependências dentro e fora das prefeituras”.

O processo de globalização é um fenômeno multifacetado e com grandes repercussões nas vidas das cidades. Esse processo foi acelerado pelas tecnologias de informação e comunicação, que afetam não apenas a mobilidade do capital, mas também a de pessoas, ideias e inovações. As políticas públicas locais são centrais na compreensão das encruzilhadas da cidade, pois elas afetam as vantagens competitivas dos lugares em termos produtivos e a qualidade de vida dos seus residentes. Portanto, a cidade assume uma importância estratégica crescente nos países devido a fatores de proximidade socioeconômica e de coexistência plural (diversidade), algo fundamental para os processos de inovação.

Cinco são as recomendações para tornarmos as nossas cidades efetivamente mais inteligentes:

1. Estabelecer um laboratório de inovação cívica para orientar o desenvolvimento de tecnologias colaborativas.
2. Usar dados públicos e plataformas abertas para mobilizar o conhecimento coletivo.
3. Considerar o comportamento humano, não apenas os aspectos tecnológicos.
4. Investir em pessoas inteligentes, não somente em tecnologia.
5. Difundir o potencial das tecnologias colaborativas.

Essas recomendações representam uma oportuna síntese feita por Tom Saunders e Peter Baeck, em “Rethinking Smart Cities From The Ground Up” (London: Nesta, 2015). A discussão sobre uma nova economia das iniciativas locais possui diversas perspectivas teóricas e metodológicas, refletindo a complexidade do assunto. Esse é um bom debate público para as cidades brasileiras.

Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)

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