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Após celebrar missa ao redor de corpo em Vitória, padre diz que não consegue dormir

Na igreja, reunido com os fiéis, o padre Kelder José Brandão transmite tranquilidade. Mas desde o último domingo (13), quando celebrou a missa de corpo presente do jovem Sérgio Rodrigues dos Santos, de 25 anos, assassinado durante o Domingo de Ramos, o padre confessa que não consegue dormir.

“Eu estou desde domingo sem dormir bem. Tenho um sono tão bom que sempre falo que tenho o sono dos justos e dos injustos. Desde o ocorrido, tenho dormido muito pouco. O sono não tem sido relaxante e repousante porque é algo que realmente inquieta a alma e o espírito da gente”, declarou.

O padre Kelder fez um apelo para que outros jovens não continuem morrendo. “Precisamos fazer um grande pacto pela paz e pela harmonia aqui no nosso Estado. Pela não violência, chega de matança. A carne mais barata do mercado não pode continuar sendo a carne dos nossos jovens. Principalmente dos jovens negros da periferia”, disse o padre.

O caso

Durante a procissão do Domingo de Ramos, o sacerdote recebeu a notícia de que um homicídio havia acontecido na Rodovia Serafim Derenzi. Diante de mais um caso de violência, o padre decidiu celebrar uma missa de corpo presente. Ele reuniu os fiéis em oração em volta do corpo. Ao longo da semana, a decisão gerou polêmica. Mas agradou quem convive diariamente com a realidade da região.

“Conhecendo o sacerdote como a gente conhece, que caminha na igreja junto com a gente e vem pregando todo esse momento de paz diante desse momento de violência, foi uma atitude que concordamos. Ficamos felizes com esse gesto dele fazer essa missa de corpo presente e essa solidariedade com a família”, disse a professora Benedita dos Anjos.

Ato contra violência

Integrantes de movimentos sociais aprovaram a atitude do padre. Eles se reuniram na noite da última quarta-feira (16) em um ato contra a violência, na igreja Matriz de São Pedro.

Durante a tradicional Procissão do Encontro, homens de um lado, com um jovem representando Cristo, saíram do bairro Resistência, em Vitória, percorrendo as ruas da grande São Pedro, até chegar à igreja. Lá encontraram com um grupo de mulheres, onde tinha uma jovem representando Maria, entoando cantos de adoração. No ponto de encontro, os romeiros foram recebidos pelos representantes dos movimentos sociais. O ato terminou com uma celebração, que pedia mais valor para a vida.

“Nós estamos no Espírito Santo vivendo uma realidade violenta. As pessoas estão fazendo justiça com as próprias mãos e nós queremos fazer um processo de reflexão sobre isso. Nossa intenção é dar um grito pela paz, um grito pela vida e pela dignidade humana”, afirmou o presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Gilmar Ferreira de Oliveira. 

Arquidiocese de Vitória apoia padre que celebrou missa ao redor de corpo

Em entrevista coletiva realizada na tarde da última segunda-feira (14), na Arquidiocese de Vitória, o Arcebispo classificou o ato como um protesto contra a violência na Capital. Dom Luiz aproveitou o momento para pedir que as famílias cuidem das crianças. Para ele, a falta de valores nos lares tem contribuído para o aumento da criminalidade. “Crescemos na técnica e perecemos no amor. Os pais devem orientar os seus filhos. Ensinar o amor ao próximo. É um trabalho coletivo, uma parceria entre os cidadãos. Os pais, os professores e a sociedade devem se ajudar, para que possamos reconstruir laços sentimentais”, salientou.

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