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Intervenções urbanas criativas tomam conta das ruas da capital capixaba

Algumas intervenções urbanas na capital possuem cunho artístico e/ou histórico, e outras, se destacam pelo apelo solidário e de desapego, mas todas chamam a atenção de quem passa pelas ruas

Moradores de rua são os principais beneficiados com o "Amô no Cabide" Foto: Divulgação

Intervenções urbanas vêm se destacando no cenário capixaba e estimulando cada vez mais a produção dessas ações. Algumas possuem cunho artístico, e outras, se destacam pelo lado solidário, como é o caso das amigas Nunah Alle (19), estudante de psicologia e Thiara Pagani (26), estudante de artes visuais, que no início de julho escolheram a praça Costa Pereira, no centro de Vitória, para espalhar cabides com roupas para os moradores de rua e outras pessoas que precisam, dando início ao Projeto “Amô no Cabide” .  

“A ideia não é originalmente nossa, em Porto Alegre os gaúchos penduravam roupas de frio em cabides espalhados pela cidade no inverno. E como ideias bacanas a gente adapta e reproduz, decidimos fazer aqui em Vitória”, diz Nunah.

O primeiro objetivo é claramente ajudar quem precisa. Mas muitas vezes as doações são destinadas a lugares específicos, como igrejas, asilos, orfanatos, e acabam não chegando nas mãos daqueles que passam necessidades todos os dias nas ruas. A proposta das amigas era fazer uma ação de contato direto com a possibilidade de propagação, com mais pessoas criando novos pontos, como também doando outras coisas. Com cada vez mais cabides com agasalhos espalhados pela cidade. Os cabides permanecem no local colocado para que outras pessoas possam abastecê-los com novos casacos ou qualquer outra roupa, sapato ou livro, “é um modo dinâmico e lúdico de doação. A ideia é que cada vez mais lugares possam aderir ao projeto”, completa Thiara.

Outra forma de intervenção urbana, muito utilizada em grandes centros, é o lambe lambe que aliado ao uso de poesias e palavras encantou a educadora social e designer gráfico Rayza Mucunã (23). “Eu sempre gostei muito de intervenção urbana, principalmente através de lambe lambe, daí eu via uns trabalhos muito legais com poesia, só que eu não sou poeta então pensei: preciso de uma fonte legal para essas frases. Não lembro como que eu cheguei no pagode, só sei que depois disso virei mais uma apaixonada pelo projeto”, confessa Rayza.

Intervenções urbanas mudam a cara da cidade e interage com a população Foto: http://projetopagode.tumblr.com/

Ela utiliza adesivos, cartazes, letreiros, folhas de papel A4, com letras que podem ser feitas à mão com pincel, spray e stencil. O tempo de produção depende do tamanho da frase e o material utilizado. As frases normalmente tem relação com o local onde elas são expostas e em alguns casos funcionam separadas do restante da letra da música, mas em outros remetem automaticamente ao restante da música, frases que você já lê cantarolando.  

Além disso, o local e horário pra colar tem que ser tranquilo, conta Rayza, já que pode ter problemas com a polícia, o que é sempre algo a ser evitado. “Muita gente tem preconceito com intervenção urbana, acha que é mais sujeira na cidade. Nesse aspecto, acho que o projeto até quebra uns estigmas com relação a esses preconceitos por utilizar esse imaginário comum popular das músicas”.

As cidades são, sob muitos aspectos, grandes espaços de formação do cidadão. Pensando nisto - e na importância que as edificações históricas possuem na formação das pessoas – o projeto “A Arte é Nossa” lançou mais uma ação de intervenção urbana com o intuito de valorizar e recuperar a história do município de Vitória, além de tornar mais bonito o dia a dia da cidade e de seus habitantes.

Em parceria com os artistas Francione Salvador (Dione Salvador) e Antonio Sampaio (Natural), o “A Arte é Nossa” resgatou uma época em que o bonde era o principal meio de transporte da cidade. Para isto, os 240 metros quadrados do muro do estacionamento do Ministério da Fazenda – localizado na Avenida Princesa Isabel, esquina com a Barão de Itapemirim – foi transformado em um grande mural no último dia 11.

Intervenção urbana valoriza e recupera a história de Vitória Foto: Divulgação

Neste espaço, a dupla de artistas fez uma releitura do trajeto realizado pelo bonde, colocando em destaque 16 prédios históricos da capital, como a Fafi, o Palácio Anchieta, o Museu do Negro, o Teatro Glória, entre outras edificações. 

Para desenvolver o trabalho, os artistas fizeram uso de técnicas da arte contemporânea como a Arte Mural, a Arte Relevo e o Grafite aproximando a história viva da cidade de cada um de seus moradores e visitantes.

O Projeto “A Arte é nossa” tem como objetivo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Semc), realizar ações e intervenções artístico-urbanas em equipamentos e espaços públicos, na cidade de Vitória, envolvendo a comunidade, com o intuito de fortalecer as relações de pertencimento cidadão e cidade por meio da arte e da cultura e assim democratizar a produção artística local.

Quem passa pela avenida Vitória vai já observou o colorido da fachada inferior da Fábrica de Ideias - antiga Fábrica 747 -, em Jucutuquara, que desde junho conta com um painel com mais de 250 metros quadrados, de autoria do artista plástico Emílio Aceti.

 

Fachada da Fábrica de Ideias Foto: Divulgação

Misturando elementos da história da arte com a biografia da cidade de Vitória e fazendo referência aos grandes mestres da pintura, como Van Gogh e Tarsila do Amaral, além de usar a linguagem da cultura pop através dos gibis, o artista plástico Emílio Aceti, do grupo de grafite Centro Grafitacional, desenvolveu o conceito do trabalho da fachada da Fábrica de Ideias.

"O grafite faz parte da fisionomia da cidade, quebra o cinza do asfalto e traz um pouco de imagens poéticas e lúdicas, além de muitas cores, elementos e significados", disse o artista. Para ele, participar do projeto foi muito importante tanto para a arte urbana quanto para a história do seu grupo. "Trata-se de uma oportunidade única de ocuparmos um espaço tão visível”.

A Casa Porto de Artes Plásticas, que funciona na antiga Capitania dos Portos no centro de Vitória, está com a exposição "Dos Salões à Bienal do Mar" – um recorte histórico da trajetória das Bienais (antigo Salão do Mar). A mostra reúne obras premiadas em várias edições de Bienais e Salões do Mar. São 12 artistas contemporâneos, entre eles Piatan Lube e Lourival Cuquinha com obras de intervenções urbanas que que buscaram resgates de memória. 

Piatan Lube (28), artista plástico e morador de Viana, foi premiado no 8º Salão do Mar com o Projeto “Caminho das Águas”. O Projeto consiste em demarcar com uma linha azul o local exato onde antigamente, antes dos aterros, estava o limite entre a terra e as águas do mar.

"Caminho das Águas" mostra antigo limite entre terra e mar  Foto: Divulgação

Essa longa faixa azul, no centro de Vitória, nasceu com a intenção de estabelecer um novo olhar sobre o mar, redescobrindo a cidade, um fragmento de um tempo distante que revela até onde o mar vinha. 

Para a realização do Projeto, o artista utilizou mapas da Secretaria de Desenvolvimento da Cidade (Sedec), que revelaram todos os acréscimos territoriais. Por meio de fotos antigas, também foi possível fazer releituras da paisagem urbana.

“A memória afetiva tem um papel fundamental na concepção do projeto, que pretende sensibilizar o olhar do público para a história” comenta o coordenador da Exposição, Reinaldo Freitas Resende.

Lourival Cuquinha Batista, artista pernambucano premiado no 7º Salão do Mar, apresenta a instalação “Varal” que também remete à memória, ao deslocar o olhar ao passado gerando identidade, de formas diferenciadas, por cada observador. “Quando uma pessoa olha e lembra de quando na infância corria em meio à varais de roupas, é um momento de convergência do passado com o presente”, exemplifica Reinaldo Resende.

A Exposição "Dos Salões à Bienal do Mar“, fica aberta até a 1ª quinzena de agosto, podendo ser visitada de quarta a sexta, das 9 às 17 horas, nos sábados, domingos e feriados, das 12 às 16 horas, na Casa Porto das Artes Plásticas, na Praça Manoel Silvino Monjardim, 66, Centro (antiga sede da Capitania dos Portos) .

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