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Após mortes, moradores de comunidade protestam na região central do Rio

Redação Folha Vitória

Rio de Janeiro - Moradores do Morro de São Carlos, no bairro do Estácio, atearam fogo a dois ônibus em acessos à comunidade, na região central do Rio de Janeiro. Os veículos estavam na Avenida Salvador de Sá e na Rua Campos da Paz. As ações foram protestos em represália às mortes de dois moradores, os mototaxistas Rodrigo Lourenço, de 29 anos, e Ramon Moura Oliveira, de 22 anos, cujos corpos teriam sido encontrados na manhã desta sexta-feira, 15, com marcas de facadas. Não há informação sobre pessoas feridas nos incêndios.

De acordo com moradores e familiares, as vítimas teriam sido abordadas por homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar durante a noite desta quinta-feira, 14, e foram mortos a facadas. Os corpos foram encontrados em uma vala no alto da comunidade.

Equipes da Delegacia de Homicídios (DH) estão no local para realizar perícia. O delegado Rivaldo Barbosa, titular da unidade, pediu que a indignação da população sirva para levar informações à Divisão de Homicídios.

Segundo testemunhas, 60 pessoas estavam no ônibus incendiado no Largo do Estácio, da linha 229 (Usina/Castelo), mas ninguém se feriu. Por volta de 7h30 desta sexta-feira, quatro homens que estavam com máscaras pararam o veículo e pediram para que todos os ocupantes descessem.

Eles teriam ainda pego o dinheiro do caixa do ônibus e comprado combustível para alimentar as chamas. O fogo atingiu a fiação elétrica e interrompeu o fornecimento de internet em alguns locais da região. Por volta das 11h, técnicos realizavam reparos.

Um ato de moradores em um dos acessos da favela foi dispersado com bombas de gás lacrimogêneo. Os artefatos foram lançados em frente a uma creche, onde estudam bebês e crianças de até 3 anos de idade. Por causa do ocorrido, pais compareciam à unidade para buscar seus filhos por volta de 11h.

"Foi um desespero. A gente se jogou a chão. A gente estava la em cima com as crianças e, foi de repente... Só escutamos as bombas e aquela fumaceira entrando. As crianças choraram muito. Descemos para essa sala aqui embaixo para ficarmos um pouco mais protegidas", disse uma professora da unidade.

"Estão esperando liberar as crianças para irmos embora. Até porque nossos próprios parentes estão preocupados", declarou outra funcionária da creche.Os moradores afirmam que, desde a entrada do Bope, no dia 8, a rotina de abordagens violentas se intensificou. "Eles já chegam atirando. Eu mesma não estou deixando minha filha de 12 anos ir para a escola", diz uma moradora do morro da Mineira, ressaltando que as mães da comunidade estão com medo.

Outro lado

De acordo com o major Ivan Blaz, assessor de ocupação da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), a polícia está "apurando" e fornecendo todas as informações necessárias para a Delegacia de Homicídios. "O que estamos vivenciando hoje no Complexo de São Carlos é um evento que já vivenciamos em outros locais. É uma disputa de quadrilhas rivais atuando por territórios de pontos de vendas de drogas. Essa é a motivação do caos nesse momento", disse.

Segundo ele, a ação da Polícia Militar é "preventiva" e "pretende resguardar os moradores da comunidade e priorizar a prisão desses criminosos".

O protesto ocorre um dia após a morte de um adolescente, João Vitor Petrato Gomes, de 15 anos, e de um homem identificado como Ysmailon da Luz Alves Santos, de 21 anos. A PM afirma que uma pistola foi apreendida com João Vitor. A Polícia Civil investiga as circunstâncias da morte do adolescente. As armas dos PMs que participavam da ação do Bope foram recolhidas e encaminhadas à perícia.

Desde a noite do dia 8, policiais do Comando de Operações Especiais (COE) patrulham as comunidades da Coroa, Fallet, Fogueteiro e São Carlos e Mineira. A ocupação não tem data para terminar, informou o secretário de Segurança José Mariano Beltrame.

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