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Morador de rua dá exemplo de superação e conquista vaga no Ifes

Assistido pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social para População de Rua, o ex-dependente químico relembra sua trajetória de vida

le passou no vestibular para o segundo semestre de 2015 Foto: Divulgação/Prefeitura

Uma grande conquista profissional e uma vitória maior ainda no campo pessoal. Assim Francelino Augusto Pereira se sente hoje. Ele passou no vestibular para o segundo semestre de 2015, para o curso de Mecânica, no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).

Assistido pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social para População de Rua (Centro-Pop) há quase um ano, o ex-dependente químico relembra sua trajetória de vida antes de decidir pelo acompanhamento psicossocial, com a assistente social Clara Maria de Souza e a psicóloga Ana Cláudia Sanches.

“Eu sou de Valadares. Devido às drogas, me separei da família. Com o decorrer da morte da minha mãe, tivemos que vender a herança, fiquei em situação de rua em Valadares", conta ele.

Francelino soube que emprego aqui era mais fácil de encontrar e, assim, decidiu tentar a vida em Vitória. "Quando vim, eu tinha uma companheira. Mas nos desentendemos e fui parar no presídio. Saí do presídio de novo para a rua. Foi quando decidi procurar a ajuda do Centro Pop”.

Centro Pop e Caps AD

“Antes de conhecer o Centro Pop, eu ficava o dia todo me drogando. O pessoal do Centro Pop e do Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) me ajudou a colocar a cabeça no lugar, com terapias e oficinas. Fui clareando minha mente e resolvi a voltar a estudar, com o incentivo de conseguir um emprego melhor, me qualificar. E então decidi fazer a prova no Ifes”.

A assistente social Clara Maria de Souza informa como foi o início da vinda do Francelino no Centro Pop: “A partir do momento em que ele frequentou o Centro Pop, com as oficinas motivacionais e os grupos reflexivos, Francelino sentiu a necessidade de voltar a estudar, para mudar a sua vida e alcançar sua autonomia”.

“Algumas as pessoas falam que não adianta trabalhar com o popular de rua. Mas, quando conseguimos que um tenha resultado positivo, faz muita diferença. Ganhamos nosso dia. Só o fato dele ter feito a sua inscrição no Ifes já era um motivo de vitória, pois isso é uma aposta que ele estava fazendo com ele mesmo. Essa vitória dele é uma vitória nossa", disse Clara.

Francelino usou drogas durante cerca de 20 anos. "Isso destruiu bastante minha vida. Tenho que começar tudo do zero, de novo", disse. Ele frequentava a escola no Centro Pop e fazia aulas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) no período noturno, pois era um ambiente mais tranquilo para estudar. 

Atualmente, ele faz o curso de Operador de Computação, para adquirir prática com a informática. “No momento da inscrição eu fiquei muito eufórico e ansioso. Estava rindo a toa, pois voltei a estudar depois de 20 anos. Estou muito empolgado. Pois eu pude ir além da onde que eu achava que conseguia. Um pouquinho de esforço que eu fiz, consegui.”

Filhos e planos

“Eu tenho contato até hoje com meus filhos. Minha filha, Francieli, de 20 anos, ainda não sabe que fui chamado pelo Ifes, só sabe que fui aprovado. Acho que agora sim, senti orgulho de ser pai. Uma nova vida. Tudo que eu quero é voltar a ter uma vida normal, com meus filhos dentro de casa e com o acompanhamento deles. E estou tentando reconquistar de novo. Gostaria muito da presença do meu filho, Flávio de 15 anos comigo."

Para o futuro, Francelino faz vários planos: “Minha vontade é ingressar em uma grande empresa. Meu pai era funcionário da Vale. Eu queria seguir o caminho dele e entrar no mercado de trabalho.” Para Francelino, cada dia é uma progresso. “Estou subindo os degraus. Já estou conseguindo algumas vitórias. Antes, eu estava derrotado, sem expectativa alguma de crescimento. Minha expectativa é que seja tudo de bom. É isso que pretendo”.

O coordenado do Centro Pop, Mauro Souza Motta, disse que tudo isso foi possível porque Francelino se permitiu fazer novas conquistas na vida:

“Isso foi uma conquista dele, porque ele quis, ele desejou. Foi o primeiro passo. O assistido quando vem para cá em situação de rua, já tem tantas perdas, fragilidades, com tantos empecilhos e dificuldades externas, que são alheias a vontade dele. Francelino procurou esse sucesso. Esse pode ser mais um caso de superação e conquista”.

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