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Especialistas divergem sobre tempo de recuperação do Rio Doce

Cerca de 25 mil piscinas olímpicas de rejeitos comprometeram a qualidade das águas e a onda de lama contaminada pode ter gerado danos irreversíveis

O cenário na Bacia do Rio Doce ainda é de devastação e incertezas Foto: Divulgação

Um mês depois do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana, na região central de Minas Gerais, o cenário na Bacia do Rio Doce ainda é de devastação e incertezas. Cerca de 25 mil piscinas olímpicas de rejeitos comprometeram a qualidade das águas e a onda de lama contaminada pode ter gerado danos irreversíveis.

Tal hipótese é defendida pelo biólogo André Ruschi, diretor da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi, no Espírito Santo. Segundo o especialista, entre os vários estragos à fauna e flora está a morte de meio trilhão de seres vivos. Dessa forma, a área atingida pode levar mais de mil anos para se regenerar.

"Destruir é muito mais fácil do que construir. Até termos um ambiente diversificado em termos de fauna e flora pode levar décadas. O que tinha no caminho da lama foi exterminado, não há como conter toneladas de lama de chegarem ao meio ambiente: é sentença de morte anunciada", afirmou.

Já o professor de Engenharia Costeira da COPPE/UFRJ, Paulo Rosman é mais otimista e disse à BBC Brasil que o rio Doce, dado como “morto, "vai ressuscitar" em até cinco meses, no final da época de chuvas, em abril do próximo ano.

"As fortes chuvas entre novembro e abril 'lavarão' o rio Doce, num processo natural. Digo isso baseado em quantidades de sedimentos, em conhecimentos de processos sedimentológicos, na dinâmica de transporte desses sedimentos pelas correntes dos rios, dos estuários, das zonas costeiras. Então essas coisas são relativamente rápidas, a natureza se adapta, se reconstrói, se modifica", disse.

Em entrevista à Agência Brasil, o fotógrafo Sebastião Salgado disse também acredita na sobrevivência do rio Doce. O fundador do Instituto Terra apresentou uma proposta de recuperação da bacia que deve durar de 15 a 20 anos.

"O instituto tem o maior viveiro de plantas nativas do estado de Minas Gerais e pode iniciar o plantio e a preparação dos técnicos que vão trabalhar nessa recuperação a longo prazo", destacou.

Fundos para recuperar o Rio Doce

Vários órgãos públicos e ações civis se organizaram para arrecadar fundos para recuperar os danos ambientais causados ao rio Doce. O próprio Sebastião Salgado teve a ideia de criar um fundo exclusivo para o fim. O fotógrafo, natural de Aimorés, cidade do Vale do Rio Doce, defende que recursos sejam fiscalizados pela sociedade civil para evitar que o dinheiro seja desviado para uso político.

O governo entrou com uma ação civil pública na Justiça solicitando a criação de um fundo no valor de R$ 20 bilhões para a recuperação do Rio Doce. A decisão foi anunciada após reunião da presidente Dilma Rousseff com os governadores de Minas Gerais e Espírito Santo.

O presidente da Vale, Murilo Ferreira, propôs a criação de um fundo "voluntário" para recuperaração. A intenção da Vale é que o fundo receba recursos de outras empresas, de ONGs e até instituições públicas, e seja gerido por um conselho composto pela mineradora e representantes do governo com auditoria independente.

Associação de Defesa dos Interesses Coletivos (Adic) da Bahia propôs que a Samarco seja multada em R$ 10 bilhões para a recuperação da bacia. Além da indenização, o defensor solicitou que a empresa tenha o valor de R$ 1 bilhão bloqueado e fique proibida de distribuir lucros e juros sobre capital próprio até que os danos sejam reparados.

Com informações do portal R7

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