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Quarta edição da Cúpula da Celac termina sem rumo claro

Redação Folha Vitória

Quito - A quarta edição da Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) terminou nesta quarta-feira, em Quito, com muitas declarações protocolares, mas sem um rumo claro para o próximo período. Temas como alternativas para enfrentar as incertezas econômicas, no momento em que os países da Celac enfrentam queda no preço das commodities, baixo crescimento e alta da inflação ocuparam boa parte dos debates, mas foi o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, quem roubou a cena ao sugerir um "plano anticrise" para estimular o comércio da região.

"Vivemos uma situação de emergência", disse Maduro. "A bonança do preço do petróleo, se serviu para grande investimento social, também reafirmou a dependência do modelo rentista petroleiro. Em tempos de crise, as famílias se ajudam. É hora de um plano de solidariedade."

Antes mesmo de discursar, Maduro já havia afirmado que "a Venezuela está em uma situação muito difícil", enfrentando problemas graves, como hiperinflação, escassez de produtos essenciais e queda acentuada das receitas. No plenário, ele recebeu apoio de seus pares.

Depois de dizer que chegaria à Celac disposto a "ir com tudo" para cima do presidente da Argentina, Maurício Macri, Maduro recuou. Macri não compareceu e enviou no seu lugar a vice-presidente Gabriella Michetti. Em vez de responder às críticas do país vizinho cobrando a liberdade dos presos políticos, Maduro pediu solidariedade à Argentina na batalha para recuperar os territórios das Ilhas Malvinas, sob controle britânico.

O vice-presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, pediu apoio à presidente Dilma Rousseff, que enfrenta ameaça de impeachment. "Estendemos a Dilma Rousseff e ao povo brasileiro nossa solidariedade e apoio na batalha que enfrentam para defender as conquistas sociais e políticas dos últimos 13 anos", afirmou Canel, após elogiar Maduro e pedir a soltura dos prisioneiros de Guantánamo.

A reunião de Quito marcou a primeira cúpula da Celac após a retomada das relações entre Cuba e Estados Unidos. Dos 33 chefes de Estado e de governo que formam o grupo, porém, só 14 compareceram. Os outros 19 enviaram representantes.

Dilma ficou menos de 24 horas em Quito e retornou ao Brasil antes da sessão plenária da Celac. A defesa da unidade do bloco para o combate à crise global foi feita pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.

O encontro terminou esvaziado, sem consenso sobre pontos considerados importantes pelo Equador, como a Agenda 2020, com metas de redução da pobreza e de mudanças climáticas.

"Lamentavelmente, por falta de consenso e diferentes visões sobre a Celac --que, pessoalmente, não considero excludentes--, não pudemos estabelecer metas quantificáveis", disse o presidente do Equador, Rafael Correa, que renovou as queixas à atuação da Organização dos Estados Americanos (OEA). "O mundo do futuro será de blocos. A Celac deve substituir a OEA, que nunca funcionou e é cada vez mais anacrônica. Fidel (Castro) a chamou adequadamente de ministério das colônias", provocou Correa.

Farc

A Celac firmou o compromisso de apoiar o acordo de paz entre Bogotá e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), previsto para este ano.

"Hoje estamos dando aqui um passo muito importante adicional para a busca da paz e o fim da guerra na Colômbia. Essa paz vai beneficiar todo o continente", disse o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. "É talvez o único conflito armado hoje que se está resolvendo de forma dialogada e exitosa."

A missão de observação para o cumprimento do acordo de cessar-fogo entre o governo colombiano e as Farc foi aprovada na segunda-feira pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Santos comemorou a decisão e disse que a Celac será "fonte de pessoal" para verificar o desarmamento.

Em nota divulgada ontem, o Ministério das Relações Exteriores saudou a adoção da missão política especial por parte do Conselho de Segurança da ONU para monitorar o acordo de paz na Colômbia. "Ao reiterar o compromisso do Brasil com a preservação da paz e a manutenção da estabilidade regional, o governo brasileiro expressa seu apoio aos esforços da Colômbia para a conclusão e plena implementação do Acordo Final, que trarão efeitos positivos para toda a região, e reafirma sua disposição de contribuir para esse fim", diz um trecho da nota do Itamaraty.

Santos observou que a partir de agora as Nações Unidas escolherão os participantes da missão. "Entregamos uma Celac com toda a capacidade de apoiar a verificação do acordo do cessar-fogo e de entrega de armas na Colômbia", observou Correa.

Uma disputa de bastidores marca agora a negociação para a presidência da Celac, a partir de 2017. A Bolívia é candidata a suceder a República Dominicana, que ontem assumiu o comando do grupo. O problema é que o Chile não aceita que a Bolívia presida o bloco. Motivo: avalia que, nessa condição, a Bolívia usaria a Celac para avançar na sua antiga demanda de recuperar o acesso ao Oceano Pacífico.

Na tentativa de impedir a Bolívia de chegar à presidência, o Chile agora estimula uma candidatura de Honduras para dirigir a Celac em 2017. (Vera Rosa)

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