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Com sonho de ser piloto, capixaba derruba parte da residência para construir simulador de avião

O Aviate Simulator tem 3,40 metros de altura e pesa em torno de 800 quilos, e está sendo construído por Valmir Freitas há oito anos. Para retirar o simulador, ele teve que quebrar a frente da casa

O Aviate Simulator foi levado para um galpão próximo à casa de Valmir, para que a parte externa seja finalizada Foto: ​Alissandra Mendes

Um sonho de criança está se tornando realidade para um marceneiro de Cachoeiro de Itapemirim, Região Sul do Espírito Santo. Valmir Freitas queria ser piloto de avião na infância e, por isso, construiu sua própria aeronave. Atualmente ele é piloto virtual do Aviate Simulator, um Jato 737, montado na sala de sua casa. Foram oito anos de trabalho e a conclusão do projeto vai acontecer em 20 dias, quando ele levará a cabine do avião para ser exposto ao público pela primeira vez.

“Meu sonho de criança era voar de avião. Mas, naquela época, era um sonho muito distante. Comecei a estudar e tive que largar os estudos para trabalhar e ajudar em casa. Além de voar, queria ser piloto de aeronave. Não pude estudar para realizar meu sonho, pois tive que trabalhar. Mas agora, comecei a realizar parte desse sonho. Ali dentro sou um comandante de aeronave virtual de um Jato 737, que é um dos maiores que existe”, comenta Valmir.

Autodidata, ele construiu sozinho a aeronave. “A internet me ajudou muito. Fiz muitas pesquisas. Já voei de avião, mas nada que me ajudasse a aperfeiçoar. A grande maioria do projeto saiu da minha cabeça, pesquisa e informação. Alguns amigos me deram dicas. Tenho contato com comandantes na internet e tudo está de acordo com as informações de profissionais da área”, explica o piloto virtual. 

Segundo Valmir, o simulador é exatamente o interior de uma aeronave real. “O mais difícil está sendo a parte final. No início, eu não imaginava que fosse crescer tanto assim. Fiz tudo com meu dinheiro e, durante esses anos, só eu e minha esposa trabalhamos no projeto. Não tenho como mensurar o que já gastei, mas é um valor elevado”, continua.

O interior do Aviate Simulator é composto por sete computadores que funcionam, ar condicionado (um na frente e outro atrás), lugar para dois passageiros, além do piloto e co-piloto, um quarto de descanso com duas camas, armário. “O chassi já está legalizado e documentado. São três chassis com uma parede de quatro milímetros, bem firme e resistente. Engenharia, mecânica, elétrica, eletrônica, pneumática, marcenaria, executei todas essas funções ao longo dos oito anos para fazer esse projeto sozinho”, garante. 

‘A sensação é inexplicável’

Valmir e a esposa Jocimara trabalharam sozinhos na construção da cabine do Jato 737, na residência no casal Foto: ​Alessandro de Paula

As peças da aeronave são importadas dos Estados unidos, Noruega, China e Japão. “Não encontramos essas peças aqui no Brasil. O sistema é brasileiro, mas com material comprado fora. Estou fabricando as peças. Tem uma pessoa no Rio Grande do Sul que me vende as placas eletrônicas, o PCB. Vou no mercado e compro os componentes e minha esposa cuida da parte de software. Ela se aperfeiçoou nessa área para me ajudar”, ressalta Valmir.

O piloto virtual explica como funciona a aeronave. “As placas eletrônicas recebem o sinal do computador. As chaves que são ligadas nos painéis, quando acionadas, jogam as informações para o computador, automaticamente, transmitindo o sinal para o simulador, que é um software. Ele trabalha em rede com todos os computadores. Todos os comandos acontecem em cada computador de forma simultânea, baseado no que for feito na área de voo”.

Os cenários são em 3D e de vários lugares do mundo. “A sensação é inexplicável. É preciso entrar, ligar o motion balançando e colocar o painel um cenário virtual. Quando você senta dentro do cockpit, já tem o som da aeronave, a projeção do cenário. O software joga as imagens para as telas colocadas nas janelas do avião. A sensação é muito realista. Ele só não sai do solo”, frisa.

Valmir iniciou o projeto na sala de sua residência. “Moro dentro de dois cômodos com a minha esposa e meus três filhos. Tirei o mezanino, tirei a escada de granito, a sala. No final, desmanchei a frente da minha casa para tirá-lo de dentro de casa. Eu imaginava que ia ficar grande, mas não podia falar com minha esposa”, brinca o piloto virtual.

A esposa Jocimara Freitas, sempre apoiou o sonho do marido. “Estamos juntos há 10 anos e sempre o apoiei. Nunca andei de avião, então não sei como é de verdade, mas aqui dentro parece mesmo que estamos em um voo”, completa.

Projetos

Para retirar o simulador, Valmir teve que quebrar a parte da frente de sua casa, por causa do tamanho da cabine Foto: ​Arquivo pessoal

A ideia de Valmir não é fazer treinamento de pilotos com o simulador, e sim um meio de entretenimento. Seu projeto é levá-lo para escolas e pontos turísticos. “Infelizmente, nossos governantes não estão focados na saúde, educação, segurança, entre outros. Por esse motivo, tive que parar de estudar e trabalhar. Então, de certa maneira, quero tentar acertar parte desse problema: a evasão escolar e o incentivo educacional”, diz.

E ele explica como quer fazer isso: “Quando colocar os estudantes dentro do simulador, eles vão entender por que estudando. Para que serve a matemática, geografia, física, meteorologia, e tudo mais. Vou explicar tudo isso. Essa criança vai sair dali focada em estudar. Não vou ganhar dinheiro com isso. Não vou cobrar nenhum centavo das crianças”, diz.

Como passou anos dedicado ao projeto, Valmir pretende vender publicidades para na parte externa do simulador e fazer voos para quem não tem oportunidade de andar de avião. “As pessoas vão pode viajar de avião, sem sair do chão”, conta.

Campanha

A cabine do avião tem 3,40 metros de altura, pesa 800 quilos e está montada em um sistema pneumático Foto: ​Alissandra Mendes

Durante todos esses anos, Valmir não buscou ajuda financeira para tocar o projeto. No entanto, com um prazo mais curto para concluir, ele não tem recursos para finalizar o Aviate Simulator. Por isso, os integrantes do Aeroclube de Cachoeiro se sensibilizaram e estão promovendo uma campanha para arrecadar fundos para a conclusão do simulador.

“Se conseguir o dinheiro, tenho 20 dias para terminar. Agora falta pouca coisa na parte externa e interna. Para terminar, preciso me dedicar integralmente ao projeto, mas tenho trabalhar para sustentar minha família. Então, o Aeroclube está me ajudando com essa campanha”. 

Quem tiver interesse em ajudar pode fazer doações por meio de depósito bancário: Banco do Brasil, agência: 4672-8, conta poupança 5247-7 - variação 51 – Jocimara Ribeiro Anacleto. “Pedimos para que a pessoa que fizer sua contribuição, nos envie um e-mail ([email protected]) para identificação, para que possamos no futuro retribuir de alguma maneira”, completa Valmir.

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