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Corrente do bem: Morador de rua que ofereceu almoço a fotógrafo ganha abrigo e tratamento dentário

A busca agora é por um emprego com carteira assinada para que ele possa reconstruir a vida. Hoje trabalha vendendo picolé nas ruas do município de Colatina

Sebastião conseguiu um abrigo para ficar Foto: Edson Reis

Mais de um mês após o fotógrafo Edson Reis receber um convite inusitado, a história de Sebastião de Jesus Gomes teve uma reviravolta. Inconformado com a realidade vivida pelo morador de rua, o fotógrafo, que mora na Serra, resolveu voltar a Colatina dias depois do encontro. A intenção era, de alguma forma, conseguir ajuda para o homem simples, mas que também tentou lhe ajudar.

“Quando eu voltei para casa continuei incomodado com a situação. Não consegui relaxar sabendo da história. Sentia que, de alguma forma, deveria tentar ajudar. Senti a necessidade de fazer algo por ele, pelo menos o que estava ao meu alcance”, disse o fotógrafo.

"Não consegui relaxar sabendo da história", relatou o fotógrafo

Edson contou que, ao voltar ao município, reencontrou Sebastião e passou o dia inteiro na cidade para conseguir um lugar melhor para ele ficar. E conseguiu! O morador de rua deixou para trás a cabana improvisada, que ficava embaixo de uma ponte, e agora passou a dormir todos os dias em um abrigo.

“Conseguimos uma vaga em um abrigo do município, onde ele tem um lugar para dormir, que é bem melhor do que o local em que ele vivia antes. Agora ele tem segurança e alimentação. Além disso, nós também conseguimos arrecadar pela internet cerca de R$ 3 mil para ajudá-lo. Apenas um fotógrafo doou 15 livros para venda e isso rendeu cerca de R$ 2 mil”, relatou.

Gorete fornece todos os dias almoço para ele Foto: Edson Reis

Alimentação 

Além de um lugar para ficar, Sebastião também conseguiu ajuda da proprietária de um pequeno restaurante da cidade. Maria Gorete Marques se comprometeu a fornecer almoço, pelo tempo que for necessário. 

“Estava vendo no celular as postagens sobre a história dele e sempre procuro ajudar as pessoas. Por isso entrei em contato. O que posso fazer hoje é oferecer o almoço. É a forma que encontrei de contribuir. Ele almoça aqui todos os dias. Só quando ele sai para vender picolé em locais mais distantes que ele não vem”, destacou Gorete.

Ele ganhou o tratamento dentário Foto: Reprodução

Tratamento dentário 

Por conta da divulgação da história, algumas pessoas entraram em contato com Edson para também oferecer ajuda. Uma dessas pessoas foi o dentista Rafhael Reali, que atua em um consultório em Colatina. Ele contou que se sensibilizou e decidiu contribuir, através do seu trabalho, para melhorar a vida de Sebastião. 

“Sempre tive a intenção de ajudar quem precisa e quando vi as postagens nas redes sociais tive a iniciativa de entrar em contato com o Edson e oferecer o tratamento dentário. Pela situação em que ele se encontrava, vi que precisava melhorar a saúde. É uma forma de melhorar a vida dele, a alimentação e a autoestima”. 

O tratamento odontológico já teve início e duas consultas já foram feitas. Segundo o dentista, a fase é de restauração. “Ele veio ao consultório e fizemos a avaliação para dar início ao tratamento. Ele está sem muitos dentes, então vamos tratar para depois colocarmos as próteses. Ele está respondendo bem, está feliz. A gente se sensibiliza e tenta ajudar, pois não custa nada. Não tem dinheiro que pague contribuir”, destacou.

Emprego 

O morador de rua, desde que perdeu o emprego, trabalha vendendo picolé no município para se manter. Mas ainda de acordo com o fotógrafo que tem o ajudado, o maior desejo dele é ter uma oportunidade e conseguir um emprego de carteira assinada.  

“Ele trabalhava como ajudante de pedreiro e também com serviços gerais. Conseguir um emprego fixo, de carteira assinada, dará a ele uma estabilidade. Com isso ele poderá arrumar uma casa para morar e reconstruir a vida”, disse Edson.

O morador de rua veio da Bahia para trabalhar no Estado Foto: Edson Reis

História 

O fotógrafo, acompanhado de um sobrinho e de um primo, encontraram Sebastião durante uma visita a Colatina. Eles foram até lá, em fevereiro desse ano, para praticar rapel, mas no caminho acabaram conhecendo o morador de rua. Entre uma descida e outra, eles fizeram uma pausa para o almoço e, como não encontraram nenhum restaurante pelas redondezas, perguntaram a ele onde poderiam encontrar um lugar para comer. Foi aí que o grupo foi surpreendido pela resposta.

"Ele disse que o restaurante mais próximo ficava no centro da cidade, mas que, se a gente não se importasse em comer arroz com farinha, ele poderia fazer um almoço para a gente. Fiquei sem reação ao ouvir o que ele disse. Me emocionou muito, porque você vê que era uma pessoa humilde, que passa por dificuldades, mas que, mesmo assim não nos pediu nada. Pelo contrário, só nos ofereceu o que ele tinha", contou Edson.

Sebastião teve a ajuda do fotógrafo e do primo e sobrinho dele Foto: Edson Reis

A partir daí, sensibilizado com a situação e com a história do homem, o fotógrafo fez um post nas redes sociais contando tudo. Ele também aproveitou para pedir ajuda. Foi aí que algumas pessoas surgiram e se ofereceram para contribuir.

Segundo o dentista que atendeu Sebastião, entre conversas no consultório ele contou que veio da Bahia e há anos está morando em Colatina. “Ele disse que veio na época de colheita do café para tentar a vida. Depois ele começou a trabalhar em uma empresa que fechou e tudo desandou na vida dele. Foi aí que passou a morar na rua. Ele é trabalhador e uma pessoa de coração grande”, afirmou.

Para quem ainda deseja ajudar, é só procurar o fotógrafo pelo Facebook, enviando uma mensagem inbox.

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