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Projeções apontam aumento de temperatura, dias secos consecutivos e chuva acumulada para o ES

Ravena Santos, doutoranda pela Fiocruz

Algumas regiões do Estado deverão ser castigadas pelo clima Foto: Agência Brasil

Pesquisadores da Fiocruz, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, desenvolveram um software a partir do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima. Com o sistema, gestores e técnicos do estado poderão avaliar e comparar as vulnerabilidades e os fatores de risco dos municípios capixabas e, posteriormente, planejar ações para reduzir os impactos das mudanças climáticas e aumentar a capacidade de adaptação da população a este novo cenário.

Ravena Santos, doutoranda em saúde coletiva pela Fiocruz de Belo Horizonte, em Minas Gerais, explica que o projeto  foi desenvolvido inicialmente nos municípios de seis estados, entre eles o Espírito Santo. Em entrevista ao jornal online Folha Vitória, a pesquisadora apresenta números preocupantes para regiões já castigadas pelo clima no interior do estado capixaba. Confira:

Folha Vitória: Como o índice e o software foram desenvolvidos?
Ravena Santos: Elaboramos um índice que que mede a vulnerabilidade de cada município que vai de zero a um em comparação com os outros municípios do mesmo estado. Para realizar os estudos foram considerados dados sobre a população, preservação ambiental, ocorrência de fenômenos extremos e doenças relacionadas ao clima, variando conforme a realidade de cada estado. Esses dados passam por um tratamento estatístico e lançamos no software, que calcula o  Índice Municipal de Vulnerabilidade aos Impactos de Mudança Climática e outros indicadores.

F.V: Quais os estados estudados e por que o Espírito Santo foi escolhido?
R.S: O índice foi desenvolvido também em Pernambuco, Maranhão, AmaAzonas, Mato Grosso do Sul e Paraná, além do Espírito Santo. Nós tentamos pegar uma amostra razoável de cada região do país e demos preferência a estados que tivessem unidades da Fiocruz. Como no sudeste Minas já tinha um estudo grande a respeito, resolvemos fazer do Espírito Santo, até porque já sabíamos de situações complicadas no estado, como a seca.

F.V: E o as projeções apontam para o estado capixaba?
R.S: As análises permitem dizer que o Noroeste do Espírito Santo apresenta um grande aglomerado de municípios em situação de alta vulnerabilidade. Temos o município de Mantenópolis, por exemplo, com uma vulnerabilidade grau 1 frente aos outros municípios do Estado. Como as projeções utilizam dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) entre outros, utilizamos os prazos determinados por esses índices, que são de 2041 a 2070. Nesse período, enxergamos situação bem delicada relacionada ao Espírito Santo

F.V: Pode apontar algumas projeções para ilustrar a situação do Espírito Santo?
R.S: O índice é subdividido em componentes. No que conseguimos detalhar, podemos observar por exemplo uma diminuição na precipitação total em 41% na região de Nova Venécia. As projeções também indicam a tendência no aumento de dias secos consecutivos na região Norte e o aumento das chuvas concentradas (acima do percentil 95) e um volume de chuvas em dias consecutivos que pode chegar ao maior da história, o que se apresenta como negativo, porque acaba causando tragédias e alagamentos. A região do Caparaó pode sofrer um aumento na linha de temperatura máxima em até 4°.

F.V: E como esses índices podem afetar os municípios em situação de vulnerabilidade?
R.S: O aumento da temperatura no Caparaó pode afetar, por exemplo, as plantações de café da região, já que é um plantio que necessita de certa temperatura para manuseio. A gente trabalha com dois cenários, um otimista e um pessimista. Mesmo com o cenário otimista é necessário atenção para os números apresentados pelo Espírito Santo.

F.V: Como são as projeções para os municípios da Grande Vitória?
R.S: Na Grande Vitória podemos identificar que Vila Velha é o município com maior índice de exposição às mudanças climáticas, ou seja, onde essas mudanças podem acontecer de maneira mais acentuada. Vitória, a capital, apesar de ter vulnerabilidade menor, pode ter um aumento da temperatura máxima em 2,9°, pode diminuir a precipitação em 32% e apresentar um aumento de 77% nos dias secos consecutivos.

F.V: E como o índice ajuda a evitar que essas projeções se tornem realidade?
R.S: O software será de livre acesso e disponível para consulta de toda a população. Os gestores dos estados e municípios serão treinados para abastecer o programa com novas informações, além do que temos no IBGE, DataSUS e outras fontes de dados. Por meio do software, então, esses gestores podem investir na capacidade de adaptação. O índice ajuda a aumentar a capacidade adaptativa para que os municípios estejam preparados com conselhos e órgãos como polícia, Defesa Civil, planos de contingência e alarmes. Os gestores podem conferir também números de cobertura vegetal nativa, número de pessoas próximo ao litoral em zonas de risco. Isso ajuda a manejar os recursos e permite que as intervenções sejam direcionadas e, após aplicadas, avaliadas.

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