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AIDS: número de casos entre jovens cresce e médica do ES faz alerta

Mylene Murad

A lei considera discriminação a segregação do portador do HIV em ambiente de trabalho ou escolar em razão da sua condição de saúde Foto: Divulgação

Enquanto os casos de AIDS no mundo estão em queda, a realidade no Brasil é outra bem diferente. Entre 2010 e 2016, o número de casos absolutos da doença aumentou em 3% no país e, apesar de parecer pouco, os dados do relatório da Unaids, órgão das Nações Unidas que trata da epidemia, são preocupantes se vistos de um modo geral.

O avanço da epidemia entre jovens, por exemplo, é um outro fator que assusta. De acordo com o Ministério da Saúde, na faixa etária de 20 a 24 anos, a taxa de detecção subiu de 15,6 casos em 2006 para 21,8 casos em 2015, por 100 mil habitantes. Entre os adolescentes, de 15 a 19 anos, o índice foi ainda maior, passando de 2,8 em 2006 para 5,8 em 2015. No Espírito Santo, situação não é muito diferente. Em 2016, a Secretaria Estadual de Saúde (SESA) recebeu 1.193 notificações de novos casos de HIV/AIDS. Destes, 887 casos, o que equivale a 74% do número total, ocorreram em homens, sendo 350 deles com idade entre 20 e 29 anos.

Para a médica e professora da Universidade de Vila Velha (UVV), Mylene Murad, o que explica o aumento de casos da doença entre jovens e adolescentes é, principalmente, a falta da cultura do uso do preservativo, já que relação sexual, continua sendo a forma de infecção mais frequente, apontada em 65,6% dos casos no Espírito Santo. "Os jovens de hoje estão bem longe da época em que a Aids surgiu, que o tratamento não era tão simples e que pacientes morriam com dois meses após o diagnóstico.

Hoje não se tem mais a cultura do uso do preservativo, eles acham que não é grave ou que nunca vai acontecer com eles, mas não é bem assim. Temos tratamento e está bem mais fácil hoje, mas tem que lembrar que é um tratamento para a vida inteira, que pode apresentar complicações ao longo do tempo, por isso é fundamental se prevenir", afirma.

A especialista também tirou dúvidas sobre como ocorre a infecção, evolução do vírus no organismo e quanto tempo ele demora para se espalhar, além de deixar orientações importantes. Confira a entrevista completa!

Folha Vitória: Como acontece a infecção e como o HIV afeta o organismo? Quanto tempo leva para o vírus se espalhar pelo corpo? 
Mylene Murad: O tempo de evolução do vírus é individual, mas a partir do momento em que acontece a infecção, ele se multiplica no organismo. Os sintomas começam como se fosse uma gripe, mas a grande maioria não apresenta isso de forma sintomática. Então, o HIV fica lá se multiplicando até chegar um momento que ele destrói uma quantidade grande de células de defesa. Por isso, a gente fala que é bom saber antes de iniciar os sintomas, porque tem chances de combater antes que ele destrua o sistema imunológico.

F.V: Eu posso ser portador do vírus HIV e não desenvolver a Aids? 
M.M: Existem casos relatados, mas não é o mais frequente.

F.V: Quais as formas mais frequentes de contaminação?
M.M: Relação sexual desprotegida e uso de droga por via sanguínea, pelo compartilhamento de seringas, já que a contaminação acontece por sangue e secreção. 

F.V: Os casos de Aids entre jovens tiveram um aumento considerável nos últimos anos. O que explica isso?
M.M: Os jovens de hoje não têm mais a cultura do uso do preservativo, eles praticam o sexo de forma não segura e também estão muito longe da década de 80. Eles não lembram da AIDS quando surgiu, não pegaram essa fase. Hoje um paciente que se trata fica muito bem, então essa cultura do uso do preservativo está banalizada. Antigamente, a gente podia perder paciente com 2 meses de tratamento e como o jovem está longe dessa realidade, continua praticando sexo desprotegido. 

F.V: Os casos são mais comuns entre homens ou mulheres? 
M.M: Já teve uma fase que era mais frequente em homem, mas agora os números se igualam bastante. 

F.V: É possível contrair o HIV até mesmo com o uso de preservativo? 
M.M: O preservativo não é 100%, existe a possibilidade, mas é mínima. Ele vai prevenir não só a Aids, como as DSTs. A gente está passando por uma epidemia de sífilis e eles caminham juntos porque  como o comportamento de risco é o mesmo, tem uma chance de entrar em contato com o HIV. 

F.V: Onde é possível fazer o exame para descobrir se é soropositivo? 
M.M: Todo município tem o Centro de Testagem e Aconselhamento, então é só chegar e falar que quer testar. Assim, vai ser feito um aconselhamento prévio, o teste será realizado e o resultado sai no mesmo dia. Se for positivo, a pessoa já vai ser encaminhada para o tratamento. Se der negativo, vai ser orientado a continuar praticando sexo seguro.  

F.V: Muita gente tem medo de fazer o teste. Qual a orientação?
M.M: A orientação é de que todo mundo faça. Se tenho uma vida sexual ativa, deve fazer o teste, porque antes que o vírus se desenvolva, eu consigo parar ele antes que chegue no ponto da doença. Quando você já pega um paciente doente, precisa correr atrás do prejuízo e o risco de evoluir a óbito é maior, então quanto antes descobrir, melhor. 

F.V: Como funciona o tratamento? 
M.M: O tratamento é com anti-retroviral, que combate o vírus HIV. As combinações de drogas são selecionados caso a caso e dá para o paciente soropositivo ter uma vida tranquila. Temos alguns pacientes com 15 anos, por exemplo, que vivem muito bem. 

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