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"A medicina para mim significa muito. A pessoa precisa de compaixão, precisa entender as pessoas", diz médico homenageado em prêmio de excelência

Michel Assbu

Médico nefrologista Michel Assbu Foto: Reprodução

O médico nefrologista Michel Silvestre Zouain Assbu, foi o homenageado na cerimônia de entrega do Prêmio Excelência em Saúde 2017, promovido pela TV Vitória. Nascido em Aimorés (MG), Michel sempre teve a medicina como sua paixão. Em 1967, formou-se no Rio de Janeiro, pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual da Guanabara, hoje UERJ.

Para conhecer um pouco mais sobre a carreira, as motivações e paixões do reconhecido profissional capixaba, o Jornal Online Folha Vitória entrevistou Michel Assbu. Confira!

Folha Vitória: Como nasceu o seu amor pela medicina?
Michel Assbu: Eu nasci há 74 anos atrás e sempre sonhei em ser médico, desde criança. No início da minha alfabetização, quando fiz minha primeira composição, eu já dizia que queria ser médico. Recebi essa carta da minha professora anos depois. Além disso, ainda muito novo, minha mãe passou mal e precisou ir para o Rio de Janeiro receber tratamento. Ela foi tratada pelo médico Américo Piquet Carneiro e eu sempre disse para mim mesmo que queria ser aluno desse médico. Então, saí de Aimorés, em Minas Gerais, e fui para o Rio de Janeiro.

FV: Como foi estudar medicina no Rio?
MA: Fui morar no rio em 1961, quando tinha 17 anos, então o início por lá não foi fácil. Mas consegui superar as dificuldades, me formei com 24 anos e ainda passei mais dois anos no Rio fazendo pós-graduação em nefrologia. Depois disso, em 1970, vim para o Espírito Santo onde consegui meu primeiro emprego como clínico no Hospital Adauto Botelho, onde pouco tempo depois me tornei responsável pelo pós-operatório em cirurgia cardíaca. 

FV: E depois disso, como foram os próximos anos como médico no Estado?
MA: Trabalhei em vários locais durante toda minha vida. Em 1971, fiz concurso para professor da Ufes. Comecei dando aula de semiologia, que é a matéria que ensina o médico a colher a história do paciente, foi um período muito bom para mim. Em 75, fui trabalhar no Hospital Jayme dos Santos Neves, onde começamos a realizar procedimentos obstétricos. Só no primeiro mês realizamos 300 procedimentos desse, o que ajudou a tirar o hospital da crise financeira. Anos depois, me tornei professor da disciplina de nefrologia da Ufes, trabalhei também no Hospital das Clínicas...enfim, fiz tudo isso por gosto muito da profissão. 

FV: Quem foram as pessoas que mais o ajudaram em todos esses anos?
MA: Diversas pessoas me ajudaram bastante, sou muito grato a todos. Cheguei em Vitória como um ilustre desconhecido e consegui trabalhar com muita gente boa. Mas não posso esquecer de algumas figurar importantes: Dr. Victor Murad, que era responsável pela disciplina de nefrologia e passou para mim; Dr. Carlos Mariano Neves Peixoto, que me convidou para ser o professor na disciplina de semiologoia; Dr. Benito Zanadreia, diretor do Centro Biomédico; Dr. Jayme Santos Neves, que me convidou para ser diretor clínico do Hospital das Clínicas e, por fim, Dr. Denizart Santos, que era diretor do Hospital da Associação, no Centro de Vitória, e me ajudou muito. Ele era meio fechado, mas tinha um coração enorme. Todos foram importantes, mas esses me acolheram de forma efetiva, tínhamos um contato quase que diário, uma amizade de pai para filho. 

FV: O que é a medicina para o senhor?
MA: A medicina para mim significa muito. Eu nunca achei que medicina fosse sacerdócio, sempre achei que tinha a ver com compaixão. A pessoa que tem os conhecimentos técnicos precisa de compaixão, precisa entender as pessoas. A gente vê algumas coisas nos hospitais que dói na gente. Além disso, no aspecto familiar, casei com uma mulher que entende isso também tanto quanto eu. Ela é filha de médico. Tive duas filhas, a mais nova médica e a outra que trabalha com administração, e dois netos, a Mariá e o João. Consigo conciliar essas duas paixões: família e medicina.

FV: O que o senhor considera importante passar como médico e professor?
MA: Acho importantíssimo que todo mundo veja as coisas com a sua própria experiência, mas é importante também saber usar e aprender com aqueles que já sabem. Faço sempre uma alusão a horas de voo. As pessoas precisam ter suas próprias horas de voo, mas se elas tiverem a oportunidade de ler um diário de quem já voou bastante, é importante. Hoje a medicina está muito bem, mas procuro sempre passar minhas experiências para os alunos para que ele tire suas próprias conclusões. É preciso dar liberdade, mas sempre com supervisão. Sou grato pelos ensiamentos que passei também. Só na Ufes passaram por mim mais de 2500 alunos em 33 anos como professor. 

FV: Ensinar também te traz alegrias?
MA: Quando entrei na faculdade, a medicina era bem básica. Aí, logo depois, quando eu entrei na parte profissionalizante, vi que a medicina se divide num tripé: pesquisa, ensino e assistência. Sempre tive o ensino e a assistência como as minhas frentes de trabalho. 

FV: A área em que o senhor atua, a nefrologia, é super importante. Tem alguma boa lembrança para nos contar?
MA: Esse ano, durante o Domingo de Páscoa, recebi uma ligação de um cliente que tinha acabado de sair da missa e me ligou dizendo que o padre tinha sugerido que todos ligassem para um amigo e ele achou que deveria me ligar. Esse senhor faz diálise comigo há 20 anos, em Linhares. Só lá, presto um serviço para 200 pessoas. Conseguimos tirar essas pessoas da estrada, que precisariam viajar para fazer diálise...Enfim, esse telefonema não teve preço. Foi algo muito bonito. 

FV: Ficou feliz também com a homenagem no Prêmio Excelência em Saúde?
MA: Da mesma maneira que esse homem ligou pra mim e me emocionou, receber esse prêmio também me emocionou. Receber esse prêmio é uma forma de sempre me deixar alerta. Digo que tenho que ficar alerta sempre porque não posso decepcionar as pessoas que confiam em mim. Fico muito feliz de ajudar tantas pessoas e faço isso feliz, porque é uma coisa que eu gosto. 

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