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"Cidade inteligente também é uma cidade mais humana", afirma presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas

André Gomyde

André Gomyde Foto: Divulgação

As cidades inteligentes são uma evolução das cidades digitais. Cidades digitais são cidades que têm diversas tecnologias, por exemplo: câmeras de videomonitoramento, transporte inteligente, sensor para estacionamento rotativo, prédios inteligentes... Todos esses equipamentos de tecnologia que estão em cada setor da cidade, compõem a cidade digital.

A cidade inteligente é aquela que conecta todas essas tecnologias em uma única plataforma, de maneira que a gestão da cidade seja feita com inteligência, eficiência e economizando recursos. De acordo com o presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas, André Gomyde, atualmente há muita confusão sobre ser ou não uma cidade inteligente.

Segundo Gomyde, as prefeituras implementam um transporte inteligente e dizem que a cidade é inteligente, mas ele garante que não é bem assim. Para ser uma cidade inteligente, o município tem que estar com a saúde, educação, segurança pública, mobilidade urbana e todos os outros setores conectados entre si para troca de informações e dados.

Para entender melhor do assunto, o Folha Vitória conversa com André Gomyde. Veja a entrevista abaixo:

Folha Vitória: Qual o segredo para se tornar uma cidade inteligente?
André Gomyde: Há hoje no Brasil muitas cidades digitais caminhando para se tornarem inteligentes. O segredo é ter uma infraestrutura tecnológica na cidade, que é composta de três elementos. Você tem que ter um parque de iluminação pública inteligente, porque é ele que faz a captação de dados e informações. Esses dados e informações têm que ser jogados no segundo elemento, que é uma rede de fibra óptica da cidade. E o terceiro elemento é uma central integrada de comando e controle, que é onde essas informações chegam e que nela você tem a plataforma de internet das coisas para fazer cruzamento de dados.

F.V: Todas as cidades no Brasil estão caminhando para se tornarem inteligentes?
A.G.: Sim. Cidade inteligente é o guarda-chuva de todas as outras tendências que as pessoas vão criando. Porque, por exemplo, acesso à internet é um elemento da cidade inteligente. Cidade inteligente não é vertical, ela é o objetivo final. As cidades do mundo todo estão caminhando para se tornarem inteligentes, através da internet das coisas, de um urbanismo diferente, das questões do futurismo. Tudo isso está levando que as cidades se preparem para se tornarem inteligentes. O objetivo final é a cidade inteligente, o resto, não é evolução das cidades inteligentes, são elementos para que se chegue lá.

F.V: Há uma estimativa de quando todas as cidades brasileiras se tornem inteligentes?
A.G.: No caso do Brasil, a gente tem realizado um estudo que foi feito pelo pessoal da academia que faz parte da Rede, que são grandes universidades do país, que aponta uma meta de que em 2030, pelo menos 50 cidades brasileiras sejam inteligentes. O Brasil tem 5.570 municípios e ainda vai faltar muita coisa. Isso é um processo de longo prazo, mas a gente acredita que isso se cumpra no prazo.

F.V: De que maneira as cidades inteligentes beneficiam a população?
A.G.: Beneficia de duas formas. Primeiro, que o parque de iluminação e uma rede de fibra óptica pode levar, por exemplo, internet gratuita e de alta velocidade para a cidade inteira, como existe na Europa e nos Estados Unidos. Esse é um benefício de ida. Agora, tem um beneficio que a gente chama de volta, que quando você tem um parque de iluminação inteligente com uma central integrada de comando e controle, a cidade se torna uma plataforma conectada com mundo todo. Então, o cidadão que faz, por exemplo, um aplicativo de celular, ele consegue disponibilizar esse aplicativo na rede e vender isso para o mundo todo. Isso fomenta muito o empreendedorismo tecnológico. Além de uma serie de outras funções, porque com a internet das coisas você tem, por exemplo, um aplicativo chamado "Casa". No Brasil, ele ainda não funciona, mas com a internet das coisas, você vai poder controlar a sua casa à distância. Se você estiver no trabalho, por exemplo, você vai saber o que tem na geladeira da sua casa para saber se precisa passar na padaria ou não. E isso você só consegue com o parque de iluminação inteligente, que para ser feito, no caso do Brasil, tem que ser feitas as famosas PPP's de iluminação pública, que são as parcerias público e privada de iluminação pública.

F.V: Temos debatido bastante sobre inovação. De que maneira esse conceito está interligado à inovação?
A.G.: Inovação é conceito bastante amplo. No Brasil, tivemos redução grande no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações para investimento em pesquisas e inovação. O recurso que já era pouco, ficou menor. Quando as cidades começam a se organizar e estrutura suas plataformas sem contar com governo federal, elas se tornam ambientes favoráveis à inovação, porque elas atraem também investimentos internacionais, que podem ser aplicados em pesquisa e inovação. Ou seja, é um modelo em que ao invés de esperar o governo central fazer os investimentos que tem que fazer, você estrutura a sua cidade com essa plataforma tecnológica e ela vai se tornando inteligente, atrai recursos internacionais e aplica ela por ela mesmo em pesquisas, desenvolvimento e inovação tecnológica. A cidade se torna protagonista nesse papel de fomento da inovação.

F.V: Qual o papel da sociedade nessa migração de uma cidade comum, para uma cidade inteligente?
A.G.: Primeiro, eu acho que a sociedade tem que compreender que prefeitura precisa fazer esse movimento de transformação do parque de iluminação da cidade para o parque de iluminação inteligente. Esse é um processo que muitas vezes, quando as prefeituras vão fazer as PPP's, para viabilizar, acaba tendo muita discussão, por falta de compreensão de onde que a cidade vai chegar com isso. Ter apoio da população, faz com que prefeito tenha base de apoio até mesmo para aprovações em câmara e etc. No primeiro momento, acho que uma sensibilização da sociedade de que a cidade inteligente é um caminho para o futuro, para não ficar atrasado, como a gente está em relação ao resto mundo. Depois, com parque de iluminação implantado, isso por si só, já eleva a consciência da população para todas as áreas. O cidadão vai compreender que quando ele tiver uma criança com febre em casa, ele não vai precisar sair correndo para o posto de saúde com todas as burocracias. Com a tecnologia, ele consegue ser consultado pelo médico de dentro de casa, através do celular. São exemplos de benefícios que a população vai elevando, aprendendo a utilizar a tecnologia e você vai criando uma sociedade mais harmônica. E é por isso que a gente fala que a cidade inteligente também é uma cidade mais humana.

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