Acusado de matar dois jovens no Terminal Vila Velha estava transtornado, diz ex-mulher

O acusado de matar a facadas os jovens Saulo Tavares, de 24 anos, e Jhony Lima Fernandes, de 19, dentro do Terminal de Vila Velha, na última quarta-feira (04), estava sofrendo distúrbios psiquiátricos. É o que afirma a ex-mulher de José Carlos Rodrigues, que preferiu não se identificar, temendo represálias em virtude do ato cometido pelo ex-marido. Ela aceitou conceder uma entrevista, com exclusividade, à TV Vitória/Record.

Segundo a mulher, José Carlos, que tem 46 anos - e não 63, como havia sido informado anteriormente -, passou por um trauma muito grande no final do ano passado, o que pode ter desencadeado os surtos psicóticos: ele foi assaltado e ameaçado de morte pelo bandido.

Pai de três filhos e avô de um menino de dois anos, o homem que agora está sedado sob escolta policial no hospital São lucas - onde continua em estado grave, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) -, trabalhava como pedreiro. Segundo a ex-mulher, ele sempre teve um ótimo relacionamento com a família.

"Se os filhos ligavam pedindo ajuda, ele estava pronto. Chamava para pegarem dinheiro com ele, levava os meninos no colégio. Ele tinha um relacionamento muito bom com os filhos. Com o neto então, que foi o primeiro, ficou todo bobo quando nasceu. Fazia muitos planos para o netinho dele", conta.

Trauma

Ela diz que o casamento com o acusado durou 22 anos, mas que já estão separados há seis. Mesmo assim, os dois continuaram amigos. Tanto que, no ano passado, decidiram abrir juntos um restaurante no bairro Santa Rita, em Vila Velha. 

O comércio, no entanto, não deu muito certo. Em dois meses, eles foram vítimas de dois assaltos e, segundo a mulher, José Carlos não reagiu bem à situação. "Eu creio que foram esses assaltos que deixaram ele transtornado. Eu não vi, mas diz ele que correu atrás do rapaz, que mostrou um revólver para ele e disse que se ele se aproximasse dava um tiro", relatou.

Em dezembro, uma viagem que José Carlos fez para a Bahia preocupou ainda mais a mulher. No dia 22, ele embarcou na Rodoviária de Vitória e disse a ela que tinha conseguido um emprego no estado vizinho. 

No entanto, em uma parada feita pelo ônibus em Linhares, José Carlos desembarcou e pediu que a polícia o prendesse, afirmando que alguém no coletivo iria matá-lo. A polícia disse que não poderia mantê-lo preso, já que não havia nada contra o homem. 

José Carlos então seguiu para o destino final da viagem. Já na Bahia, segundo a ex-companheira, ele teria tentado suicídio, se jogando na frente de um carro.

Ajuda psiquiátrica

A mulher conta que chegou a procurar ajuda psiquiátrica para o pai de seus filhos. No entanto, só havia vaga para depois do carnaval. Não havia mais tempo: na última quarta-feira, José Carlos matou os dois jovens a facadas. A faca usada no crime tinha sido comprada um dia antes, segundo a ex-esposa.

"Ele não conhecia esses rapazes, nunca havia os visto antes. Talvez algum deles tenha perguntado 'que horas o ônibus vai sair?'. Ele deve ter entendido 'que horas nós vamos matar ele?'. Foi a hora em que ele deve ter partido para cima dos rapazes. Assim como foram com eles, poderia ter sido com qualquer um, porque ele estava transtornado com esse negócio de que alguém queria matá-lo. Se o ônibus não parasse dentro do terminal, ele teria matado mais gente", disse a ex-companheira. 

Investigações

O crime está sendo investigado pelo delegado Ricardo Almeida, da Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Vila Velha. Segundo ele, o inquérito será concluído até a próxima sexta-feira (13), respeitando o prazo estabelecido por lei. 

De acordo com Almeida, ainda estão sendo analisadas imagens das câmeras de videomonitoramento dos terminais de Vila Velha e Carapina, por onde o ônibus da linha 508 em que estavam os envolvidos passou no dia do crime, além das câmeras do próprio coletivo.

O delegado também continua ouvindo depoimentos de testemunhas do crime, além de amigos e parentes das vítimas e do acusado. A policia já fez contato com a ex-mulher de José Carlos, que vai ser interrogada nos próximos dias.

O crime

Jhony e Saulo foram esfaqueados dentro do ônibus do Transcol, no momento em que o coletivo entrava no Terminal de Vila Velha. De acordo com testemunhas, o acusado golpeou as vítimas sem motivo aparente. Jhony morreu no local e Saulo chegou a ser encaminhado para o Hospital Antônio Bezerra de Farias, mas morreu ao dar entrada na unidade.

Após esfaquear os jovens, José Carlos Rodrigues foi agredido com socos, chutes e pisões, por passageiros do terminal. Em seguida, ele foi levado para o Hospital São Lucas, onde permanece internado sob escolta policial.