Polícia

Dezoito mulheres assassinadas nos dois primeiros meses de 2015 na Grande Vitória

Para a coordenadora do Fórum Estadual de Mulheres, Mariana Gava, faltam políticas públicas eficazes por parte do governo para combater a violência contra a mulher

O índice está no mesmo patamar do registrado no mesmo período do ano passado, quando 17 mulheres foram mortas nos primeiros meses de 2014 Foto: Divulgação

Dezoito mulheres foram assassinadas na Grande Vitória nos dois primeiros meses de 2015. Os dados são da Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM). O índice está no mesmo patamar do registrado no mesmo período do ano passado, quando 17 mulheres foram mortas nos primeiros meses de 2014.

No entanto, de acordo com o titular da DHPM, delegado Adroaldo Lopes, chama a atenção o fato de que, em 2015, grande parte dos crimes tiveram motivação passional. "Em média, cerca de 60% dos homicídios contra mulheres na Grande Vitória têm relação com o tráfico de entorpecentes. Mas este ano está atípico, com um grande número de crimes passionais", salientou.

Crimes

A morte de Ana Clara chocou os capixabas

Um dos crimes que mais chamou a atenção da sociedade capixaba foi o assassinato de Ana Clara Cabral, de 19 anos, ocorrido no dia 4 de fevereiro. O principal suspeito de matar a jovem é o próprio namorado dela, o soldado da Polícia Militar, Itamar Rocha Lourenço Junior.

No dia do crime, ele chegou a contar à polícia que foi rendido ao sair de um motel, em Cariacica, com a namorada e que os bandidos teriam levado o carro dele, juntamente com a jovem. O veículo, no entanto, foi encontrado pela manhã, Nova Rosa da Penha, com marcas de tiros na lataria e de sangue na parte de dentro.

O corpo de Ana Clara foi encontrado no mesmo dia, com várias marcas de tiros, após Itamar indicar o local - às margens da Rodovia do Contorno, na Serra. No entanto, o policial não confessou ter matado a jovem e alegou que só se pronunciaria em juízo.

Adroaldo Lopes assumiu as investigações do crime e indiciou Itamar por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver. O rapaz continua preso no Quartel da Polícia Militar, em Maruípe, Vitória. A motivação do crime, no entanto, ainda não foi esclarecida.

Carine também foi outra vítima da violência no ES​

Outro caso marcante ocorrido este ano foi o assassinato da cabeleireira Carine Vieira Dutra Cunha, de 21 anos, encontrada morta no dia 23 de janeiro, na Rodovia Leste-Oeste, em Vale Encantado, Vila Velha. A polícia indiciou o ex-namorado da vítima, um adolescente de 17 anos, como o autor do crime. Também foi preso Diego dos Santos Muniz, que confessou participação no crime.

O corpo de Carine foi encontrado com sinais de violência, amarrado em um lençol. Os peritos constataram que havia marcas de estrangulamento na vítima e cortes na região dos cílios. A polícia acredita que Carine foi morta em outro local e o corpo levado para a região. Familiares disseram que a vítima saiu para ir a um pagode com o ex-namorado, antes de ser assassinada.

Já o assassinato de Adriana da Silva Breda, ocorrido há dez anos, foi elucidado somente este ano e chamou a atenção pela forma como o corpo foi ocultado: o acusado o escondeu dentro da parede da casa onde morava.

Segundo a polícia, Adriana foi assassinada por Egmar Ferreira de Souza que, de acordo com parentes e vizinhos da vítima, mantinha um relacionamento amoroso com a mulher, que fazia faxina para o acusado.

Egmar foi preso durante uma ação da DHPM no município de Porto Seguro, na Bahia, onde estava morando. A polícia descobriu o crime após o atual morador do imóvel onde o corpo foi ocultado ter quebrado a parede para fazer uma reforma. Ao encontrar a ossada de Adriana, o morador relatou o fato à polícia.

Políticas públicas

Para a coordenadora do Fórum Estadual de Mulheres, Mariana Gava, faltam políticas públicas eficazes por parte do governo para combater a violência contra a mulher. Segundo ela, a simples punição aos criminosos não resolveria o problema.

"Precisamos de políticas públicas como forma de prevenção. Não adianta prender os acusados depois que o crime já foi cometido. Mas as diversas entidades da sociedade - Governo do Estado, prefeituras, Ministério Público, Tribunal de Justiça, entre outros - atuam de forma separada, quando elas precisam constituir uma rede integrada", comentou.

Outro problema apontado por Mariana é a cultura machista, ainda presente em diversos setores da sociedade. "Muitos homens acham que são donos das mulheres e se acham no direito de fazer tudo, inclusive de tirar a vida dela. Eles a veem como objeto e dizem que se não forem deles, não serão de mais ninguém. Muitas pessoas acham que isso não existe mais, mas ainda vemos isso em nosso cotidiano", lamentou.

Números de homicídios

Desde que surgiu, em setembro de 2010, a DHPM já registrou 416 assassinatos de mulheres na Grande Vitória. O ano com maior número de casos foi 2013, quando 96 vítimas foram mortas. No ano seguinte, no entanto, esse número caiu para 86, o menor índice registrado em anos inteiros.

Confira os números:

2010 (de setembro a dezembro) - 35 assassinatos
2011 - 92 assassinatos
2012 - 92 assassinatos
2013 - 96 assassinatos
2014 - 86 assassinatos
2015 (até o final de fevereiro) - 18 assassinatos

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