Polícia

Caso Alexandre Martins: réus devem ser ouvidos no sábado e sentença pode sair só na segunda-feira

Nesta sexta foi ouvido o advogado Antônio Franklin Cunha, última testemunha de defesa de Calu. Em seguida, foram lidas peças do processo sobre o assassinato do juiz

O coronel Walter Gomes Ferreira deve ser ouvido somente neste sábado, assim como o outro réu do processo, o ex-policial civil e empresário, Cláudio Luiz Andrade Baptista, o Calu Foto: TV Vitória

Os suspeitos de serem os mandantes do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, que estão sendo julgados nesta semana, só serão ouvidos neste sábado (29). Durante a sexta-feira (27), quinto dia do júri popular do coronel da reserva da Polícia Militar, Walter Gomes Ferreira, e do ex-policial civil e empresário Cláudio Luiz Andrade Baptista, o Calu, foi ouvida a última testemunha de defesa de Calu, o advogado Antônio Franklin Cunha. Em seguida, foram lidas diversas peças do processo, o que tomou grande parte da tarde e da noite.

Com isso, a próxima etapa do júri, que é o interrogatório dos réus, acabou ficando para a manhã de sábado, logo após o fim da leitura, que pode durar mais de 12 horas. Calu e coronel Ferreira responderão a perguntas do juiz, dos advogados de defesa e dos representantes do Ministério Público Estadual (MPES).

De acordo com o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), o juiz Marcelo Soares Cunha, que preside o júri popular, tinha a intenção de concluir o julgamento no sábado (29). No entanto, com o ritmo de andamento do júri, é possível que a sentença só seja proferida na segunda-feira (31).

Acredita-se que os depoimentos dos réus serão ainda mais longos do que os das testemunhas. Como houve caso de oitivas com mais de cinco horas de duração, é provável que o dia de sábado seja apenas para ouvir os réus. Os debates entre acusação e defesa só devem acontecer no domingo (30) e devem durar, no mínimo, nove horas.

A última parte do julgamento é a decisão dos jurados, que darão seus votos em uma sala secreta. Isso pode acontecer no domingo à noite ou somente na segunda-feira.

Sexta-feira

Antônio Franklin Cunha teve convicção de que o juiz foi vítima de latrocínio ao ter acesso aos autos do processo Foto: Reprodução

Os trabalhos desta sexta-feira começaram mais cedo do que os dos dias anteriores. Antônio Franklin Cunha começou a ser ouvido pouco antes das 9 horas. Nos outros dias, eles começaram por volta das 10 horas. O juiz Marcelo Soares Cunha, que preside o júri, decidiu antecipar o início do depoimento para as 8 horas, na tentativa de agilizar os trabalhos e avançar para a fase final do julgamento.

A movimentação no Cineteatro da Universidade Vila Velha (UVV), em Boa Vista, também foi maior nesta sexta, em relação aos quatro dias anteriores. As senhas começaram a ser distribuídas mais cedo e o auditório da universidade teve um público muito maior.

Antônio Franklin foi ouvido por mais de quatro horas. O advogado foi contratado por Alexandre Martins de Castro, pai do juiz assassinado, para atuar como assistente de acusação. No entanto, logo no início do processo, Cunha largou o caso e escreveu uma carta, anexada ao processo, afirmando que o crime era um latrocínio.

Em seu depoimento, Cunha conta que foi induzido, à princípio, a acreditar que o assassinato do juiz Alexandre tratava-se de um crime de mando. No entanto, ao ter acesso aos autos do processo, teve a convicção de que o magistrado fora vítima de latrocínio - roubo com morte. Isso fez com que o advogado abrisse mão de continuar no caso.

Um dos pontos levantados por Antônio Franklin foi o fato de Alexandre Martins ter sido baleado primeiramente no braço, antes do disparo que lhe tirou a vida. O advogado argumentou ainda que os autores do crime - Odessi Martins da Silva, o Lumbrigão, e Giliarde Ferreira de Souza, ouvidos na última quarta-feira - não tiveram suporte dos possíveis mandantes para fugir do local do assassinato, nem para ter acesso a bons advogados que os defendessem das acusações.

O depoimento de Cunha terminou pouco depois das 13 horas, quando o juiz que preside o júri determinou intrvalo para o almoço. Os trabalho à tarde começaram após as 14 horas, quando teve início um dos momentos mais demorados do júri, que é a leitura das peças do processo. Essa leitura se estendeu ao longo da tarde e noite de sexta-feira.

Primeiros dias

Público pôde acompanhar de perto o júri do caso Alexandre Martins, no Cineteatro da UVV Foto: TV Vitória

Nos quatro primeiros dias de julgamento, foram ouvidas as testemunhas arroladas pelo MPES e pelas defesas do coronel Ferreira e de Calu. No primeiro dia do júri, na segunda-feira, quem prestou depoimento foi o juiz Carlos Eduardo Ribeiro Lemos, que era amigo de Alexandre Martins e trabalhou com o magistrado durante dois anos.

Na terça, foram ouvidos o delegado Danilo Bahiense, chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na época do assassinato do juiz; o coronel Júlio César Lugato, ex-comandante da Polícia Militar do Espírito Santo; coronel Carlos Augusto de Oliveira Ribeiro, ex-diretor do Clube dos Oficiais; Neucimar Fraga, que era deputado federal e integrou a Comissão de Segurança da Câmara, que teve uma sessão especial sobre a morte de Alexandre Martins; e o coronel Luiz Sérgio Aurich, que foi chefe da Casa Militar. 

Já na quarta, foram ouvidos os dois condenados por executarem o juiz Alexandre: Odessi Martins da Silva, o Lumbrigão, e Giliarde Ferreira. E na quinta, as testemunhas foram o delegado André Luiz Cunha, que atuava na Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) na época do crime, e Mauro Juarez Nadvorny, perito criminal especialista em análise de voz, que garantiu que todos os suspeitos de envolvimento no assassinato do juiz disseram a verdade ao afirmarem que o crime foi latrocínio.

O crime

Alexandre Martins foi assassinado em março de 2003 Foto: Divulgação

Alexandre Martins de Castro Filho foi assassinado na porta de uma academia de ginástica em Itapoã, Vila Velha, no dia 24 de março de 2003. Na época, ele comandava investigações contra o crime organizado no Espírito Santo. 

Os acusados de serem executores do crime - Odessi Martins da Silva, o Lumbrigão, e Giliard Ferreira de Souza - foram presos, julgados e condenados a mais de 24 anos de prisão. Também foram condenados, como intermediadores do crime, os sargentos Heber Valêncio e Ranilson Alves da Silva; Fernandes de Oliveira Reis, o "Cabeção"; André Luiz Barbosa Tavares, o "Yoxito"; e Leandro Celestino dos Santos, o "Pardal". 

Durante todos esses anos, o processo se arrastou nos tribunais do Espírito Santo porque, além dos inúmeros recursos apresentados pela defesa dos acusados de serem os mandantes do crime, nove juízes foram considerados impedidos de julgarem o caso. Eles alegaram ter algum tipo de relação com uma das partes - ou réu ou vítima - e, por esse motivo, o julgamento poderia ser considerado sem validade.

O outro apontado pela polícia como mandante do assassinato é o juiz aposentado Antônio Leopoldo Teixeira, que ainda aguarda a tramitação de recursos junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).

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