Polícia

Promotor é acusado de abuso de autoridade após ameaçar funcionários dos Correios em Vila Velha

Segundo os servidores, Clóvis Figueira queria ser atendido antes do horário de abertura da unidade, na Prainha. PM foi acionada e perseguiu o carro do promotor pelas ruas da cidade

Confusão aconteceu na agência dos Correios na Prainha Foto: ​TV Vitória

Um promotor de justiça foi pivô de uma grande confusão, na manhã desta sexta-feira (26), em Vila Velha. Clóvis Figueira chegou a ser perseguido por policiais militares, pelas ruas do município, após ameaçar funcionários de uma agência dos Correios da Prainha, no mesmo município. Segundo testemunhas, o promotor exigia que os servidores fizessem um atendimento especial, só para ele, antes do horário de abertura da unidade.

Ainda de acordo com testemunhas, diante da recusa dos funcionários, Figueira teria se exaltado e discutido com eles. A Polícia Militar foi acionada para atender a ocorrência. No entanto, de acordo com a PM, o homem não quis saber de conversa e saiu com seu veículo em alta velocidade.

"Quando a guarnição chegou, fez contato com esse senhor, que se identificou como promotor. Porém a guarnição pediu os documentos de identificação dele como promotor e ele não apresentou. Ele foi extremamente rude, desacatou a guarnição, que tentou contê-lo, mas ele se debateu e chegou a agredir alguns policias militares. Depois entrou no veículo dele e evadiu-se", contou um dos policiais que participaram da ocorrência e que preferiu não ser identificado.

Clóvis Figueira teria se exaltado após funcionários dos Correios se recusarem a fazer um atendimento especial ao promotor, antes mesmo do início do expediente na agência Foto: ​Reprodução

Ainda segundo a polícia, os militares realizaram o acompanhamento do automóvel, que só parou na sede do Ministério Público, em Vila Velha. Durante a perseguição, outras viaturas da PM foram acionadas e deram ordem de parada ao veículo conduzido pelo promotor, que teria se recusado a parar.

"Primeiro a guarnição tentou fechá-lo e ele simplesmente jogou o carro para cima da guarnição e quase atropelou um militar. Além disso, ele quase atropelou também um pedestre", contou o policial.

De acordo com os militares que atenderam a ocorrência e testemunhas, durante a perseguição Clóvis Figueira ainda teria avançado pelo menos três sinais vermelhos. Um deles fica localizado em um cruzamento em frente a uma escola de ensino fundamental, onde estudam centenas de alunos.

Pedestre

Um eletricista, que andava pela região e também preferiu não se identificar, disse que quase foi atropelado pelo carro do promotor. O trabalhador decidiu registrar um boletim de ocorrência na Delegacia Regional de Vila Velha.

"Estava indo executar um serviço próximo à Igreja do Rosário, quando passou um Fiat em alta velocidade. Eu estava em cima da faixa [de pedestres], ele passou bem na minha frente e eu caí", contou.

Queixando-se de dor de cabeça, o eletricista disse que ainda procurou atendimento no hospital Antônio Bezerra de Faria, mas, segundo ele, não foi atendido porque não tinha ferimentos externos. "Eles alegaram que não era emergência", disse.

Ministério Público

Confusão foi parar no prédio do Ministério Público Estadual em Vila Velha, onde o promotor teria entrado e se recusado a conversar com os policiais militares Foto: ​TV Vitória

A perseguição continuou até o prédio do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) em Vila Velha. Segundo os policiais, o promotor entrou no imóvel e não quis ser abordado. "Ele correu para dentro do Ministério Público, se valendo da prerrogativa dele de promotor. Os militares foram ao Ministério Público e tentaram conversar com ele, mas a todo momento ele xingava a guarnição. Falou que não ia se portar a soldado, reclamou do fato de a gente estar armado e de estarmos indagando ele", contou o PM.

Os policiais disseram ainda que tiveram de encerrar a ocorrência por ordens superiores, após interferência da juíza Patricia Neves, que é amiga de Clóvis Figueira e estava no MPES no momento do incidente. "Nesse momento chegou a doutora Patrícia e ligou para o comandante-geral [da PM], determinando que ele tirasse todos os militares de frente do Ministério Público", afirmou o policial.

Mesmo com várias câmeras de segurança espalhadas pelo prédio do MPES, a equipe da TV Vitória/Record não teve acesso às imagens. Segundo os militares, o promotor se refugiou dentro do prédio e eles foram impedidos de entrar.

Já a reportagem da TV Vitória/Record conseguiu entrar no Ministério Público, porém não pôde fazer imagens dentro do local. A reportagem solicitou uma entrevista com o promotor alvo das acusações, mas, depois de muita espera, o pedido foi negado e a equipe foi orientada a procurar a assessoria de comunicação do Ministério Público Estadual. O MPES, a Polícia Militar, a Secretaria Estadual de Segurança Pública e o Tribunal de Justiça do Estado foram procurados para se manifestar sobre a ocorrência, mas todos recusaram os pedidos de entrevista.

Respostas

A juíza Patricia Neves foi procurada pela reportagem e, por telefone, alegou que não quis interferir no desfecho da ocorrência policial. Ela acrescentou que conhece o promotor de justiça há mais de 20 anos, mas que não usou o posto de magistrada para proteger o colega e amigo. Disse ainda que a única medida que tomou foi comunicar ao comandante-geral da PM sobre a grande movimentação de policiais militares na porta da promotoria, em Vila Velha.

Já o promotor Clóvis Figueira, também por telefone, disse que prefere deixar a assessoria de imprensa do Ministério Público Estadual se manifestar sobre o caso. A instituição, por meio da Procuradoria-Geral de Justiça, informou que está colhendo informações para apurar os fatos.

A assessoria de comunicação da Polícia Militar informou que um boletim de ocorrência foi confeccionado e entregue na Delegacia Regional de Vila Velha.

Com relação ao eletricista que quase foi atropelado pelo promotor, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que o paciente foi atendido e será encaminhado para o hospital São Lucas, para avaliação com neurologista.

Já a assessoria de imprensa dos Correios informou que a ocorrência aconteceu antes do horário de atendimento ao público e que chamou a polícia devido à "conduta inapropriada" do cliente. Os Correios ressaltam que o gerente da unidade prestou informações ao cliente e que o objeto foi entregue ainda nesta sexta-feira na casa dele.

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