Polícia

Revolta e comoção marcam velório de criança morta após agressões do padrasto em Cachoeiro

O corpo da criança foi liberado do Serviço Médico Legal (SML), no início deste sábado (26), e levado para o cemitério municipal do bairro Coronel Borges, em Cachoeiro

O velório de Kessily Vieira da Silva, de dois anos, aconteceu nesta tarde (26), no cemitário do bairro Coronel Borges, em Cachoeiro Foto: ​Alissandra Mendes

O sentimento entre os familiares da pequena Kessily Vieira Silva, de apenas dois anos, que morreu após sofrer agressões do padrasto, na noite da última sexta-feira (25), é de revolta.

“Quero que eles apodreçam na cadeia. Eles vão ter que pagar pelo que fizeram com a nossa pequena”, disse Luzia, tia da mãe da criança, Deidiane Oliveira Vieira, 26 anos, que foi presa junto com o companheiro, Paulo Nathan dos Santos Escramozino, de 20 anos.

O corpo da criança deu entrada no Serviço Médico Legal (SML) de Cachoeiro de Itapemirim no fim da manhã desta sexta-feira (25), mas só foi liberado no início da desta tarde (26) para o velório, que aconteceu no cemitério municipal do bairro Coronel Borges.

O laudo provisório aponta que a morte da criança foi causada pelas agressões sofridas no dia anterior. 

“Tentaram jogar a culpa em mim. Quase fui preso sem saber de nada. A Deidiane falou que deixou a menina comigo para trabalhar, mas não deixou. Tive que prestar depoimento na delegacia por causa disso. Agora, a verdade apareceu e ela vai ter que pagar por esse crime. Uma criança inocente e indefesa morrer dessa forma é revoltante”, disse o esposo de uma prima de Deidiane, que preferiu não se identificar.

Amigos e familiares da criança acompanharam o velório, que durou menos de três horas. Emocionados, eles permaneceram em pé ao lado do caixão. “Ela está com o rostinho todo machucado. Uma menina tão linda e o que estamos vendo agora nem se parece com aquela criança cheia de energia e sempre alegre. Estamos chocados com tamanha brutalidade e crueldade desses dois”, ressalta Roseli Almeida, vizinha da família.

Muito abalada, a mãe de Deidiane não conseguiu acompanhar o velório e o sepultamento da neta.

Padrasto e mãe são presos

Paulo Nathan dos Santos Escramozino foi preso pelas agressões que resultaram na morte da enteada Foto: ​Divulgação

A mãe da criaça, Deidiane Oliveira Vieira, e o companheiro, Paulo Nathan dos Santos Escramozino, foram presos pelo crime de maus tratos, seguido de morte.

Segundo o delegado Augusto Lago, responsável pelas investigações, a Justiça decretou a prisão da mãe e do padrasto e eles foram presos na noite desta sexta-feira, enquanto prestavam esclarecimentos sobre o caso na delegacia.

Depois de três versões dadas à polícia para proteger o companheiro, Deidiane disse que tinha saído de casa e deixado a filha com Paulo, que acabou confessando as agressões contra a criança.

“Ela era uma à toa. Não trabalhava e nem cuidava da filha, e ainda por cima, ficou defendendo esse criminoso. Ela é tão culpada quanto ele, pois ela sabia das agressões e não denunciou. Se o hospital não acionasse o Conselho Tutelar, ninguém ia ficar sabendo disso”, ressalta uma prima de Deidiane, que prefere não se identificar.

Por volta das 13 horas, o casal foi levado da Delegacia Regional para exames no SML de Cachoeiro e sem seguida, Paulo foi levado para o Centro de Detenção Provisória (CDP), e a mãe foi encaminhada ao Presídio Regional Feminino, também em Cachoeiro de Itapemirim, onde ficarão presos.

Mãe já havia sido presa

Deidiane é mãe de outros três filhos, sendo dois deles, gêmeos com deficiência. Eles moram com o pai na cidade de Macaé, no Rio de Janeiro. Familiares contaram que ela tem pouco contato com os filhos, que só moram com o pai pela facilidade de atendimento médico na cidade do norte fluminense. Outro filho, também mais velho que Kessily, mora com o pai em Cachoeiro de Itapemirim. Por morar na mesma cidade, a mãe tem mais contato com a criança.

O padrasto de Deidiane contou que ela morou por um período em Jerônimo Monteiro, mas sua família sabia pouco sobre sua vida. “Ela evitava ter muito contato conosco. Quando íamos falar, ela dizia que ninguém tinha nada com a vida dela. Então, ficávamos nosso canto, mas nunca deixamos de cuidar e dar amor para a Kessily”, conta.

Quando estava grávida da menina, Deidiane morava com o pai da criança em Jerônimo Monteiro. Ao Conselho Tutelar de Cachoeiro, ela contou que sofria muitas agressões do companheiro na época, e que ele tentou matar a filha depois do nascimento. Há dois meses, ele foi preso por tentar matar Kessily.
Nesse mesmo tempo, de dois meses, ela se mudou para Cachoeiro e foi morar embaixo da casa da mãe e do padrasto, na rua João Manoel do Nascimento, no bairro Alto Eucalipto.

“A criança nunca apresentou sinais de agressão. Nunca notamos nada de diferente. Ela ficava mais em nossa casa do que na casa da mãe. Não conhecemos esse cara. A Deidiane apareceu lá com ele e já foram morar juntos”, explica o padrasto.

Uma prima, que não quis se identificar, contou que Deidiane arrumava muita confusão e chegou a ser presa por atear fogo em um ônibus no ano passado. “Ela é barraqueira. Tudo tem que ser do jeito dela. Ela colocou fogo no ônibus porque o motorista não quis esperar por ela. Por isso, ninguém se mete na vida dela, porque ela gosta de confusão, mas para defender a filha que tinha sido agredida por aquela monstro, ela não quis arrumar confusão”, completa.

Agressões resultam em morte

Kessily Vieira Silva morreu após ser agredida pelo padrasto Foto: ​Reprodução

A pequena Kessily Vieira da Silva, completou dois anos no último dia 11. Ela foi levada pela mãe até o Hospital Infantil Francisco de Assis (HIFA) na noite de quinta-feira (24). Com lesões graves pelo corpo e vomitando sangue, foi encaminhada para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). O hospital acionou o Conselho Tutelar, que acompanhou todo o caso.

Além dos hematomas, ela apresentava marcas de mordida no pescoço. Ao ser questionada pela conselheira, Deidiane contou que ela tinha sido mordida por outra criança, mas a marca era de uma mordida adulta. Ela contou três versões. Disse que teria saído para trabalhar e tinha deixado a filha sob os cuidados de parentes.

“Ela estava fria o tempo todo. Perguntei o que ela estava sentido em ver a filha naquele estado, e ela disse que não podia fazer nada, como se fosse qualquer outra criança. Ela disse que foi agredida durante toda a gravidez pelo pai biológico, que está preso, mas não demonstrou sentimento de tristeza”, comenta a conselheira Elizabeth de Oliveira.

Ela foi levada para a Delegacia para prestar esclarecimentos, e avisou o companheiro, que não foi localizado pela polícia na manhã seguinte. À noite, ele foi até a delegacia prestar esclarecimentos e foi preso.

Pontos moeda