Polícia

Ex-marido suspeito de espancar e deixar mulher em coma é solto no Espírito Santo

As medidas protetivas concedidas pela Justiça do ES não foram suficientes para deter a fúria do homem que não estava satisfeito com o pedido de separação

A mulher está em coma há oito meses Foto: TV Vitória

Jamilly Santos de Carvalho, hoje com 30 anos, está em coma desde o dia 24 de setembro do ano passado. Ela foi parar nesta situação após ser espancada violentamente pelo ex-marido. 

Quando a vítima foi agredida, ela estava com o filho, que na época tinha seis meses. Após ser espancada, o suspeito fugiu e a deixou agonizando com a criança dentro de casa. Por conta da situação atual de Jamilly, toda a família se reveza para ajudar no tratamento. As dificuldades são diárias. 

“As fraldas geriátricas dela estão acabando, o governo não dá fralda pra gente. Até hoje, em todos os projetos que fomos nenhum se manifestou em dar. Eles dão as dietas e algumas medicações e outras a gente compra. As fraldas estamos vivendo de doação. Ela também tem dois filhos que temos que cuidar”, disse a prima da vítima, Cleonice Nascimento.

De acordo com a família, o responsável pela brutalidade que deixou Jamilly acamada é Cleiton dos Santos Costa. Inconformado com o fim do relacionamento, ele a perseguia e a agredia com frequência. 

Depois do espancamento, o acusado fugiu para a Bahia. Foram seis meses foragido até a prisão, na cidade de Pirajá, por uma equipe da Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher do Estado. Ele cumpriu a prisão temporária em um presídio capixaba, mas o alívio para a família durou apenas trinta dias, tempo em que Cleiton permaneceu detido. Ele está em liberdade desde o dia 29 de abril.

“É difícil a gente saber que um monstro daquele está nas ruas. Será que eles estão esperando ele fazer outra vítima, pior que a minha filha? Será que esse juiz e esse delegado, essas autoridades não viram a situação da minha filha? Como tiveram coragem de colocar um homem desse na rua?”, questionou a mãe de Jamilly, Neuzimara Santos.

Prisão 

Um novo pedido de prisão foi feito pelo Ministério Público dez dias antes da prisão de Cleiton vencer. Mas, segundo uma fonte do MP, quando a Justiça foi analisar o pedido, ele já estava em liberdade. Quando uma pessoa cumpre prisão temporária, o tempo máximo é de 30 dias.

“É inaceitável ver um juiz estipular uma fiança de R$ 20 mil diante de uma situação dessas. O que a gente quer é saber se esse juiz não tem mulher na família dele. Esse homem está solto para fazer outras vítimas. É uma injustiça total o governo falar que tem a lei Maria da penha, falar que tem que denunciar, você denuncia, a polícia pega e o juiz solta. Onde está a lei Maria da Penha? Ela foi agredida. Foi uma tentativa de homicídio. Ela está em estado vegetativo”, afirmou a prima.

A defesa de Jamilly está por conta da Defensoria Pública do Estado, através do Núcleo de Direitos Humanos. “Primeiro foi efetuado o pedido de interdição da Jamilly, por conta do estado dela. O próximo passo é pedir o ingresso na ação judicial na qualidade de defesa da vítima. Isso também vai ser feito para que seja acompanhado o desenrolar do processo e que seja assegurada a segurança e os direitos da vítima e dos familiares dela”, explicou a defensora pública Vivian Almeida.

Documento 

O suspeito foi solto após 30 dias de prisão temporária Foto: TV Vitória

Antes de ser espancada pelo ex-marido, Jamilly tinha a medida protetiva. Desde fevereiro de 2015 Cleiton estava proibido de se aproximar dela. Além de desrespeitar a decisão judicial, ele ainda a deixou em coma. Segundo a família, há pouco tempo Jamilly foi procurada para assinar uma intimação sobre agressões anteriores a que a deixou nesse estado. Foi a mãe dela quem teve que assinar o documento. “Foi sobre uma queixa que ela deu sobre o ex-marido, há um ano. Se eles tivessem reagido na época, talvez a minha filha não estaria em uma cama”, destacou.

A família tem esperança de ver Cleiton preso de novo. “O que eu quero é que ele não fique no meio da sociedade, que ele não possa ter o prazer de ter outra mulher com ele. Outra mulher com aquele homem está correndo o mesmo risco que a minha filha ou pior”, disse a mãe.

Mas do que a injustiça, a família teme outra coisa: que o pai entre com o pedido de guarda do filho. “O meu medo agora é que, assim como eles tiveram coragem de colocar um homem desses na rua eles também tenham a coragem de dar a guarda para os pais dele e um monstro daquele criar o meu neto”, contou.

Doações 

A família gasta muito com o tratamento e precisa de doação de faldas e de uma cadeira para que Jamilly possa sair um pouco da cama e do quarto. “A gente precisa de tudo, mas a cadeira vai proporcionar para ela uma qualidade de vida melhor. Ela vai poder pegar um sol de manhã, a tarde, pegar um vento, pois ela está trancada no quarto”, relatou a prima.

Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pela família, a mãe alimenta o sonho de ver de novo a filha saudável. “Eu tenho fé no nosso Deus que a minha filha vai levantar e no próximo ano ela vai me abraçar. Eu tenho fé”.

O Ministério Público Estadual informou que todas as medidas cabíveis foram tomadas. Já o Tribunal de Justiça se limitou a dizer que as medidas protetivas foram concedidas à vítima e um mandado de prisão foi expedido. Agora, o processo corre em segredo de Justiça e os questionamentos sobre a prisão temporária do acusado não foram respondidos. O fato é que, segundo a polícia, o pedido de prisão preventiva foi feito, mas não decretado.

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