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Polícia Civil desmantela uma das maiores quadrilhas de traficantes de Cachoeiro e 25 são indiciados

A ação, realizada pela Delegacia de Crimes Contra a Vida, começou há um ano, com a investigação de assassinatos ocorridos durante brigas de gangues pelo domínio do bairro Zumbi

Wagner Ferrari Santana é apontado como o chefe de um dos maiores bandos de traficantes de Cachoeiro Foto: ​Divulgação/PC

A Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Cachoeiro de Itapemirim indiciou 25 pessoas, suspeitas de integrarem uma das maiores quadrilhas de tráfico de drogas do município. As investigações duraram mais de um ano e 20 pessoas tiveram a prisão decretada pela Justiça. Wagner Ferrari Santana é apontado como o chefe do grupo, que tinha como alvo o domínio do tráfico no bairro Zumbi, o mais populoso da cidade.

Segundo o delegado responsável pelo caso, Guilherme Eugênio Rodrigues, as investigações começaram há mais de um ano, período em que foi feita, com a autorização da Justiça, a interceptação telefônica de Wagner. Em todo esse tempo, ele deu ordens ao grupo de dentro do presídio. “A ação começou com o objetivo de evitarmos um banho de sangue no Zumbi. A fase I da operação Bady Boys foi para tirarmos homicidas de circulação e acabamos chegando ao bando que disputava o domínio no tráfico no bairro”, explica o delegado.

Essa foi a maior operação da DCCV de Cachoeiro em oito anos. A maioria dos suspeitos indiciados na fase III da operação já estão presos e alguns mandados já foram cumpridos. “Com a prisão das lideranças do tráfico no bairro, a população está mais tranquila e tem a liberdade de ir e vir. Essas prisões representam uma melhora na qualidade de vida e na segurança dos moradores, que em sua maioria, são trabalhadores”, comenta o chefe de Investigação e Inteligência da DCCV, Maurílio Carvalho.

Ações da quadrilha

Após a prisão de integrantes da quadrilha rival, no início de 2015, o bairro Zumbi, com cerca de 20 mil habitantes, ficou vulnerável ao tráfico de drogas. Sabendo isso, Wagner Ferreira Santana, na época preso no Presídio Carlos Tinoco da Fonseca, em Campo dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, articulou com traficantes dos bairros de Cachoeiro para dominar o Zumbi.

A apreensão de armas em Mimoso do Sul foi uma das maiores do Espírito Santo Foto: ​Divulgação/PC

“Ele dava ordens de dentro da cadeia. Dias depois, houve uma fuga no Presídio, os detentos fugiram pela porta da frente. Na época, o Wagner não fugiu porque estava com a perna quebrada. Mas, três parceiros de cela deixaram o local. Nesse período, já estávamos monitorando o bando e sabíamos que estavam fortemente armados, mas não tínhamos descoberto o esconderijo”, explica Carvalho.

No dia 10 de setembro, a Polícia Militar realizou uma das maiores apreensões de arma da história recente do Espírito Santo. Após denúncias anônimas, os militares seguiram até a localidade Rancho Alegre, zona rural de Mimoso do Sul.  Ao se aproximarem de uma casa na região, foram recebidos a tiros.
Durante o tiroteio, Fabrício Rosa da Silva foi atingido e morreu no local. Ele era um dos parceiros de cela de Wagner. Os outros dois, também fugitivos do Presídio Carlos Tinoco da Fonseca, Vitorino Entringer e Thiago Moura Gonzaga também foram baleados, mas sobreviveram.

Durante a ação, foram apreendidos: um fuzil calibre 7.62, duas escopetas calibre 12, nove pistolas de calibres diversos, um revólver calibre 38, dois coletes balísticos, 2,965 kg de pasta base de cocaína, 40 gramas de maconha, 6,130 kg de explosivos, um veículo roubado do Rio de Janeiro, um veículo roubado de Guarapari, um rádio comunicador, uma luneta, 23 carregadores, três carregadores de fuzil, além de diversas munições diversas.

“Esse armamento seria usado para ‘tomar’ o Zumbi. Uma semana antes dessa ação, eles estiveram no bairro e efetuaram alguns disparos para mostrar o poder do bando”, ressalta o investigador. Após a fuga, Wagner foi transferido do presídio de Campos para Bangu 6, no Rio de Janeiro, mas continuou dando ordens aos comparsas de dentro da prisão.

Integrantes do bando

'Maicão' foi chamado para integrar o bando de Wagner  Foto: ​Divulgação/PM

Wagner queria recrutar o máximo de integrantes possível para o bando. O grupo recebia as ordens do chefe através de conversas no viva voz do celular. “Era uma quadrilha organizada. O Wagner escolhia qual integrante ia portar qual tipo de arma. Quando um caía, era identificado por ele rapidamente por causa da arma”, ressalta o investigador, que durou um ano trabalhou na interceptação do telefone de Wagner.

Um dos alvos para integrar o bando era Maycon Pereira Cardoso, que também já tinha tentado dominar o tráfico no Zumbi. Ele precisou de mudar da cidade após a morte do soldado da Polícia Militar, Eduardo Junior, morto a tiros no dia 10 de março de 2015. Na época, Maycon chegou a ser apontado como autor do crime, mas logo foi inocentado pela polícia. Desde então, ele passou a morar na Serra e dominava o tráfico em uma das regiões do município. Ele foi preso em agosto de 2015.

“O Wagner não conseguiu trazer o Maicão para o bando. Durante esse tempo, o bairro Zumbi foi tomado pelos constantes tiroteios e assassinatos foram registrados. Durante as escutas telefônica elucidamos homicídios, estupros e tráfico de drogas. Hoje, o Zumbi ainda vive a guerra do tráfico, e como os chefões estão presos, locais como o Alto Eucalipto, Bacia e Igrejinha ainda estão vulneráveis”, completa Carvalho.

Wagner confessa assassinato

Ao tomar conhecimento de que Wagner Ferrari Santana e Thiago Moura do Rosário tinham sido presos no Rio de Janeiro, com uma arma usada em dois assassinatos em Cachoeiro de Itapemirim, o delegado seguiu até Campos para ouvi-los. No dia 1º de novembro de 2011, no bairro Paraíso, eles assassinaram Hoverlandes Rosário da Silva. Um colega da vítima conduzia a moto CG Titan, de cor preta, e Hoverlandes estava no carona, quando foram surpreendidos pelos disparos feitos de um Corolla, de cor prata.

Wagner confessou a morte da testemunha chave contra supostos integrantes da organização criminosa capixaba, que era investigada pelo juiz Alexandre Martins Foto: ​Reprodução

No dia 03 de novembro, dois dias após o crime, Wagner e Thiago foram até Itapemirim e tentaram roubar uma carga de cigarros, mas em uma ação bem sucedida da Polícia Civil de Marataízes e de Itapemirim, eles tiveram o roubo frustrado e deixaram o Corolla, de cor prata, pra trás.

O veículo tinha sido tomado em assalto no dia 29 de outubro daquele ano por homens que estavam em um Corolla. No dia 12 de novembro, Rodrigo Veronez Ramos foi assassinado e um Corolla, de cor prata, foi usado no crime. Esse fato deixou a polícia na dúvida, já que um já tinha sido apreendido. Após investigações, a polícia conseguiu encontrar o outro Corolla e descobriu que a dupla tinha dois veículos iguais para cometer os crimes. 

O delegado ouviu Wagner no presídio de Campos, e lá ele confessou o assassinato do lavrador Manoel Corrêa da Silva Filho, dentro do antiga Presídio Monte Líbano, em Cachoeiro de Itapemirim, no dia 22 de novembro de 2002. 

Manoel Corrêa era uma testemunha chaves contra supostos integrantes do crime organizado capixaba, que eram investigados pelo juiz Alexandre Martins Filho, e foi morto horas depois de ser transferido da Grande Vitória para o Presídio em Cachoeiro. Quatro meses após a morte da testemunha, o juiz foi assassinado quando saía de uma academia em Vila Velha, no dia 24 de março de 2003. Wagner não apontou uma motivação clara para o assassinato.

“Foram uma investigação intensa, mas conseguimos identificar e indiciar os principais envolvidos no tráfico do município. A equipe de investigação da DCCV já vinha se empenhando para identificar todos os envolvidos do bando, que agora tiveram as prisões decretadas”, completa o delegado Guilherme Eugênio.

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