Política

Rui Falcão diz que governo "não é do PT", em entrevista à revista

Em um governo que é compartilhado por outros partidos num sistema de coalizão, Falcão afirmou que, no limite, a solução seria ou o governo incorporar mais o PT ou romper a imagem da legenda

Redação Folha Vitória
Presidente do PT reafirma que existem discordâncias entre o partido e o governo Foto: ​Divulgação

São Paulo - No dia em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou formalmente seu rompimento com o governo Dilma Rousseff, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, divulga em seu perfil no Facebook entrevista que concedeu à revista Caros Amigos.

Na entrevista, Falcão reforça que existem discordâncias entre o partido e o governo e que a presidente Dilma Rousseff sabe disso. O dirigente admite que essas diferenças de visões se evidenciaram no congresso da legenda, em junho, em Salvador, e chega a dizer que o governo não é propriamente do PT. "Não vamos ser linha auxiliar da oposição, mas também não vamos ser beija-mão da situação. (...) Não estamos de acordo com tudo e a presidenta sabe disso. O governo não é um governo 'do' PT."

Questionado se o processo atual leva a um desgaste maior do PT, em um governo que é compartilhado por outros partidos num sistema de coalizão, Falcão afirmou que, no limite, a solução seria ou o governo incorporar mais o PT ou romper a imagem da legenda com a do governo mais claramente - há algum tempo petistas reclamam da perda de espaço para o PMDB.

"A outra solução seria ou a incorporação do PT pelo governo, ou o rompimento do PT, quer dizer, na medida em que a gente não confunde mais, como muita gente confundia, o partido com o governo, o partido com o Estado, não há como estar ajustado em tudo, porque o governo tem um mandato, (...) tem uma série de injunções institucionais (...), que é uma dinâmica diferente do partido."

Em outro trecho, Falcão atribui ao sistema de coalizão a dificuldade do governo de fazer reformas nos últimos 12 anos, como a política ou a democratização dos meios de comunicação. Ele afirma que o partido é minoria na composição governista. "O governo não é um governo que tem predomínio do PT. É um governo dito de coalizão e nas circunstâncias atuais, nós somos quase minoria do governo", diz.

Em relação ao funcionamento do Legislativo, o dirigente afirma que o Congresso pressiona o Executivo, "opera o tempo todo para forçar concessões". Ele dá como exemplo a postura de Cunha ao declarar, quando assumiu a presidência da Câmara, que não deixaria votar na Casa nenhum processo relacionado à democratização da mídia ou a costumes - como a questão do aborto.

Falcão também falou do reencontro do PT com suas origens. O presidente da legenda admitiu que as "instâncias partidárias foram se esvaziando". "O problema é que nós passamos a privilegiar excessivamente o que é chamado de luta institucional", disse, ao comentar o foco do partido no governismo.

Ele afirmou que, desde o congresso da legenda, o partido faz mais abertamente esse processo de autocrítica, da necessidade de se reaproximar dos movimentos sociais e da volta às origens do partido. E diz que é preciso levar esse raciocínio também para a área econômica. "Vamos começar a fazer uma crítica do capitalismo em escala mundial, que hoje é etapa do neoliberalismo." O dirigente completou dizendo que um governo não pode praticar apenas o chamado "melhorismo", mas ter uma "perspectiva de transição para outro tipo de sociedade".

Superávit

Na entrevista, Rui Falcão voltou a defender que seja revista a meta de superávit primário e pressionou para que isso seja feito pelo governo ainda neste mês. "Está claro, a gente já dizia isso no começo do ano, você não vai atingir o superávit de 1,2 (porcento do PIB) até o final do ano. Então, o momento de rever é agora. Antes que a situação real te faça rever, é melhor corrigir agora em julho."

Falcão argumenta que a revisão ajudaria a evitar uma recessão econômica e defende ainda a ideia de uma banda de flutuação para a meta de superávit, como há na meta de inflação perseguida pelo Banco Central.

"Por que o Banco Central pode ter meta de inflação variável e, se não cumpre a meta, não tem nenhuma punição para o Banco Central? Agora, para o fiscal, se você não atinge o fiscal, pode ficar em dificuldades no governo, você pode ser 'impichado'. Então, podia ter um regime do fiscal de metas também, de 0,5 a 2, de 0,8 a 1,5 (porcento do PIB)."

O dirigente também afirmou que é preciso "conter a política de juros", com uma argumentação de que não há hoje inflação de demanda e não há até mesmo uma expectativa de inflação alta - o boletim Focus desta semana, que traz previsões de mercado para a economia, mostrou que a estimativa para o IPCA deste ano está em 9,12%, bem acima do teto da meta de 6,5%.

Eleições

Falcão disse não ver a perspectiva de o PT não ter um cabeça de chapa para sucessão de Dilma em 2018. Ele argumentou que Lula "continua a ser uma grande liderança", mas que o partido também tem outros nomes como os ministros Jaques Wagner (Defesa), Aloizio Mercadante (Casa Civil), o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Sobre as eleições municipais em 2016, Falcão disse não acreditar que "o PT vá ser varrido do mapa" e sugeriu revigorar o PT e popularizar um antigo slogan da legenda: "o PT é bom de governo".

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