Política

Em São Paulo, Grito dos Excluídos destaca crítica a Temer

Redação Folha Vitória

São Paulo - Pela primeira vez desde que surgiu, há 22 anos, o Grito dos Excluídos levou às ruas nesta quarta-feira, 7, um tema mais ligado à política e focou suas manifestações no novo governo de Michel Temer. Historicamente, as manifestações têm como temas direitos humanos, como o direito à terra, em 2011, ou da juventude, em 2014.

Para o coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, um dos líderes e organizadores do Grito dos Excluídos, "Fora Temer" e "Nenhum direito a menos" são as pautas das ruas neste momento.

Para o militante, o plano de governo do presidente Michel Temer vai levar milhões de pessoas à exclusão social. "Por isso estamos hoje pelo 'Fora Temer', porque não queremos chegar no ano que vem com o Grito dos Excluídos com ainda mais pessoas excluídas do emprego, do acesso à saúde, da educação, da moradia popular", afirma.

Só na capital paulista, o protesto reuniu 15 mil pessoas, de acordo com a organização. A Polícia Militar não fez estimativa de público. Militantes de partidos, movimentos sociais, mulheres, jovens e famílias se reuniram às 9h na Praça Oswaldo Cruz, e depois seguiram pela Avenida Paulista e desceram pela Avenida Brigadeiro Luis Antônio, até chegar ao Parque Ibirapuera, por volta de 12h30.

Com palavras de ordem pedindo o fim do presidente Michel Temer, os manifestantes atravessaram a cidade com bandeiras de movimentos sociais e organizações em punhos. "É bastante importante esse 22º Grito dos Excluídos, pelo momento político em que ele ocorre", avalia Kelli Mafort, dirigente nacional do Movimento dos Sem Terra, que também participou do ato.

A líder acredita que os protestos e manifestação vão se intensificar nas próximas semanas. "Não tenho dúvida que está acontecendo uma retomada dos processos de luta. Com a consolidação do golpe, há um processo de retomada desse processo de rua, das manifestações", diz Malort.

Por volta de meio dia, o atual prefeito e candidato à reeleição pelo PT, Fernando Haddad, acompanhado do ex-senador e candidato à vereador, Eduardo Suplicy, se juntou ao protesto. "Tietados" por manifestantes e por fotógrafos, eles seguiram até o Morumbi na fileira da frente, com boné do MST, carregando faixa com dizeres "Fora Temer, não ao golpe". Outros políticos petistas, como a vereadora Juliana Cardoso, também participaram do ato.

Diretas Já

Quando não estavam entoado canções de protesto ou palavras de ordem contra o presidente, manifestantes e organizadores no carro de som falavam em "Diretas Já". Ex-secretário dos Direitos Humanos da gestão Haddad, Suplicy voltou a defender a realização de eleições diretas como a "solução mais sensata".

"Michel Temer tem que se dar conta de que para ele, de fato, pacificar e unificar o país, ele tem que convocar uma consulta popular no dia 2 de outubro, quando todos os eleitores estarão juntos às urnas", disse o candidato petista. Suplicy acredita que, caso a população decida pelas eleições diretas, o pleito deve ser convocado por Temer até dezembro deste ano.

Repressão

Durante as quase quatro horas de manifestação, não houve nenhuma ocorrência registrada pela Polícia Militar. Bem diferente do protesto de domingo, que acabou com bomba de gás lacrimogênio no metrô e a prisão de 26 pessoas, dentre elas dez menores de idade - todas soltas no dia seguinte. A sentença do juiz falava que o Brasil não pode legitimar "prisão para averiguação".

"É da natureza de governos autoritários e ilegítimos, que chegam ao governo sem voto, reprimir manifestações, usar a força", afirma o coordenador da CMP.

"Toda ação terá uma reação. Então nós continuaremos nas ruas, nos manifestando hoje, amanhã, domingo", concluiu. Os organizadores chamaram para um novo protesto contra o presidente na quinta-feira, às 18h, no Largo da Batata.

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