Política

Capixaba investigado na Operação Greenfield é citado na delação da JBS

Segundo o delator, Lacerda o teria apresentado a um representante comercial do Espírito Santo, que seria responsável pelo recebimento dos pagamentos

Guilherme Lacerda foi citado na delação de Joesley  Foto: Reprodução UEG

O empresário Joesley Batista, do Grupo JBS, citou o nome do capixaba Guilherme Lacerda em sua delação à Procuradoria-Geral da República. O ex-presidente do Fundo de Pensão dos Funcionários da Caixa (Funcef) também apareceu como um dos investigados na Operação Greenfield, deflagrada em setembro do ano passado. Ele chegou a ser conduzido para a sede da Polícia Federal, em Vila Velha, para prestar esclarecimentos. Além disso, ele foi apontado na Lava Jato por intermediar propina ao PT.

De acordo com informações divulgadas pelo Estadão, o capixaba estaria no meio de negociações de propina. Na declaração de Joesley, ele aponta que pagou entre março de 2010 e julho de 2015 propina de R$ 2.700.841,94 a Wagner Pinheiro, então presidente da Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. Seu sucessor, Luis Carlos Afonso, segundo o delator, levou US$ 1,5 milhão ‘na forma de transferência de propriedade de um apartamento em Nova York’. Os valores, segundo o delator, saíram do porcentual de 1% sobre a constituição do Fundo FIP-Florestal.

Joesley afirmou que em 2011, com a incorporação da Eldorado pela Florestal, ele pagou US$ 1,5 milhão para Luis Carlos Afonso, na forma de transferência de propriedade de um apartamento em Nova York. “Além do apartamento, o depoente transferiu para Luis Carlos aproximadamente o valor de US$ 5 milhões. Parte desse valor refere-se à propina de 1 % da operação com o Petros e parte refere-se a transferência feita pelo depoente a pedido de Vaccari, o qual, em algumas oportunidades, ‘pediu emprestada’ a conta da offhore titularizada pelo depoente para transações relativas a esquemas próprios; que em razão dessa operação envolvendo J&F e Petros o depoente não realizou pagamentos a Carlos Costa”, contou.

Guilherme Lacerda, relatou o empresário da JBS, apresentou "a pessoa de nome de João Basco, representante comercial baseado no Espírito Santo, dizendo que o acerto dos pagamentos deveria ser com ele". “João Basco emitiu, então, notas fiscais falsas de representação comercial contra empresas do grupo JF. Sobrevindo sucessão nas presidências dos dois fundos, Carlos Casé, sucessor de Guilherme Lacerda na Funcef, rejeitou oferta de JB de continuidade dos pagamentos”, narrou.

No termo de colaboração número dois, intitulado ‘Fundos de Pensão’, Joesley detalhou o caminho do dinheiro. O empresário disse que no primeiro semestre de 2008 montou operação que envolveu a aquisição, pelo BNDES, a Funcef e o Petros de 12.99% do capital da JBS, por US$ 1 bilhão, para o plano de expansão da JBS naquele ano. Joesley declarou que BNDES, Funcef e Petros montaram, nessa operação, o fundo Prot (de proteína), para financiar a capitalização da JBS.

Joesley Batista fez a delação na PGR Foto: Reprodução

Guilherme Lacerda era o então presidente da Funcef. Vagner Pinheiro, da Petros. O delator contou que ‘acordou’ com Guilherme Lacerda e Vagner Pinheiro, “1% para cada qual no valor de cada operação posterior à constituição do PROT que a JBS conseguisse obter junto aos fundos”.

Joesley narrou ainda que durante acertos para a constituição do PROT, Guilherme Lacerda indicou que ele deveria estabelecer relacionamento mais próximo com Paulo Ferreira, do PT, “tendo em vista que o partido exercia influência, nos órgãos de deliberação coletiva de ambas as entidades, sobre os integrantes indicados por sindicatos”.

Segundo o empresário, Paulo Ferreira o apresentou a João Vaccari.“João Vaccari recomendaria as operações de interesse do Grupo J&F aos dirigentes dos fundos sob sua influência, e o depoente pagaria ao PT o valor de 1% de cada operação que a J&F conseguisse obter junto aos fundos. O depoente deseja ressaltar que, apesar do envolvimento político do primeiro escalão do Governo junto ao BNDES e Fundos, nunca houve interferência ou qualquer vantagem do depoente ou de qualquer executivo ou funcionário do Grupo J&F na área técnica, seja em valor de mercado de ações negociadas ou em avaliações das empresas investidas”, relatou aos investigadores.

O empresário contou também que em 2009, “o Grupo JBS incluía empresa denominada Florestal, plenamente operacional’”. “Funcef e Petros interessavam-se em investir em empresas de reflorestamento, já havendo, inclusive, tentado parceria com a Vale para essa finalidade. JB (Joesley Batista) entrou em acordo com Guilherme Lacerda e Vagner Pinheiro para ampliar as atividades da Florestal”, registra o anexo de delação de Joesley Batista.

Ele ainda afirmou que “o veículo de investimento foi a constituição de fundo, denominado Fundo FIP-Florestal, em que cada fundo aportou cerca de R$ 275 milhões e a J&F e Marie Celso aportaram as ações da empresa Florestal. Salienta-se que, em 2010 ou em 2011, Funcef e Petros acabaram estabelecendo parceria com a Vale em moldes análogos Constituído o Fundo FIP-Florestal, o depoente pagou 1% para Guilherme Lacerda e Vagner Pinheiro”, afirmou.

Outro lado

Em nota enviada ao jornal Estadão, o advogado de Guilherme Lacerda, Rafael Favetti, disse que “ele está tranquilo sobre a correção de sua gestão na Funcef”. “Em referência à delação de Joesley Batista, do Grupo JBS, informamos que o ex-dirigente da Fundação dos Economiários Federais (Funcef), Guilherme Lacerda, não foi beneficiário do suposto sistema de propinas descrito pelo empresário. Como prova, tem-se a extensa investigação conduzida pela Polícia Federal no curso da Operação Greenfield, comandada pelo próprio Ministério Público Federal, que concluiu não ter havido variação patrimonial irregular do ex-dirigente”, destacou a nota.

O Folha Vitória tentou contato com os advogados de Guilherme Lacerda, mas não obteve retorno.

As informações sobre a delação da JBS são do Estadão.

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