
Há muitas formas de fazer arte na contemporaneidade, além das chamadas artes liberais ocidentais. Esta semana fui conhecer uma dessas outras formas, a arte de plantar – na Horta Comunitária Quintal na Cidade, que se localiza na rua Abílio Santos, ao lado da cúria, centro de Vitória.
O convite já tinha sido feito duas ou três vezes em encontros com pais e mães que ficam esperando os filhos brincarem na praça Ubaldo Ramalhete, mas somente agora atendi ao chamado e fui lá. Fui lá, me encontrar com pessoas que têm o espírito de cuidar de uma horta em espaços públicos e ainda convidar outras para viver essa experiência.
A Horta Comunitária Quintal na Cidade é uma pequena extensão de terra entre duas ou três casas onde um grupo de pessoas desenvolvem, há quase dez anos, um pequeno grande projeto: transformar um terreno baldio, íngreme, antes tomado pelo lixo, em um ponto de convivência, de aprendizado e de alimentação saudável por meio do cultivo de hortaliças, de flores e de frutas.
Lá encontrei artesãos, engenheiros de alimentos, ecologistas, arte educadores e outros profissionais, moradores da região e de outros bairros, exercendo o velho ofício de “arar” a terra. Mensalmente, eles fazem um encontro-mutirão para plantar, fazer compostagem, colher hortaliças e frutas, conversar, tomar café, enfim, viver e retomar essa prática que fundou a nossa sociedade e confirmar vínculos.

Cultivar a terra foi uma das primeiras revoluções da humanidade. A prática contribuiu para seu crescimento, sua fixação nos diversos lugares e formação social. Mas o crescimento vertiginoso das cidades transformou esse ofício cotidiano em indústria e tornou-o distante de muitas pessoas. A ponto de nossas crianças hoje serem educadas a não pisarem no chão, não se sujarem de terra, não brincarem nomato.
Hoje, plantar com as próprias mãos e, sobretudo na cidade, tornou- se um ato poético, um ato de resistência. De resistência sim, mas também poético. Ato com o qual aprendemos a tratar não somente da agricultura como aquisição do alimento físico mas também do alimento espiritual. Pois é no ato poético que se entende que alimentar o corpo é alimentar também a mente.
Sobre uma mesa colorida, encontrei frutas frescas, banana da terra e batatas cozidas, mamão, maçã, abacate, pão, biscoitos e uma deliciosa conversa. Daquelas que não acabam logo. Voltei pra casa com rúcula e jiló na bolsa e com a tarefa de pintar a placa de entrada da horta, missão que aceitei com satisfação. Fui conhecer a Horta Comunitária Quintal na Cidade e voltei alimentado.