Mercado de produtos usados acelera com negócios de nicho

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Na tendência da economia circular, produtos com potencial de revenda ganham relevância e consumidores recorrem a marketplaces de segunda mão para pagar menos.

Quando se fala em mercado de usados e seminovos, logo se remete ao setor de automóveis. No entanto, há uma tendência global de recolocar diversas categorias de produtos – muitas com ticket médio muito menor do que um carro – na economia circular. Neste contexto, surgem cada vez mais negócios visando a revenda de artigos de segunda mão, especialmente nos meios digitais.

Um tipo de empreendimento que tem ganhado relevância neste contexto é o brechó online. Através de plataformas próprias de e-commerce, marketplaces especializados ou simplesmente com páginas em redes sociais, muitos empreendedores estão vendendo produtos usados (de própria posse ou revendendo o que recebem por meio de suas conexões).

Estes negócios acabam concorrendo, direta ou indiretamente, com as grandes plataformas de compras e vendas. É o caso da OLX, do Mercado Livre e tantos outros marketplaces. O problema é que, nestes sites generalistas, produtos novos se misturam com usados, e artigos de milhares de categorias disputam a atenção do consumidor.

Um negócio de nicho na economia circular

Neste contexto, empreendedores devem se atentar aos nichos de mercado que podem se enquadrar na economia circular. Ou seja, ao focarem em uma categoria específica de produtos de segunda mão, os negócios nichados conseguem promover uma experiência mais positiva ao cliente que sabe o que procura.

É o caso da startup Voit. Trata-se de um marketplace de produtos esportivos usados, em que os clientes podem comprar ou vender artigos ociosos de dezenas de modalidades. O diferencial do negócio é entender que o mercado esportivo tem necessidades específicas que não são pensadas em plataformas generalistas de segunda mão.

“Encontrei uma fricção muito grande ao tentar vender produtos esportivos em plataformas generalistas. Não tem uma jornada pensada em quem pratica esportes”, diz Gustavo Bakai, CEO e fundador da Voit, em entrevista exclusiva.

Segundo o empreendedor, um esportista precisa de informações que vão além do padrão do mercado. Para comprar um par de tênis de corrida, por exemplo, não basta saber a marca e o tamanho do modelo. Informações como nível de amortecimento e categoria de pisada são essenciais e evitam uma longa troca de mensagens durante a negociação.

Gustavo Bakai crê que o mercado brasileiro está maduro em relação à compra e venda de produtos de segunda mão. “Quando o Enjoei começou a desbravar este mercado, as pessoas costumavam achar errado vender o produto usado. Foi todo um processo de educar o consumidor de lá para cá”, diz o empreendedor.
Agora, no entanto, o momento é positivo para quem encontrar um nicho com potencial para aproveitar a tendência de crescimento da economia circular. A Voit revelou que se baseia em dados como o tamanho do mercado de produtos esportivos no Brasil: R$17 bilhões por ano em produtos novos, e apenas R$ 3 bilhões em usados. Além disso, 45% dos brasileiros desistem de um esporte apenas seis meses após começar a praticar. Quantos artigos esportivos seminovos estão sem uso no país?

Uma mudança na mentalidade de consumo

Uma pesquisa da ThredUp com consumidores dos EUA identificou que 40% das pessoas no país consideram o valor de revenda de um produto antes de comprá-lo, de modo a reaver parte do dinheiro gasto quando o artigo cair em desuso.

Ou seja, estamos caminhando para o fim da era da “obsolescência programada”. Cada vez mais são valorizados produtos com alta durabilidade em detrimento às marcas que adotam a estratégia de desenvolver artigos de má qualidade para incentivar a recompra. A mesma pesquisa prevê, inclusive, que o mercado de segunda mão no setor da moda irá ultrapassar o valor global do “fast fashion” em apenas cinco anos.

Ao mesmo tempo, com a tendência de recolocar produtos no mercado, há a renovação de um velho categoria de transação: a troca. É nisso que acredita Luiz Fernando Gerber, fundador da startup curitibana Finpli. O empreendedor identificou uma demanda, principalmente nos marketplaces generalistas, de clientes querendo trocar produtos usados ao invés de optar pela compra e venda.

Além disso, Luiz Fernando também monitorou grupos de trocas de usados nas redes sociais e percebeu que, além de demanda, havia ali diversos problemas a serem resolvidos. “Só na região de Curitiba, identificamos mais de 50 mil pessoas em grupos de troca de produtos nas redes sociais. Estamos monitorando o comportamento desse público há mais de um ano e chama atenção alguns aspectos, como a falta de confiança (pessoas que confirmam a compra e não aparecem), o desequilíbrio entre oferta e demanda e a desorganização de uma forma geral na negociação”, revela o empreendedor.

A Finpli surgiu para resolver estas dores. O negócio funciona por um aplicativo que conecta pessoas querendo trocar serviços ou produtos através de geolocalização. Além de auxiliar na economia circular, a startup também tem como missão colocar desbancarizados e a população sem cartão de crédito dentro deste mercado.

“O comportamento do consumidor a respeito da economia circular ainda está mudando. Ações no sentido de educar o público sobre o impacto positivo no ambiente e a possibilidade de ele melhorar sua economia pessoal são importantes”, resume o empreendedor.

 

Fonte: por João Ortega https://www.whow.com.br/tag/economia-circular/

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